"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

abril 18, 2013

Na contramão


Na contramão do mundo, o Brasil teve ontem que aumentar sua taxa básica de juros. Foi o remédio amargo que restou à gestão petista como forma de sinalizar alguma preocupação com a inflação.

 Tímida, a elevação da Selic não deve ser suficiente para moderar a persistência da alta de preços no país. 

O Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu subir a taxa básica em 0,25 ponto percentual, para 7,5% ao ano. É a primeira alta desde julho de 2011. A taxa vigorará até o fim de maio, quando, segundo preveem analistas, deverá voltar a aumentar, provavelmente para 7,75%.

Há quem diga que a escalada só irá parar quando a Selic chegar a 8,5%, ainda ao longo de 2013.


Com a alta, o Brasil continuou a figurar entre os cinco países com mais altos juros reais do planeta, com 1,7% ao ano, atrás de Argentina, China, Rússia e Chile. Entre as 40 economias monitoradas pelo site Moneyou, 22 praticam taxa negativa. Na média, o juro real no mundo é hoje de -0,3%. 

 
O Brasil se viu forçado a aumentar seus juros básicos no mesmo momento em que o mundo todo caminha na direção contrária: 
desde o fim do ano passado, nenhum banco central ao redor do planeta subiu sua taxa e oito a reduziram.

É lamentável.
Mas por que chegamos a esta situação?

O aumento dos juros tornou-se a única arma de que o governo petista dispõe para tentar controlar a ascensão disseminada dos preços no país.

A gestão Dilma alimentou por muito tempo a sensação de leniência com a inflação, flertou com teorias furadas de crescimento econômico e desdenhou de medidas que poderiam ter minorado a alta dos preços e, consequentemente, tornado a elevação da Selic desnecessária.

Com essas atitudes, a administração petista permitiu que as expectativas quanto à continuidade dos reajustes se disseminasse na população. Se o governo não consegue demonstrar que preza pela estabilidade da moeda, tão arduamente alcançada 20 anos atrás com o Plano Real, ninguém haverá de crer que os preços ficarão comportadinhos.

O efeito manada detona reações em cadeia, do investidor ao supermercadista, passando pela dona de casa e a manicure.
Neste ambiente, a inflação namora o risco de disparada. 

 
Sendo realista, felizmente o processo inflacionário no Brasil ainda não resvala na ameaça de descontrole, que já se abate sobre países como a Argentina e a Venezuela - cujos modelos econômicos os petistas tanto amam adorar.

Mesmo assim, exige combate decidido, convincente, claro do governo.
Algo que não temos visto. 

 
Há, além dos juros, alternativas para tentar segurar a inflação, mas todas são indigestas para um governo que só pensa e age eleitoralmente.
É o caso da restrição ao crédito e da valorização do real. 

 
Outras, a gestão petista não tem mostrado a menor capacidade de realizar, como é o caso da diminuição dos gastos da máquina pública - ao contrário, o que temos agora no horizonte é a possível redução do superávit fiscal deste e do próximo ano.

Empreender melhorias estruturais no país, então, nem pensar. 
Mudanças que reduzissem a carga tributária global e não apenas a de setores escolhidos; aperfeiçoamentos institucionais que destravassem negócios e implodissem a burocracia; recuperação imediata das condições de infraestrutura e logística?

Com o PT, esquece.


Com a má condução do país, a gestão Dilma já colheu dois péssimos resultados na economia em seu biênio inicial, ombreando-se ao desempenho medíocre do governo Fernando Collor.

Transformou o Brasil num caso ímpar na conjuntura internacional, com crescimento pífio e inflação elevada. 

 
Neste beco sem saída, acuado pela inflação e com seus juros básicos em alta, o país pode agora ter que se deparar também com nova piora nas condições globais, para a qual o FMI alertou ontem e que também pesou na decisão do Copom.

Se o vento já não era favorável, imagine agora...
Com o PT, o Brasil parece estar sempre andando na direção contrária.

Fonte: Instituto Teotônio Vilela 

Na contramão

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