"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

dezembro 11, 2012

Uma nota de três reais



A cada nova mani­festação oficial do PT a respeito da situação políti­ca nacional fica mais evidente seu desapreço à verdade e à coerência, das quais, desde sempre, o lulopetismo se autoproclama monopolista.

Não fu­giram à regra as declarações do presidente nacional da legenda após a reunião da Executiva na­cional, na semana passada. Rui Falcão repetiu basicamente as mesmas bravatas, as mesmas mistificações e as mesmas pro­messas que o PT. proclama há mais de 30 anos, sem mudar na­da de essencial num discurso que omite, é claro, o fato de que há pelo menos uma déca­da, desde que chegou ao gover­no da União, mudou essencial­mente sua prática política.

Em outras palavras, o partido "dos trabalhadores", que nasceu com o alardeado compromisso de reformular profundamente um sistema político armado pa­ra beneficiar as "elites", aliou-se ao que há de pior no coronelismo brasileiro.

Em nome da "governabilidade" loteou a ad­ministração federal e arquite­tou um atrevido plano de com­pra do apoio dos "300 picare­tas" do Congresso. Abriu espa­ço para seus próprios picaretas atuarem livremente na tarefa de colocar o governo a serviço de interesses privados. Em re­sumo: o PT prega uma coisa e faz outra.

Encontra, porém, uma justifi­cativa para malfeitos, como a corrupção de parlamentares condenada pelo STF: tudo é parte da "missão histórica" de lutar pelos oprimidos. Assim, por se colocar do lado do Bem, o PT tem moral para cometer atos que só parecem condená­veis aos olhos do verdadeiro Mal: as elites opressoras e a burguesia egoísta.

Aí vem Rui Falcão e protesta:
querem des­truir o PT numa campanha que "estimula o preconceito contra a política". Como se o PT já não se tivesse encarregado de estimular vivamente o precon­ceito contra a política, primei­ro, ao descrevê-la como domi­nada por "picaretas"; depois, já no poder, em vez de tentar aca­bar com os "picaretas", ao esco­lher o caminho mais fácil de pu­ra e simplesmente suborná-los.

É claro que as falácias lulope-tistas só prosperam porque plantadas no campo fértil da ig­norância e da desinformação. Assim, uma vez denunciadas, parece mais impressionante do que elas o sentimento de pro­gresso material de um impor­tante contingente de brasilei­ros antes mantidos à margem do consumo. É inegável essa conquista social dos governos petistas e impõem-se, a todos, o dever de lutar para ampliá-la.

O que não se pode admitir é que o mérito dessa e outras rea­lizações seja usado como pre­texto para elidir o enorme de­mérito que significa atrelar o projeto de poder do PT à depre­ciação de valores democráticos e verdadeiramente republica­nos, como a independência da representação popular (que não pode ser comprada); o res­peito às prerrogativas constitu­cionais dos poderes (que não podem ser contestadas confor­me as conveniências); e a im­pessoalidade da administração pública (que não pode ser transformada em repasto de companheiros e companheiras e mero instrumento de poder).

No exercício do poder, o lulo-petismo aproveita-se cinica­mente do fato de a massa popu­lar estar mais preocupada com o próprio bolso do que com questões republicanas. E so­mente a partir de níveis míni­mos de educação, de informa­ção e da consequente conscien­tização política que o simples consumidor se transforma em cidadão capaz de ter o domínio de seu próprio destino. Se a educação não encontra nos go­vernos o nível mínimo de prio­ridade que a verdadeira cons­ciência democrática exige, pelo menos a informação precisa continuar circulando.

E é exata­mente por essa razão - por te­mer os efeitos que, mais cedo ou mais tarde, a informação so­bre suas falácias e mistifica­ções cale na consciência dos brasileiros - que os petistas odeiam a imprensa livre e, mais uma vez, proclamam a ne­cessidade de "regulamentá-la". De novo, dissimulam sua verda­deira intenção: aplicar aqui, em maior ou menor grau, a censu­ra praticada pelo decrépito regi­me cubano, pelos regimes "bolivarianos" da Venezuela, Equa­dor e Bolívia e pelo regime sui generis da Argentina. Em resu­mo, o discurso petista é falso como uma nóta de três reais.

O Estado de São Paulo 

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