"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

dezembro 11, 2012

CAMUFLADOS COMPARTILHANDO : A NÁUSEA OU : ("Questões conflitantes rondam minha cabeça/ devo pedir cianureto ou champanha?")


O grande Cole Porter tem uma letra de música que diz: "Conflicting questions rise around my brain/ Should I order cyanide or order champagne?" ("Questões conflitantes rondam minha cabeça/ devo pedir cianureto ou champanha?").

 Sinto-me assim, como articulista. 
Para que escrever? 
Nada adianta, nada. 
E como meu trabalho é ver o mal do mundo, um dia a depressão bate. 

A náusea - não a do Sartre, mas a minha. Não aguento mais ver a cara do Lula, o homem que não sabe de nada, talvez nem conheça a Rosemary, não aguento mais ver o Sarney mandando no País, transformando-nos num grande "Maranhão", com o PT no bolso do jaquetão de teflon, enquanto comunistas e fascistas discutem para ver quem é mais de "esquerda" ou de "direita".

Com o Estado loteado por pelegos sem emprego, não suporto a dúvida impotente dos tucanos sem projeto; não dá mais para ouvir quantos, campos de futebol foram destruídos por mês nas queimadas da Amazônia, enquanto ecochatos correm nus na Europa, fazendo ridículos protestos contra o efeito estufa; não aguento mais contar quantos foram assassinados por dia, com secretários de segurança falando em "forças-tarefas" diante de presídios que nem conseguem bloquear celulares.

Não suporto a polêmica nacionalismo-pelego x liberalismo tucano, 
tenho enjoo de vagabundos inúteis falando em "utopias", 
bispos dizendo bobagens sobre economia, 
acadêmicos decepcionados com os "cumpanheiros" sindicalistas, 
mas secretamente fiéis à velha esquerda, 
que só pensa em acabar tom a mídia livre, tremo ao ver a República tratada no passado, nostalgias masoquistas de tortura, 
indenizações para moleques, 
heranças malditas, 
ossadas do Araguaia e nenhuma reforma no Estado paralítico e patrimonialista.

Não tolero mais a falta de imaginação ideológica dos homens de bem, comparada com a imaginação dos canalhas, o que nos leva a retórica de impossibilidades como nosso destino fatal e vejo que a única coisa que acontece é que não acontece nada, apesar dos bilhões em propaganda para acharmos que algo acontece. Odeio a dúvida de Dilma, querendo fazer uma política modernizante, mas batendo cabeça para o PT, esse partido peronista de direita.

Não aturo a dúvida ridícula que assola a reflexão política: 
paralisia x voluntarismo, 
processo x solução, 
continuidade x ruptura; 
deprimo quando vejo a militância dos ignorantes, 
a burrice com fome de sentido, 
balas perdidas sempre acertando em crianças, 
imagens do Rio São Francisco com obras paradas e secas sem fim, 
o trem-bala de bilhões atropelando escolas e hospitais falidos, 
filas de doentes no SUS, 
caixas de banco abertas à dinamite, 
declarações de pobres conformados com sua desgraça na TV.

Tenho engulhos ao ver a mísera liberdade como produto de mercado, êxtases volúveis de "descolados" dentro de um chiqueirinho de irrelevâncias, 
buscando ideais como a bunda perfeita, 
bundas ambiciosas querendo subir na vida, 
bundas com vida própria, mais importantes que suas donas, 
odeio recordes sexuais, 
próteses de silicone, 
pênis voadores, 
sucesso sem trabalho, 
a troca do mérito pela fama, 
não suporto mais anúncio de cerveja com louras burras, 
abomino mulheres divididas entre a "piranhagem" e a "peruice", 
repugnam-me os sorrisos luminosos de celebridades bregas, 
passos de ganso de manequim, 
notícias sobre quem come quem, 
horroriza-me sermos um bando de patetas de consumo, 
rebolando em shoppings assaltados. 
(...)
Políticos se defendendo de roubalheira falando em "honra ilibada", conselhos de ética formado por ladrões, suplentes cabeludos e suplentes carecas ocultando os crimes, anúncios de celulares que fazem de tudo, até "boquete"; dá-me repulsa ver mulheres-bomba tirando foto com os filhinhos antes de explodir e subir aos céus dos imbecis, odeio o prazer suicida com que falamos sem agir sobre o derretimento das calotas polares.

Polêmicas sobre casamento gay, racismo pedindo leis contra o racismo, odeio a pedofilia perdoada na Igreja, vomito ao ver aquele rato do Irã falando que não houve Holocausto, cercados pelas caras barbudas da boçal sabedoria de aiatolás, repugnam-me as bochechas da Cristina Kirchner destruindo a Argentina, a barriga fascista do Chávez, Maluf negando nossa existência, eternamente impune.

Confrange-me o papa rezando contra a violência com seus olhinhos violentos, não suporto Cúpulas do G20 lamentando a miséria para nada, tenho medo de tudo, inclusive da minha renitente depressão, estou de saco cheio de mim mesmo, desta minha esperançazinha démodé e iluminista de articulista do "bem", impotente diante do cinismo vencedor de criminosos políticos.

Daí, faço minha a dúvida de Cole Porter:
devo pedir ao garçom uma pílula de cianureto ou uma "flute" de champagne rosé?

ArnaldoJabor Original/Íntegra : A náusea

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