Certos candidatos a certas nomeações, ao que parece, precisam apresentar entre seus documentos um atestado de antecedentes incompleto. Só o completarão, como folha corrida, como capivara, no exercício do cargo.
Mas esta não é uma novidade. Novidade seria explicar o motivo que levou a Polícia Federal, subordinada ao Ministério da Justiça, a investigar assuntos do Governo e gente influente do Governo anterior. Há alguns palpites, que podem até ser verdadeiros, mas que neste momento não passam de palpites:
a) há pouco tempo o Governo negou o aumento reivindicado pela Polícia Federal (só que essa investigação não começou há pouco tempo);
b) a Polícia Federal é dividida em várias alas (mas seria estranho que alguma delas agisse num nível tão alto sem que o ministro da Justiça fosse informado);
c) o advogado geral da União, Luís Inácio Adams, era apontado como um dos preferidos de Dilma para o Supremo (e sua indicação ficou difícil pelo envolvimento no caso de seu adjunto e homem de confiança, cuja escolha para o cargo defendeu com todo o empenho). Outra possibilidade de escolha da presidente Dilma seria o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo ─ que vem a ser, por coincidência, o chefe da Polícia Federal. O afastamento do nome de Adams reforça, sem dúvida, o nome de Cardozo.
Depois das desastrosas declarações do ministro sobre as prisões brasileiras, sob sua responsabilidade, seria esta também uma maneira de tirá-lo do posto, promovendo-o para fora do Governo.
Perguntas
Se Cardozo sabia das investigações, terá contado a Dilma? Se sabia e a informou, por que não houve providências imediatas, como afastar Rose Noronha antes que o caso se tornasse público? Se sabia e não a informou, continuará merecendo confiança?
Se não sabia, como manter-se no cargo que não terá exercido?
Dúvidas, dúvidas
1 ─ Para que existem gabinetes da Presidência da República em vários Estados? Com o avanço extraordinário das telecomunicações, para que servem?
2 ─ A secretária Rose Noronha foi demitida do gabinete paulista, e não terá substituto. Se o cargo era necessário, por que não substituí-la? Se o cargo era desnecessário, por que se pagava uma funcionária para exercê-lo?
3 ─ Quando estourou o Mensalão, o presidente Lula se disse apunhalado pelas costas. Agora, o ex-presidente Lula se disse apunhalado pelas costas. Afinal de contas, para que servem seus guarda-costas?
4 ─ Lula provém de família pobre, foi operário, foi líder sindical, fundou um partido importante, elegeu-se duas vezes presidente da República, elegeu sua sucessora. Mas vive dizendo que foi traído. Será que Lula se considera ingênuo? Será que alguém no país seria capaz de considerá-lo simplório?
Como não disse lorde Acton, todo poder mexe com a cabeça de quem o exerce; e, quando o poder se alonga excessivamente, excessivo é o efeito que causa em quem o detém. Uma historinha de um ano atrás, na reunião ordinária do Conselho Seccional da OAB paulista: o presidente da entidade, Luiz Flávio Borges d’Urso, já em seu terceiro mandato, se irritou com o advogado Alberto Toron, que o informou de que seria candidato à Presidência da Ordem, pela oposição.
E determinou oficialmente o início de um processo de desagravo contra Toron ─ o único advogado brasileiro sem cargo público a receber este ataque. Marcos da Costa, vice-presidente (e hoje candidato oficial à Presidência, enfrentando Toron), concordou. Depois, pensando melhor, Marcos da Costa e d’Urso desistiram da lambança e esqueceram até mesmo de registrá-la na ata do Conselho.
Esta quinta, dia das eleições na OAB-SP, promete ser um dia quente.
COLUNA DE CARLOS BRICKMANN
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