Ex-chefe de gabinete regional da Presidência pedia favores para
pessoas próximas de ex-presidente desde primeiro mandato do petista
Interceptações telefônicas feitas pela Polícia Federal em duas operações
mostram que a ex-chefe de gabinete da Presidência Rosemary Nóvoa de
Noronha fez gestões para ajudar o ex-presidente do PT José Genoino e o
médico do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da presidente Dilma
A Operação Overbox, de 2004, tentava desarticular um grupo que
facilitava a entrada de produtos contrabandeados no aeroporto de
Guarulhos (SP). Rose foi flagrada em duas conversas com o delegado
Wagner Castilho, um dos responsáveis pela segurança do aeroporto.
Em uma, de 5 de outubro, os investigadores anotaram no relatório uma
conversa de ambos em que ela tentava resolver o trâmite de um porte de
arma para o então segurança de Genoino, que à época presidia o partido.
"Rose fala que está precisando de duas coisas. Uma é o porte de arma
para o motorista do deputado, presidente do Partido dos Trabalhadores".
Segundo a PF, Castilho explicou o procedimento e disse que "leva em
mãos e se tiver algum óbice resolve". Ela disse que ficaria "no aguardo
dessa coisa do Genoino".
No outro diálogo, em14 de setembro, Rose briga com Castilho. O
motivo: ela tentara falar com ele mais cedo porque a Receita Federal
havia multado a mãe de Kalil em cerca de R$ 4 mil quando ela chegava ao
aeroporto vinda de Paris, na França.
A PF escreveu, na operação Overbox:
"Castilho liga para Rose e ela
fala que está brava com Castilho, pois precisou de sua ajuda hoje pela
manhã. Fala que a mãe do Dr. Calil (sic), médico do presidente, estava
voltando de Paris com a filha e amigos e comprou umas roupas. Aí a
Receita Federal pegou, abriu as malas, e tiveram que pagar quase R$ 4
mil. Castilho diz que poderia ter ligado; Rose fala que ligou".
Nos autos da Operação Porto Seguro, deflagrada sexta-feira,
23, constam ainda dois e-mails em que Rose cobra do diretor afastado da
Agência Nacional de Águas, Paulo Vieira, um favor para Cláudia Cozer,
mulher de Kalil e médica pessoal de Rose. Ele deveria acessar Esmeraldo
Malheiro dos Santos, consultor jurídico do Ministério da Educação que,
segundo a PF, ajudou a quadrilha a obter pareceres favoráveis a
faculdades.
No assunto do e-mail, constava o dizer:
"Faculdade-ES: Dra.
Cláudia".
O favor a ser feito não fica claro nos documentos.
Outro lado.
O ex-presidente do PT José Genoino afirmou apenas que "o
presidente do PT tinha direito a segurança, até porque houve uma
tentativa de assalto ao carro da presidência do PT". Ele pediu que a
reportagem contatasse seu advogado. Luis Fernando Pacheco negou que
Genoino tenha pedido qualquer favor a Rose e afirmou que seu cliente
"não tem a menor ideia" de porque Rose fazia gestões nesse caso. Ele
disse ainda que Genoino e ela têm uma relação "absolutamente
protocolar" e "sem nenhuma proximidade".
O médico Roberto Kalil afirmou não se lembrar se ligara "para Rose ou
para alguém", e sustentou que tentou ajudar a família porque seu
padrasto estava passando mal. Segundo ele, o homem estava recém-operado
do coração e a Receita decidiu aplicar-lhes uma multa às 7h, mas o
banco só abria às 10h. "Na época, posso ter tentado ligar, tipo "pelo
amor de Deus o homem está passando mal". Não era pra liberar de
alfândega, nada. Eu nunca pediria isso. Tem que pagar, paga e vai
embora."
A assessoria da médica Cláudia Cozer afirmou que não se manifestaria
porque não teve acesso aos autos. Rosemary e Castilho não foram
encontrados.
Fernando Gallo e Bruno Boghossian
O Estado de S. Paulo
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