"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

novembro 12, 2012

brasil maravilha dos FARSANTES SEGUE "MUDANDO" COM GERENTONA FAJUTA II : Ganho real dos trabalhadores é o menor em 13 meses

O índice de reajuste salarial negociado pelos trabalhadores em outubro foi o menor registrado desde setembro de 2011. A média de aumentos reais voltou a cair depois de um primeiro semestre aquecido, com o mercado de trabalho apertado. De acordo com levantamento exclusivo do Valor, o ganho real médio registrado em outubro ficou em 1,46%. 

Em junho, esse índice tinha chegado a 2,45%. A inflação comeu parte dos reajustes salariais, mas a crise internacional e a incerteza do empresário brasileiro enfraqueceram os sindicatos em negociação.

No trimestre encerrado em setembro, os índices de reajuste voltaram para o patamar abaixo de 2%. O início do ano foi marcado por uma forte aceleração dos ganhos reais, puxados pelo aumento real de 7,5% do salário mínimo e pelo recuo da inflação. O indicador de preços, no entanto, voltou a trabalhar contra o ganho real dos trabalhadores. 

Os salários, deflacionados pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), cedem à medida que o INPC avança.

Quem viu isso nitidamente foram os metalúrgicos filiados à Força Sindical no Estado de São Paulo, com data-base em novembro. A categoria tende a seguir em sua pauta de reivindicações o reajuste negociado pelos metalúrgicos da CUT, com data-base em setembro. Neste ano, os cutistas têm negociado um reajuste de 8% diretamente com as empresas, o que garante ganho real de 2,48%, já que, à sua data-base, o INPC acumulado em 12 meses estava em 5,39%.

No entanto, esse mesmo reajuste de 8%, que já foi fechado pela maior parte dos metalúrgicos da Força em São Paulo, garante um ganho real muito menor, de 1,90%, já que, à sua data-base, o INPC em 12 meses acumulou alta de 5,99%.

O índice médio registrado no terceiro trimestre, de 1,81%, é idêntico ao registrado no quarto trimestre de 2011, quando a inflação começou a ceder e garantir ganhos reais maiores para os trabalhadores, e mais forte que a média do terceiro trimestre do ano passado, que ficou em 0,86%. Naquele período, o INPC em 12 meses chegou a bater 7,39% em agosto. 

No entanto, ele já reflete uma nítida perda de fôlego, uma vez que chegou a 3,31% no primeiro trimestre deste ano e 2,32% no segundo. Ao todo, foram analisadas 545 convenções coletivas registradas no Ministério do Trabalho e Emprego.
Clique na imagem e veja gráfico : "Inflação come salários".
"O ganho real deve continuar caindo. Isso é perceptível inclusive na negociação das grandes categorias que já fecharam acordo neste ano", diz José Silvestre, coordenador de relações sindicais do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). 

Ele se refere não somente aos metalúrgicos da Força, como aos bancários (ganho real de 2% negociado à data-base em setembro) e aos trabalhadores da indústria química, que, com data-base em novembro, devem aceitar um reajuste salarial de 7,8% - o que representa ganho real de 1,71%.

A Federação do Comércio do Estado de São Paulo está negociando uma proposta de até 7% de reajuste, feita pelo setor patronal, o que garantiria 1,53% de aumento real. Essa negociação representa 460 mil trabalhadores no Estado.

Para Fabio Romão, economista da LCA Consultores, as incertezas quanto ao desempenho da economia neste ano e o receio das empresas em perder mão de obra qualificada pressionaram o mercado de trabalho e deram poder de barganha aos trabalhadores. 
Mas esse quadro se inverteu. 

"O empresário que reteve mão de obra está vendo que o volume de contratação está mais fraco e que as incertezas quanto à atividade se prolongaram. Isso pode mitigar o ganho real", afirma.

Os bancários, que somam mais de 500 mil no país, garantiram 2% de ganho real neste ano, após nove dias de greve. Em 2011, a greve durou 21 dias e o ganho real foi menor, de 1,5%. Carlos Cordeiro, presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf), explica que, no ano passado, havia uma preocupação com a injeção de recursos na economia. 

"O aumento real do salário poderia alimentar a inflação, que já estava alta." A média de ganho real em setembro, data-base dos bancários, ficou em 1,51%.

Apesar de ainda altos, os índices negociados por essas grandes categorias está abaixo daqueles registrados no primeiro semestre. O robusto reajuste do mínimo em janeiro fez com que a média de ganho real negociada no mês chegasse a 3,65%. "A inflação cresce e há um impacto direto no reajuste do trabalhador", diz Silvestre. 

Ainda assim, ele acredita que a média de ganhos reais em 2012 seja a maior da série histórica calculada pelo Dieese, iniciada em 1996. Balanço do Dieese apontou aumento real médio de 2,23% no primeiro semestre deste ano.

Segundo o coordenador do Dieese, que acompanha as mesas de negociação entre trabalhadores e empresários, o setor patronal trouxe para o debate no segundo semestre os efeitos da crise e a maior incerteza quanto ao crescimento do país. 

"As expectativas de avanço da economia murcharam paulatinamente ao longo do ano. Em períodos de maior dificuldade, os trabalhadores negociam outros benefícios, como plano de saúde e abono salarial", afirma.

É o que os metalúrgicos de São Paulo têm feito, de acordo com o presidente do sindicato, Miguel Torres, cuja base tem 470 mil trabalhadores. Filiados à Força, eles negociaram um ganho real menor que o dos cutistas, mas correram atrás de outros benefícios. Torres cita o casa da fábrica de motores MWM, que vai pagar um abono de R$ 1.296 a todos os seus 2 mil funcionários. 

"Sentimos durante todo o ano o desaquecimento da indústria. Empresas procuraram o sindicato para negociar a redução da jornada e dos salários. Há caso de empresa que aceitou pagar os 8% de reajuste e já procurou a Força para dizer que está com dificuldade de cumprir o acordo", diz.

Fabio Ramos, economista da Quest Investimentos, acredita que a aceleração da atividade prevista para 2013 deve pressionar novamente os ganhos reais, com um crescimento mais forte da ocupação e redução do desemprego, o que deve pressionar alguns grupos da inflação, como o de serviços. 

Mas, segundo ele, as intervenções setoriais feitas pelo governo, principalmente na indústria, controlarão esse avanço. No entanto, Romão, da LCA, espera que o ganho real médio dos salários seja menor em 2013 e fique em 2,7% nas seis principais regiões metropolitanas do país, ante projeção de alta de 3,9% para 2012. 

Ele atribui essa desaceleração a um avanço real mais modesto do salário mínimo - de 2,7% em 2013, ante 7,5% em 2012 -, à inflação média mais estável, que não deve ceder 1 ponto percentual como houve na passagem de 2011 para 2012, e ao crescimento moderado da ocupação em um cenário de atividade mais forte.

Carlos Giffoni | De São Paulo Valor Econômico

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