"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

junho 14, 2012

brasil maravilha E O "ARSENAL?" SEM "MARQUETINGUE" : "Mas não vamos desaminar. Não podemos jogar a toalha publicamente e assumir que vamos perder a batalha do crescimento neste ano. Se fizemos isso, o resultado será pior. O desânimo será geral"

Apesar das medidas de estímulo, técnicos da área econômica reconhecem que a crise europeia mina a confiança dos empresários para ampliar investimentos produtivos

A equipe econômica vai insistir em um discurso positivo para a economia neste ano, mas, internamente, todos os técnicos admitem que são remotas as chances de o Produto Interno Bruto (PIB) crescer mais do que 2,5%, tamanha é a gravidade da crise europeia, que já contamina com força os Estados Unidos.

A avaliação dentro do governo é de que as medidas anunciadas até agora pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, como estímulos à atividade "são de curto calibre" e, na verdade, só evitarão o pior. O problema enfrentado pelo Brasil e pelo mundo é a falta de apetite do setor privado pelo risco, o que está travando os investimentos produtivos.

Para os técnicos do governo, mesmo que a taxa básica de juros (Selic) caia dos atuais 8,50% para 7% ao ano nos próximos meses, os efeitos só serão sentidos, na melhor da hipóteses, no ano que vem. Os empresários que têm conversado com integrantes do governo alegam que precisam da garantia de uma taxa de retorno de 12% para os novos negócios — ampliação e abertura de fábricas.

Em tempos de normalidade, com a Selic atual, muitos já se sentiriam confortáveis para tocar os projetos que estão engavetados, uma ajuda e tanto para a atividade e o mercado de trabalho. Mas, quando descontam os riscos vindos da Zona do Euro e dos Estados Unidos, o retorno cai para 7%.

Ou seja, ainda está mais vantajoso deixar o dinheiro aplicado em títulos públicos, rendendo sem riscos, e esperar por tempos melhores, do que investir no setor produtivo em um quadro de tanta incerteza.

Entre os técnicos do governo, os EUA se tornaram exemplo frequente para exemplificar o porquê de o "espírito animal" do empresário estar tão arredio. Os juros da maior economia do mundo estão próximos de zero. Contudo, as maiores companhias estão sentadas sobre um caixa com pelo menos US$ 2 trilhões, o equivalente ao PIB do Brasil.

"Mesmo não tendo nenhuma compensação ao deixarem tanto dinheiro parado nos cofres — ao contrário daqui, em que os juros ainda são elevados —, as empresas norte-americanas acreditam que o melhor, agora, é manter as barbas de molho do que ampliar suas operações.

O pensamento dominante é de que não terão para quem vender, pois as perspectivas são de uma crise de longa duração", disse um importante assessor do Palácio do Planalto.

Fatura do atraso

O quadro traçado pela equipe econômica se agrava diante do que deve ocorrer no mercado de trabalho. A perspectiva é de que a criação de vagas formais diminua em uma velocidade maior nos próximos meses do que no primeiro semestre, principalmente por causa do atoleiro no qual se meteu a indústria.

Diante disso, não se deve esperar uma grande ajuda do varejo para incrementar o PIB. No primeiro trimestre, as vendas de setores mais dependentes de crédito, como o automobilístico, avançaram apenas 1,6%. Já os segmentos atrelados à renda cresceram 6%.

"A partir de agora, com a renda crescendo menos e o desemprego apontando paracima, também o varejo movimentado pelos salários não dará a resposta esperada. Pior, mesmo com os estímulos dados pelo governo para o crédito, as famílias não tenderão a ir com tanta sede ao pote, devido ao elevado comprometimento do orçamento doméstico com dívidas", explicou um integrante da equipe econômica.

"Mas não vamos desaminar. Não podemos jogar a toalha publicamente e assumir que vamos perder a batalha do crescimento neste ano. Se fizemos isso, o resultado será pior. O desânimo será geral", frisou.

E mais:
ainda que o governo prometa que vai acelerar os investimentos públicos, pouca gente acredita. Os ministérios que comandam as grandes obras estão amarrados pela burocracia e pela corrupção. Até que o Palácio consiga destravar os nós, há um longo processo entre a liberação de recursos e o andamento de empreendimentos de infraestrutura. "Não será da noite para o dia que os investimentos vão deslanchar.

O discurso do governo é muito diferente da prática.
Infelizmente, perdemos o rumo. Agora, corremos para tentar reduzir o atraso. Essa fatura se traduzirá em um PIB muito aquém do desejado pela presidente Dilma", admitiu um funcionário da Fazenda.

Ele destacou ainda que o Banco Central está em processo de reavaliação da atividade, já que divulgará o relatório trimestral de inflação no fim deste mês. A tendência é de o BC reduzir a estimativa do PIB para menos de 3,5%, sua projeção atual. Mas, ainda assim, deverá apontar alta superior a 3%.

"Dentro da política de convencimento do governo, o BC preferirá errar o PIB do que alimentar o pessimismo reinante no setor produtivo", disse o subordinado a Guido Mantega.


VICENTE NUNES Correio Braziliense

Nenhum comentário: