"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

maio 22, 2012

Dólar vai a R$ 2,08, a maior cotação em 3 anos. Bolsa cai

Mesmo com duas intervenções do Banco Central para conter a alta do dólar, a moeda americana fechou a terça-feira em alta de 1,66% cotada a R$ 2,078 na compra e R$ 2,080 na venda.
É a maior cotação desde maio de 2009, quando a moeda americana fechou a R$ 2,109.

Na máxima do dia, o dólar foi vendido a R$ 2,086 e na mínima a R$ 2,039. O dólar turismo subiu 0,91% e encerrou a R$ 1,97 na compra e R$ 2,20 na venda. O Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) fechou em queda de 2,74% aos 55.038 pontos e volume negociado de R$ 7,4 bilhões. O Ibovespa oscilou entre a mínima de 54.886 pontos e a máxima de 56.586 pontos.

No mês de maio, o dólar acumula alta de 9,09% frente ao real e no ano a valorização frente à moeda brasileira é de 11,34%

Nesta terça, o o Banco Central fez leilões de swap cambial, o que equivale a uma venda de dólares no mercado futuro. Os leilões aconteceram entre 11h30m e 11h45m e depois entre 12h30m e 12h45m. A oferta total foi de 49.400 contratos, o equivalente a US$ 2,47 bilhões.

Foram vendidos 30,3 mil contratos totalizando US$ 1,5 bilhão na primeira oferta. No segundo leilão, foram vendidos 13,6 mil contratos, o equivalente a US$ 677,7 milhões. Os contratos vencem em 2 de julho.


Com as duas operações, o BC anulou contratos de swap cambial reverso, que funcionam como uma compra futura de dólar. Os contratos reversos haviam sido ofertados pelo BC recentemente como uma estratégia para conter a queda da divisa americana. Na sexta-feira passada, o BC também ofertou 13 mil contratos de swap cambial tradicional.

- Os contratos que o Banco Central vendeu foram insuficientes. Há muita demanda de empresas por hedge (proteção) no mercado futuro. Companhias que acreditavam que o dólar voltaria para a cotação de R$ 1,80 a R$ 1,90, e não se protegeram do risco cambial, agora estão buscando essa proteção porque entendem que o governo está satisfeito com o dólar rondando os R$ 2.

Elas pagam mais caro e puxam a taxa, já que há muita demanda por proteção no mercado futuro - avalia Sidnei Nehme, diretor da corretora NGO, especializada em câmbio.


Na Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F), o contrato de dólar para junho teve alta de 1,53%, a R$ 2,078, após atingir a máxima de R$ 2,0945.

Operadores também afirmam que o mercado está especulando e testando o BC para saber em que nível de preço a autoridade monetária vai entrar no mercado vendendo dólares.

- Na minha avaliação, a alta do dólar reflete o jogo entre players do mercado, não correspondendo ao ambiente macro. Por isso, acredito que a moeda americana deve ceder rapidamente. Espero mais intervenção do Banco Central via swap cambial no curto prazo - avalia o economista Darwin Dib, da CM Capital Markets.

O economista-chefe do Itaú Unibanco, Ilan Goldfajn, disse em evento da BM&FBovespa nesta terça, que o dólar não deve manter o patamar de R$ 2,00 este ano.

- É um patamar que não se sustenta, devemos voltar para os patamares de R$ 1,85 - avalia o economista.

O Ibovespa, que operou em queda durante todo o dia, acentuou as perdas perto do final do pregão, seguindo os mercados americanos, que operaram no azul desde o início da sessão. O motivo foi um discurso do ex-primeiro-ministro da Grécia, Lucas Papademos, que disse que o risco do país deixar a zona do euro é real e que a Grécia já está se preparando para essa possibilidade.

- O pregão brasileiro operou em queda durante todo o dia repercutindo as medidas anunciadas pelo governo para estimular a economia. Os investidores ficaram insatisfeitos. As medidas só beneficiaram dois setores - automobilístico e bens de capital - e o mercado esperava incentivos para material de construção, financiamento imobiliário, por exemplo - analisa Pedro Galdi, economista da SLW corretora.

Galdi afirma que o reflexo dessa insatisfação do mercado com o pacote do governo foi sentido nas ações de construtoras, que tiveram as maiores perdas da Bolsa. PDG Realty ON, um dos papéis com maior peso no Ibovespa, caiu 11,34% a R$ 2,97 e Rossi Resid perdeu 10,37% a R$ 5,10 e Gafisa ON com queda de 9,9% a R$ 2,64.

- Além disso, houve uma correção na Bolsa, que na segunda subiu quase 4%, um patamar muito elevado - diz Galdi.

Entre os papéis com maior peso no Ibovespa, todos encerraram em queda. Vale PNA caiu 1,13% a R$ 36,00; Petrobras PN perdeu 3,38% a R$ 19,32; OGX Petróleo ON se desvalorizou 9,40% a R$ 11,19; Itaú Unibanco PN caiu 0,41% a R$ 28,60 e PDG Realty ON teve queda de 11,34% a R$ 2,97.

Na Europa, as Bolsas fecharam a terça em alta, após a divulgação do índice de confiança do consumidor em maio. O indicador melhorou um pouco. A Comissão Europeia mostrou que a confiança do consumidor subiu para -19,3 em maio. O dado de abril foi revisado de -19,8 para -19,9. Nos 27 países membros da União Europeia, o sentimento do consumidor também apresentou melhora e passou de -20,2 para -19,4.

O índice Ibex, da Bolsa de Madri, subiu 2,10%; o Dax, da Bolsa de Frankfurt, se valorizou 1,65%; o Cac, da Bolsa de Paris, ganhou de 1,88% e o FTSE, do pregão de Londres, subiu 1,86%.

Os investidores também já trabalharam com a expectativa da reunião de líderes da União Europeia, nesta quarta. Há esperança de que sejam anunciadas medidas de estímulo ao setor bancário da região e também em relação à Grécia. O mercado aguarda o posicionamento de França e Alemanha que têm visões diferentes sobre como estimular a economia para criar empregos e aumentar a competitividade.

A declaração da Alemanha de que o país estaria disposto a discutir todas as ideias para estimular o crescimento na zona do euro manteve as Bolsas em alta.

O que decepcionou um pouco foi um leilão de títulos da Espanha. A Espanha vendeu 2,526 bilhõesde euros em títulos de três e seis meses, com yields (retorno ao investidor) maiores do que no leilão realizado há um mês. Além disso, a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) divulgou um estudo em que aponta uma retração de 0,1% do Produto Interno Bruto (PIB) do bloco europeu este ano, com a expectativa de um crescimento de 0,9% em 2013.

Segundo o estudo, a zona do euro "permanece como a mais importante fonte de riscos para a economia global".

Os índices acionários dos Estados Unidos, que operaram no campo positivo a maior parte do dia, inverteram a tendência minutos antes do fechamento do mercado. O Dow Jones caíu 0,01%, a 12.502 pontos e o Nasdaq perdeu 0,29% a 2.839 pontos. Apenas o S&P 500 fechou no azul, com leve alta de 0,05% a 1.316 pontos.

A inversão aconteceu após o ex-primeiro ministro grego alertar sobre a possibilidade de saída do país da zona do euro.

Mais cedo, foram divulgados indicadores econômicos que não decepcionaram. O índice de atividade doFed de Richmond apresentou alta de 4 pontos, abaixo das expectativas médias de 11 pontos e dos 14 pontos da medição anterior. Além disso, as vendas de moradias usadas nos EUA subiram 3,4% no mês passado, a uma taxa anual de 4,62 milhões de unidades, a maior taxa anual em abril em quase dois anos. Em março, o indicador tinha caído 2,8%.

Na Ásia, a agência de classificação de risco Fitch cortou o rating em moeda estrangeira de longo prazo do Japão de AA para A+. A agência informou que o rebaixamento reflete os crescentes riscos para o perfil de crédito soberano do Japão, resultado da alta e crescente dívida pública. A dívida do país, em 200% do Produto Interno Bruto (PIB) anual, é a maior do mundo.

- O rebaixamento da nota japonesa por parte da Fitch demonstra que, novamente, as agências de classificação de risco possuem um timing muito ruim para analisar e divulgar o resultado destas avaliações - diz relatório da corretora Cruzeiro do Sul.

A imprensa chinesa informa que o governo quer acelerar a aprovação de projetos de infraestrutura, bem como agilizar a alocação de fundos destinados à construção tudo isso para aquecer a demanda agregada.

Isso fez as Bolsas asiáticas fecharem em alta, antes da Fitch rebaixar o rating do Japão. No Japão, o índice Nikkei apresentou alta de 1,10%, a 8.729 pontos. Na Coreia do Sul, o índice Kospi, da Bolsa de Seul, fechou com avanço de 1,64% a 1.828 pontos.

Na China, o índice Xangai Composto apresentou alta de 1,07%, a 2.373 pontos enquanto o Hang Seng, de Hong Kong, fechou com avanço de 0,62%, a 19.039 pontos.

O Globo

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