"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

abril 18, 2012

FMI: Piora da crise europeia pode tirar até 2 pontos do PIB brasileiro

Um novo repique da crise na zona do euro, com forte redução da exposição dos bancos e de liquidez para empréstimos, poderá ter consequências severas sobre o crescimento do Brasil, alerta o Fundo Monetário Internacional (FMI) na nova edição do "Relatório de Estabilidade Financeira Global".

Ao enfrentar uma fuga grande de capitais, o país poderá ver reduzida em até 2 pontos percentuais a taxa de expansão do Produto Interno Bruto (PIB) entre 2012 e 2013. Isso representa mais do que a metade da média de crescimento projetada pelo FMI para o país no biênio, de cerca de 3,5%, considerando-se a previsão de 3% em 2012 e 4,1% em 2013.

Este cenário não é hoje a principal aposta do FMI, que acredita que a zona do euro continuará num esforço paulatino de implementação de mudanças estruturais que restaurem a confiança dos mercados e recoloquem os países na rota de crescimento.

No entanto, o principal assessor para Assuntos Financeiros do Fundo, José Viñals, é categórico ao afirmar que o recrudescimento das turbulências na Europa, com consequências tão ou mais severas do que as observadas na quebra do Lehman Brothers em 2008, não tem como ser descartado.

É muito cedo para dizer que já saímos da crise, porque uma estabilidade duradoura ainda não está assegurada disse Viñals.

O exercício do FMI leva em consideração o saque de todos os capitais que entraram no Brasil entre 2009 e 2011 num período de três meses a magnitude do ocorrido depois da quebra do Lehman.

"Para um país como o Brasil, que recebeu uma quantidade muito grande de recursos estrangeiros neste período, o impacto sobre o crescimento pode ser de 2 pontos percentuais, ainda que haja elevado nível de reservas (internacionais) para cobrir necessidades de financiamento de curto e médio prazos", diz o documento.

O relatório do Fundo aponta que o Brasil foi um dos maiores recipientes de capitais estrangeiros entre 2009 e 2011, não só devido ao baixo retorno dos mercados ricos, mas pelas boas perspectivas da economia brasileira.

O país, como o conjunto dos mercados emergentes, reagiu bem às primeiras ondas de debandada de capitais externos, tanto no Lehman quanto no segundo semestre do ano passado, quando houve nova turbulência na Europa.

Mas um futuro colapso pode impor desafios maiores, devido a restrições domésticas.

As autoridades nos mercados emergentes não devem dar a estabilidade como garantida. Dados os riscos nas economias avançadas, podem ser necessários novas ações para amortecer choques externos e volatilidade de capitais.

Vulnerabilidades domésticas, como aquelas relacionadas ao rápido crescimento do crédito, precisam ser enfrentadas para aumentar a resistência explicou Viñals, que lista entre as ações medidas prudenciais, regulatórias e contracíclicas.

Nos casos do Brasil e da China, a principal preocupação do Fundo é com o crédito. Na segunda maior economia do mundo, isso refere-se à qualidade dos empréstimos na área imobiliária, especialmente à construção.

No mercado brasileiro, ainda que sem alarde, refere-se às altas taxas de expansão da concessão de financiamento, que levaram a aumento de 29,7 pontos percentuais na taxa de crédito como proporção do PIB entre dezembro de 2008 e o fim do ano passado.

"O rápido crescimento no crédito direto pelo BNDES ajudou a limitar o impacto do choque do Lehman na economia em 2009. Mas a expansão continuada das carteiras dos bancos públicos e privados já levou a um aumento dos financiamentos de baixa qualidade, principalmente para as famílias. Sob estas circunstâncias, a margem para usar o canal de crédito para limitar choques externos pode ser limitado", diz o relatório.

Viñals explica que o risco é que uma ação mais forte hoje dos emergentes nesta área possa levar a uma crise de crédito no futuro:
Períodos nos quais o crédito cresce muito rapidamente são indicativos de crédito ruim no futuro.

As autoridades devem ficar vigilantes para isso, devem assegurar que os bancos estão se preocupando com a qualidade dos créditos e fazendo provisões, que têm capital para fazer frente aos riscos que estão assumindo.

O Banco Mundial também alertou ontem que os riscos para a América Latina hoje são basicamente derivados de fuga de capitais o ingresso na região, no primeiro trimestre deste ano, foi 8 vezes superior, em média, ao do mesmo período de 2011.

A instituição vê o Brasil como uma das economias mais expostas na região à uma mudança de humor nos mercados financeiros e ao recrudescimento da crise na Europa, mas com grande capacidade de reação. O mesmo vale para choques de preços de commodities e da China.

O economista-chefe do Banco para a América Latina, Augusto de la Torre, lembra que o Brasil dispõe de um grande mercado interno, tem um sistema monetário forte, com metas de inflação, "ainda que se discuta se o objetivo (4,5% pelo IPCA) é o correto ou não", e boas condições fiscais, com baixo endividamento e um mercado doméstico de títulos públicos pronto a financiar o governo.

O Globo

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