Quase dois anos antes do pedagógico chute no traseiro, Jérôme Valcke enquadrou o bando de tratantes com um certeiro pontapé na canela.
Como estavam os preparativos para 2014?, perguntou-lhe um jornalista no encerramento da Copa da África do Sul.
“Falta tudo”, resumiu o secretário-geral da Fifa, alarmado com o espetáculo da irresponsabilidade produzido, dirigido e estrelado pelo ainda presidente Lula. O olhar perplexo do repórter induziu Valcke a deixar claro que não estava exagerando. “Tudo”, enfatizou.
Continuava no papel o mundaréu de obras prometidas pelo chefe do governo no comício improvisado em Zurique no dia 30 de outubro de 2007. “Faremos uma Copa para argentino nenhum botar defeito”, gabou-se então o colecionador de bravatas. “Vocês verão coisas lindas da natureza e nossa capacidade de construir bons estádios”.
(...)
O primeiro pontapé desferido por Valcke atingiu Lula no meio da campanha para eleger Dilma Rousseff. “Terminou uma Copa do Mundo na África do Sul agora e já começam aqueles a dizer:
‘Cadê os aeroportos brasileiros?
Cadê os estádios brasileiros?
Cadê os corredores de trem brasileiros?
Cadê os metrôs brasileiros?’”, replicou o palanque ambulante.
“Como se nós fôssemos um bando de idiotas que não soubéssemos fazer as coisas e não soubéssemos definir as nossas prioridades”.
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Um certo PAC da Copa morreu de inanição ainda no berço e foi enterrado sem velório. Em vez de construir ou reformar os aeroportos, Dilma Rousseff esperou até o verão deste ano para livrar-se dos mais próximos do colapso com uma privatização apressada. Outras perguntas feitas pelo falastrão vocacional continuam à procura de respostas. Cadê os corredores de trem? Ninguém sabe. Cadê os metrôs? Ninguém viu.
O pontapé no traseiro também informa que, ao contrário do que Lula imaginou, o cartola da Fifa nunca achou que lidava com um país atulhado de idiotas. Ele descobriu faz muito tempo que lida com um punhado de governantes vigaristas.
Original/Íntegra : Augusto Nunes
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