"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

setembro 09, 2011

Internet contorna cooptação lulopetista.

O feriado do Dia da Independência se tornou um marco na história das manifestações populares no país. Menos pela quantidade de pessoas que levou às ruas, e muito mais pela forma e contexto em que foram mobilizadas. Fica registrado que em 7 de setembro de 2011 alguns milhares de brasileiros decidiram protestar contra a onda de corrupção na esfera pública, sem atender qualquer das entidades outrora de praxe - UNE, sindicatos -, apenas conectando-se por meio de redes sociais, via internet. Aliás, decidiram fazer o que fizeram contra os interesses de UNE, sindicatos etc.

Este tipo de mobilização política espontânea entre cidadãos, à margem de governo, partidos e corporações, ganhou grande destaque mundial na luta (frustrada) da oposição iraniana contra a vitória eleitoral fraudada de Ahmadinejad, em 2009. Mensagens de twitter convocaram protestos, e cenas de conflitos registradas por telefones celulares foram transmitidas ao redor do mundo, fato inédito na fechada ditadura persa dos aiatolás.

No final, venceu a ditadura, inclusive valendo-se de recursos de tecnologia de ponta para rastrear opositores e jogá-los nas terríveis masmorras do regime.

No Brasil, a internet não é usada contra uma ditadura, óbvio, mas, no 7 de setembro, para romper uma couraça criada nos oito anos de poder lulopetista a fim de proteger o governo e o PT de qualquer ameaça política.

Na Primavera Árabe, ainda em andamento, foi de vez institucionalizado o manejo da rede mundial de computadores, das mais diversas formas, para inimigos das ditaduras se comunicarem e planejarem ações.

Longe de ser o caso do Brasil, também é claro. A peculiaridade brasileira é que desde 2003, com a chegada de Lula ao Planalto, entidades estudantis, organizações ditas sociais como o MST e grandes centrais sindicais (CUT e Força) - apenas para citar os elos mais importantes desta cadeia fisiológica - passaram a ter assento no grande banquete pago pelo dinheiro do Tesouro Nacional (leia-se, o contribuinte).

Na política de obter apoio em troca de vagas e verbas, o governo doou o Incra ao MST, o Ministério do Trabalho aos sindicatos, encheu os cofres da UNE de numerário, e, assim, chegamos ao ponto atual, em que, por conveniências bastante concretas, aguerridas entidades fingem que não há corrupção em Brasília.

Tampouco que a multiplicação de casos em que o Tesouro é assaltado deriva do toma lá dá cá adotado em Brasília há oito anos.

Forjou-se, até, a anedótica comparação entre os que pedem hoje lisura no manejo do dinheiro do Erário com a UDN de Carlos Lacerda, da década de 50, na campanha contra Vargas, acusado de corrupção. Os momentos históricos são distintos como água e vinho.

No fundo, paira a visão de que o roubo de direita tem de ser denunciado, enquanto o roubo de esquerda deve ser tolerado, em nome da "causa". Lamentável.

A mobilização que resultou nas quase 30 mil pessoas no asfalto de Brasília, sem que fossem admitidas faixas e cartazes alusivos a partidos, pode ser a ponta de algo maior existente no subsolo da sociedade. Merece alguma reflexão dos atuais donos do poder.

O Globo

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