A ata da reunião do Copom que reduziu os juros na semana passada não trouxe as respostas que se esperava para justificar o corte brusco da taxa básica. Se era para explicar, o que o Banco Central conseguiu foi confundir ainda mais. É difícil compactuar com as razões apresentadas sem temer pelo recrudescimento da inflação.
A decisão do BC de cortar a taxa básica, depois de mais de dois anos de manutenção e alta, coincide com o momento em que a inflação brasileira atinge o maior patamar em seis anos. É esta contradição que tem gerado as críticas a uma atitude que, fosse outra a situação, teria sido louvada e comemorada por todos.
A inflação medida pelo IPCA acumula alta de 7,23% nos últimos 12 meses. É o pior resultado desde junho de 2005. O índice que companha o comportamento dos preços no atacado (IPA) também subiu bastante em agosto, em especial os alimentos, após ter tido deflação em julho. Depois, a onda bate no varejo e no bolso do consumidor.
O regime de metas adotado no país estabelece que, neste e nos próximos dois anos, o índice a ser perseguido deve ser de 4,5%, com margem de tolerância de dois pontos percentuais para cima ou para baixo. Ou seja, a inflação corrente já furou o teto. Mas o BC tem fé que ela cairá.
Simulações estatísticas indicam que a taxa acumulada tende a ceder no último trimestre do ano: sairão da base de cálculo meses em que a inflação foi muito elevada em 2010 e entrarão resultados supostamente mais favoráveis de agora.
Mas há vários fatores que conspiram contra isso: a persistente alta dos preços dos serviços, próxima de 9% em 12 meses, e o aumento, já contratado, de 13,6% para o mínimo em janeiro de 2012. Há também todo um mercado de trabalho ainda muito aquecido, com ganhos reais de salários sendo concedidos. Serão mais combustível na fogueira da inflação.
Diante disso, os motivos que o BC lista na ata divulgada ontem para sustentar a criticada decisão de cortar os juros básicos em 0,5 ponto percentual, para 12% ao ano, são muito mais apostas do que frias constatações. Crê-se numa freada forte da economia mundial, mas o lance mais arriscado é o que se fia no "cenário de contenção das despesas públicas".
De concreto, até agora, o que mais se aproxima disso foi a decisão do governo federal de aumentar em R$ 10 bilhões o superávit fiscal deste ano, anunciada na véspera da reunião do Copom. Note-se, porém, que estes bilhões nada mais são do que resultado de arrecadação atípica de tributos. Não é que a gestão petista gastou menos; o que aconteceu foi que ela arrecadou demais.
Já o que poderia ser efetivamente uma sinalização de austeridade fiscal passou longe disso. A proposta orçamentária para 2012 traz previsão de aumento de gastos acima da expansão do PIB e também superior à elevação das receitas. Ou seja, o governo Dilma Rousseff pretende gastar mais e não menos, como prefere apostar o BC. Na prática, a meta de superávit deve cair de 3,15% do PIB para 2,5%. Que "contenção" é esta?
"Em nenhum momento ficou demonstrado que a deterioração das condições externas seja tão forte e que a melhora dos indicadores fiscais internos seja tão relevante a ponto de justificarem a dosagem reforçada no corte dos juros. Há desproporção entre diagnóstico e a decisão tomada", comenta Celso Ming n'O Estado de S.Paulo.
Outro fator que tende a dificultar a vida do Banco Central doravante é o comportamento do dólar. Com a valorização verificada a partir de agosto, a moeda americana já está perto de zerar as perdas acumuladas desde janeiro. E a tendência é de novas altas. Com isso, o custo dos importados - que implodiu a produção nacional, mas serviu de contrapeso para a inflação geral - tende a subir, gerando mais pressão sobre os preços internos.
Todos querem que a taxa de juros brasileira deixe de ser tão elevada quanto ainda é. O que não se admite é que, para acabar com esta jabuticaba que só existe no Brasil, o Banco Central rife a maior conquista da sociedade brasileira em décadas: a estabilidade da moeda.
Por ora, o resultado da atuação da autoridade monetária tem sido apenas mais inflação e menos crescimento econômico.
Fonte: Instituto Teotônio Vilela
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