Só a força do fisiologismo explica a manutenção de Wagner Rossi no cargo de ministro da Agricultura. Sua pasta é terreno fértil onde brota uma vastíssima safra de irregularidades.
Lá ele montou uma autêntica nova "república de Ribeirão Preto", com poder de rivalizar com as barbaridades daquela que seu conterrâneo Antonio Palocci instalou em Brasília anos atrás.
O ministério que "só tem bandido", que movimenta gordos envelopes de propina, que franqueia sala especial para lobista redigir contratos de licitação pública, agora também voa nas asas de jatinhos de empresas amigas, como revelou o Correio Braziliense em sua edição de ontem - e todos os principais jornais do país reproduzem hoje.
Rossi admitiu que "em raras ocasiões" usou o Embraer Phenon 100 da empresa Ourofino para se deslocar. Se foram poucas ou muitas vezes, não importa. O que importa é que o ministro feriu o Código de Ética da Alta Administração Federal e deve, portanto, estar sujeito a penalidades severas.
Ele já tem, na realidade, ficha corrida mais que suficiente para estar fora do governo.
Diz o texto do Código, em seu artigo 7º: "A autoridade pública não poderá receber salário ou qualquer outra remuneração de fonte privada em desacordo com a lei, nem receber transporte, hospedagem ou quaisquer favores de particulares de forma a permitir situação que possa gerar dúvida sobre a sua probidade ou honorabilidade".
Dúvida sobre a probidade das relações entre o ministro e a Ourofino é o que mais há. Em outubro do ano passado, a empresa obteve do Ministério da Agricultura, já sob o comando de Rossi, licença para fabricar vacina contra a febre aftosa.
Também no ano passado, foi inserida pela pasta na campanha nacional de imunização contra a doença.
Com as bênçãos de Rossi - que chegou ao requinte de ir pessoalmente aos sócios da empresa anunciar a concessão da licença para fabricar a vacina antiaftosa - a Ourofino ingressou num seleto nicho disputado por pouquíssimas firmas.
Foi uma das pioneiras no bilionário mercado nacional, antes dominado por multinacionais.
Os amigos ribeirão-pretanos de Rossi vêm se saindo muito bem: nos últimos tempos, o faturamento da Ourofino explodiu. Só em maio deste ano, a divisão de saúde animal da empresa registrou aumento de 81% em seu faturamento, saltando de R$ 16,4 milhões para R$ 29,7 milhões, mostra O Estado de S.Paulo.
Desde 2004, o capital de duas de suas subsidiárias cresceu exponencialmente. O da Ourofino Tecnologia e Genética Animal passou de R$ 100 mil para R$ 44 milhões atualmente. No mesmo período, o da Ourofino Participações e Empreendimentos subiu de R$ 32 milhões para R$ 150 milhões, informa hoje o Correio Braziliense.
"Integrantes do governo e empresários do setor afirmaram que a empresa é beneficiada pelo ministério por meio de processos mais ágeis para obter licenças de seus produtos.
Relatos dão conta de que servidores do Ministério da Agricultura fazem pressões nesse sentido junto ao Comitê Técnico de Assessoramento de Agrotóxicos, que conta com representantes do Ministério do Meio Ambiente e da Agência Nacional de Vigilância Sanitária", revela o Estadão.
Tanto descalabro não parece ser suficiente para que Rossi seja varrido na "faxina" prometida pela presidente da República.
Aliás, até agora sua pasta continua imune ao esfregão:
apenas o secretário-executivo foi trocado e, na Conab, só o atual procurador-geral da companhia foi afastado do cargo.
Dilma Rousseff não quer bulir com o partido de Rossi, apadrinhado do vice-presidente Michel Temer, e "fará o máximo de esforço para evitar repetir com o PMDB a experiência traumática que vive com o PR", informa o Estadão. Segundo o jornal, o ministro será mantido no cargo, mas seus amigos, não.
É difícil crer que um ministério seja moralizado se seu comando é mantido nas mãos de alguém atolado até o último fio de cabelo em denúncias de irregularidades.
Se o exemplo de cima é o pior possível, como agirão os subordinados?
Enquanto lá permanecer, Rossi continuará a abrir porteiras para boiadas passarem, lá pelas bandas de Ourofino...
Fonte: ITV
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