"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

julho 04, 2011

O dilema do elefante branco .

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Depois da Copa, o que fazer com estádios grandes demais para atender o público local? Quando a conta é alta, até a implosão pode ser a saída

O destino do Estádio Olímpico de Londres, palco principal da Olimpíada de 2012, foi traçado em 2007.
Após a cerimônia de encerramento dos Jogos, ele será total ou parcialmente
demolido
.

Parece um despropósito levar ao chão, depois de algumas semanas de uso, uma construção que consumiu R$ 1,2 bilhão.
Mas a ideia de reaproveitar o espaço para um estádio menor e privado, no tamanho adequado à torcida de um time de futebol, convenceu as autoridades locais.

O caminho mostra que demolir ou adaptar estádios são alternativas que devem ser discutidas sem medo no Brasil, cujos preparativos para a Copa de 2014 incluem a construção de várias arenas maiores que o necessário para suas cidades.

Um estudo elaborado pelo Sindicato Nacional de Empresas de Arquitetura e Engenharia Consultiva (Sinaenco) sugere que cinco dos 12 estádios previstos para a Copa de 2014 correm o risco de se tornar elefantes brancos.

Na cidade-sede do Recife, os grandes times já têm estádios e dificilmente estarão dispostos a pagar caro para mandar seus jogos fora de casa.
Já Brasília, Cuiabá, Manaus e Natal não têm times locais populares o bastante para encher as arquibancadas.

A futura Arena Manaus, no Amazonas, talvez se torne o mais branco dos elefantes da Copa. O campeonato estadual do Amazonas em 2011 reuniu, ao longo dos 80 jogos, um total de 37.971 torcedores.

Todos eles caberiam com folga no novo estádio, que terá 47 mil lugares.
A renda dos jogos somou R$ 339 mil, o que não pagaria um mês de despesas na nova arena, estimadas em mais de R$ 400 mil.

Em 2011, dois times do Amazonas disputarão a quarta divisão do Campeonato Brasileironas três divisões superiores não há representantes do Estado.

O campeonato estadual de Mato Grosso em 2011 reuniu, nos 72 jogos, 68.976 torcedores.
É pouca gente para sustentar a Arena Pantanal, em Cuiabá, que terá capacidade para 43.600 espectadores.

Um ano depois de sediar a Copa do Mundo, a África do Sul ainda discute o que fazer com nove estádios deficitários.
O mais custoso é o Green Point, na Cidade do Cabo, que consome R$ 10,5 milhões por ano. Sua administração foi terceirizada para uma empresa experiente, que administra um estádio construído para a Copa da França.

Ainda assim, ela devolveu a concessão à prefeitura por se julgar incapaz de cobrir as despesas. Apenas o Soccer City, em Johannesburgo, dá lucro.
Uma empresa privada, a Stadium Management South Africa (SMSA), organiza shows, competições esportivas, eventos religiosos e visitas turísticas.

Portugal também perde dinheiro para manter a estrutura criada para a Eurocopa de 2004. Dos dez estádios usados, seis foram erguidos com dinheiro público, ao custo de R$ 2,4 bilhões.

Nenhum foi repassado à gestão privada, por falta de interessados.
O estádio da cidade de Aveiro abrigou dois jogos do torneio e custou R$ 140 milhões. Comporta 30 mil pessoas em uma cidade de 70 mil habitantes.

O principal clube local, o Beira-Mar, não conseguiu ocupar 10% das cadeiras na última temporada.
O custo anual de manutenção do estádio é de R$ 8,9 milhões, dinheiro que sai do caixa da prefeitura.

Diante de arquibancadas vazias e deficits financeiros, demolir esses monumentos ao excesso não parece uma ação drástica.
"É mais fácil pôr abaixo o que dá prejuízo", diz Augusto Mateus, ex-ministro da Economia e ex-secretário da Indústria de Portugal.
A opção pela demolição é polêmica porque o custo pode ser alto.

A demolição do Texas Stadium, da equipe de futebol americano Dallas Cowboys, custou R$ 234,2 milhões, um sexto do valor total da obra do novo estádio.

No Canadá, o custo para derrubar o Estádio Olímpico de Montreal, construído para sediar os Jogos de 1976, não sairia por menos de R$ 781 milhões, segundo dois estudos encomendados pelo governo.
A manutenção do estádio, nunca plenamente aproveitado, já consumiu R$ 2,4 bilhões.

Ter um público capaz de lotar as arquibancadas ajuda, mas não é o único meio de tornar um estádio financeiramente viável.
É importante pensar no uso além do futebol.

Rodrigo Turrer. Com Humberto Maia Junior/Época

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