"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

maio 03, 2010

O ANO ELEITORAL E AS OBRAS

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Correio Braziliense -

Período pré-eleitoral parece ser terreno fértil à semeadura de grandes obras, algumas necessárias, outras beirando à megalomania.

Fica sempre a interrogação:
por que não foram executadas desde o início da administração? O governo Lula não foge à regra.

Os exemplos são variados, mas vale analisar com mais precisão dois deles, pela dimensão, importância econômica e polêmica. O primeiro é o trem-bala Rio-São Paulo, projeto que há 14 anos percorre a Esplanada dos Ministérios.

No governo petista, o lançamento do edital para a obra chegou a ser previsto para maio de 2006.

Época de pré-campanha para a reeleição do presidente, o potencial eleitoral do empreendimento era incontestável:
atenderia a um público que representa 20% da população brasileira, coisa de 36 milhões de pessoas.

Passadas as eleições, o projeto entrou em banho-maria.

O novo projeto foi apresentado ao TCU no fim do ano passado. Agora, o governo tem pressa. Quer lançar o edital até junho. Se tudo der certo, a obra começa a seis meses do fim do mandato.

Também merece análise a Ferrovia Transnordestina, de importância inquestionável. Projetada desde o Império, beneficiará quatro estados, interligando os portos de Suape (PE) e Pecém (CE). Após anos de estudos, o governo Lula a iniciou em junho de 2006.

Por coincidência, às vésperas do início da campanha eleitoral.

Começou com o trecho Missão Velha (CE)-Salgueiro (PE), de apenas 96km num trajeto de 1.728km.

Iniciado o segundo mandato de Lula, foi um pouco esquecida. Em junho do ano passado, três anos após o início, o primeiro trecho ainda não estava concluído.

Dos investimentos previstos, R$ 5,4 bilhões, só haviam sido empregados R$ 259 milhões — cerca de 4,7%. Ainda assim, prometia-se entregar a obra em 2010. Mas ninguém pode negar que o governo iniciou este ano em ritmo acelerado. Mais dois trechos estão em execução: Salgueiro-Trindade (PE) e Eliseu Martins (PI)-Trindade.

Só que agora o governo admite que esses segmentos estarão concluídos no fim de 2011.

Quanto à data de término da ferrovia, seria razoável imaginar 2014. Pura coincidência.

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