O presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, vai enfrentar o seu maior desafio ao longo de mais de sete anos no cargo neste final do governo Lula.
Mais do que em qualquer outro momento do seu mandato, recairá nos ombros de Meirelles todo o peso da difícil tarefa de confrontar interesses políticos em pleno ano eleitoral, para subir os juros no ritmo e na intensidade suficientes para controlar a inflação em alta.
Com a saída da diretoria de Pesquisa Econômica de Mário Mesquita, último membro do Comitê de Política Monetária (Copom) com histórico de ligações com o setor privado, Meirelles estará chefiando um grupo de funcionários de carreira que provavelmente será muito influenciado pelas posturas do presidente.
"A posição de Meirelles será decisiva", diz um observador com grande conhecimento do funcionamento do Copom. Ele se refere ao fato de que, na iminência do início de um substancial ciclo de aumentos da Selic (taxa básica), estará nas mãos do presidente do BC a tarefa de definir a calibragem do aperto monetário.
Nesse processo, Meirelles terá de enfrentar as pressões do governo para que modere a dose, e as prováveis críticas do candidato de oposição, José Serra.
Uma dúvida frequentemente mencionada no mercado é se o presidente do BC ainda alimenta planos políticos para o futuro, como alguma função num eventual governo de Dilma Rousseff, ou a candidatura em outras eleições .
Nesse caso, os mais desconfiados ainda veriam a sombra de motivações políticas nas decisões do Copom.
Outra hipótese é a de que Meirelles queira se credenciar para algum posto na alta burocracia financeira internacional, como o Banco para Compensações Internacionais (BIS), quando sair do Banco Central.
É uma situação em que os incentivos seriam para redobrar o rigor contra o repique inflacionário, para manter intacta a sua imagem internacional de competente autoridade monetária.
O economista José Márcio Camargo, da PUC-Rio e da Opus Gestão de Recursos, considera que o BC está passando por um momento inédito nos seus últimos 15 anos de funcionamento.
Pela primeira vez nesse período, a diretoria (com exceção de Meirelles) é formada inteiramente por funcionários públicos de carreira, e um presidente do BC explicita intenções político-eleitorais, ainda que tenha desistido de concorrer este ano.
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