"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

dezembro 21, 2009

PT : DA ÉTICA AO OBSCURANTISMO

Arquivo Folha Imagem

O prefeito Celso Daniel, em 1999.
A polícia concluiu em abril o inquérito sobre a morte dele
e indiciou seis pessoas pelo crime, cometido em janeiro


Um candidato e seu passado de mistérios

"Acho que se a direção nacional do PT souber da minha pré-candidatura não vai ficar satisfeita, mas a militância fechou comigo e não vamos desistir facilmente", José Pinto Luna,delegado federal e pré-candidato ao Senado pelo PT

Personagem importante de um dos episódios mais obscuros na história do PT — o assassinato do prefeito de Santo André (SP), Celso Daniel, em fevereiro de 2002 e até hoje impune —, o delegado federal José Pinto Luna se lança agora como pré-candidato dos petistas ao Senado por Alagoas, reduto eleitoral de caciques da política brasileira como os senadores Renan Calheiros (PMDB), seu provável adversário em 2010, e Fernando Collor de Melo (PTB). 

Pinto Luna, de 44 anos — que presidiu o inquérito que apurou as causas da morte de Celso Daniel e concluiu que foi um crime comum sem qualquer vinculação com máfias do lixo e de transportes que atuavam em prefeituras paulistas do PT —, também foi o responsável por investigar a apreensão de dólares escondidos na cueca de José Adalberto Vieira da Silva, em 2006. 

José Adalberto era assessor do então deputado estadual cearense José Nobre Guimarães (PT), irmão do deputado federal José Genoino (PT-SP). 

Ele foi preso quando embarcava de São Paulo para Fortaleza, durante a campanha eleitoral.

Apesar de causas de interesse do PT terem cruzado várias vezes a vida profissional de Pinto Luna, o delegado federal diz que a escolha pelo partido não tem qualquer vinculação com os casos em que atuou. 

“Acho que se a direção nacional do PT souber da minha pré-candidatura não vai ficar satisfeita, mas a militância fechou comigo e não vamos desistir facilmente”, garante o delegado federal, que se aposenta daqui a três meses.

No episódio dos dólares na cueca, apenas José Adalberto responde a inquérito. 

Na época de sua prisão no aeroporto de Congonhas, em São Paulo, ele estava com US$ 100 mil e mais R$ 200 mil como parte de propina paga pelo consórcio STN (Sistema de Transmissão Nordeste) para se beneficiar de um financiamento do Banco do Nordeste do Brasil (BNB). 

Parte do dinheiro seria usada na campanha de José Nobre, hoje deputado federal petista, que disse desconhecer o fato.

Pinto Luna garante que não tinha prova que pudesse confirmar a participação do então deputado estadual com o dinheiro transportado pelo seu assessor. 


Para o delegado federal, o grande problema é que muitos administradores fecham os olhos para a origem do dinheiro que recebem. 
Como exemplo, ele cita o caso do prefeito Celso Daniel. 

“Temos certeza de que existiam máfias como a do lixo e do transporte, provavelmente operadas pelo empresário Sérgio Gomes da Silva, o Sombra – braço direito do prefeito morto. 
Mas era cômodo para Celso Daniel não se interessar pela origem do dinheiro. 
Era só encaminhar para o Sombra”, diz o delegado.

Apesar de não ter sido indiciado em nenhum dos três inquéritos produzidos pela Polícia Civil de São Paulo e Polícia Federal, o empresário Sombra foi denunciado criminalmente pelo Ministério Público paulista como mandante do crime de sequestro e morte de Celso Daniel. 

Sombra acompanhava o prefeito quando ele foi levado pelos criminosos.
 


Mortes sob suspeita 

1 – Dionísio Aquino Severo, um dos sequestradores: morto dentro prisão, em 2002. Para os promotores, ele teria informações sobre o suposto autor intelectual do crime.

2 – Sérgio “Orelha”: forneceu abrigo para Dionísio Aquino Severo em sua casa. Foi morto a tiros em 2002.

3 – Otávio Mercier: investigador da Polícia Civil.
Morreu depois que sua casa foi invadida, supostamente em razão de um assalto.
Ele conversou com Dionísio Severo dias antes de ele morrer na cadeia.



4 – Antonio Palácio de Oliveira: 
garçom que serviu o prefeito na noite do crime e teria ouvido o ex-prefeito conversando com o amigo Sérgio Gomes. 
Ao fugir de uma perseguição, sua motocicleta bateu em um poste e ele teve morte imediata.

5 – Paulo Henrique Brito: funcionário da Febem, a única testemunha da morte do garçom. 

Foi assassinado 20 dias depois de testemunhar o suposto acidente.

6 – Iran Moraes Redua: agente funerário que reconheceu o corpo do prefeito no local do crime. 

Assassinado com dois tiros. 
Ele informou, em depoimento, sobre as marcas de tortura

7 – Carlos Delmonte Printes: médico-legista que examinou Celso Daniel. Encontrado morto na sua casa, na Vila Clementino, Zona Sul, em 11 de outubro de 2005. 

Ele havia apontado as marcas de tortura e contestado a versão de que o menor LSN havia assassinado Celso Daniel por contradições na reconstituição.

Desaparecido
 

O menor LSN, que assumiu o crime e declarou posteriormente em informe interno ter sido obrigado a fazê-lo, foi dado como fugitivo da Febem do Tatuapé em 2004, apenas seis meses antes de cumprir sua internação. 

Sua 'fuga' só foi divulgada depois de seis meses.
LSN se encontra desaparecido.
Leia todos os detalhes sobre o crime