Algum tempo depois de assumir a presidência da Petrobras, no início de 2012, Graça Foster, técnica de carreira da estatal, deu um sincero balanço do estado deplorável em que se encontrava a maior empresa brasileira - e, em alguma medida, ainda se encontra.
Foi tão sincero que a engenheira química enfrentou resmungos de alas do PT.
Lembre-se que não foi difícil relacionar o conteúdo da prestação de contas feita por Graça - imprescindível, pela crucial necessidade de transparência nas empresas públicas, ainda mais em uma de capital aberto - com a gestão ruinosa do antecessor, José Sérgio Gabrielli, economista, sindicalista filiado ao PT.
Se entre os símbolos do aparelhamento executado em boa parte da máquina pública federal, na Era Lula, o Incra e o Ministério do Desenvolvimento Agrário representam a participação de "organizações sociais" no governo, a Petrobras foi ícone da ação de sindicatos companheiros no universo das estatais.
A empresa foi capturada por fortes grupos de interesses, e o resultado disso vem sendo expresso por números dramáticos sobre a situação financeira da estatal. No balanço que deu da situação da estatal, em meados de 2012, Graça Foster, entre outras questões, se referiu a metas irrealistas e atrasos em projetos.
Entre o irrealismo, incluam-se estimativas de custo.
Todas estouradas, é claro.
Alguns números são emblemáticos.
Reportagem do GLOBO de domingo, por exemplo, informa que, de 2009 a 2012, os gastos da empresa superaram em US$ 54 bilhões a geração de caixa, numa média de US$ 13,5 bilhões por ano.
O caminho tomado até chegar a este ponto foi pavimentado por projetos com custos subestimados, investimentos de necessidade discutível, falta de manutenção em equipamentos estratégicos - dos quais depende a produção, em queda - e uma longa e desastrosa defasagem entre o preço interno de combustíveis e o custo de importação, mantida por Brasília.
A estatal se tornou também um instrumento a serviço de interesses políticos e, assim, deixou de ser conduzida com base em boas práticas gerenciais. Daí o projeto de uma refinaria no Maranhão e uma outra em Pernambuco, esta em sociedade com a Venezuela de Hugo Chávez, sem que sequer um centavo de dólar o regime bolivariano tenha destinado ao empreendimento até agora.
A estatal se tornou também um instrumento a serviço de interesses políticos e, assim, deixou de ser conduzida com base em boas práticas gerenciais. Daí o projeto de uma refinaria no Maranhão e uma outra em Pernambuco, esta em sociedade com a Venezuela de Hugo Chávez, sem que sequer um centavo de dólar o regime bolivariano tenha destinado ao empreendimento até agora.
No segundo trimestre do ano passado, a empresa teve o primeiro prejuízo desde 1999 (R$ 1,3 bilhão). Consequência inevitável tem sido a redução de seu valor de mercado:
ontem, a petroleira de capital misto Ecopetrol, da Colômbia, ultrapassou a Petrobras neste quesito.
Não se perdem 45% do valor, em três anos, impunemente.
Graça parece fazer o possível para resgatar a estatal.
Mas há dúvidas se ela terá dinheiro para ser a operadora monopolista no pré-sal e dona cativa de 30% dos consórcios, impostos pelo modelo de exploração por partilha.
Nenhuma companhia resiste à mistura de gestão com política.
Nem a PDVSA.
O Globo
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