Uma projeção da Associação Nacional de Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac) mostra que, se confirmada a estimativa dos analistas para a taxa Selic, o consumidor poderá, por exemplo, poupar mais de R$ 800 ao fim do financiamento de um carro popular isso se o IPI continuar reduzido para o setor, é claro.
As simulações da Anefac foram feitas com base em uma Selic de 7,5% ao ano, que é quanto o mercado estima que ela estará ao fim do ano segundo o último boletim Focus do Banco Central, divulgado na segunda-feira. Hoje a taxa está em 8,5%, seu menor nível na história.
Os analistas esperam que o BC reduza a Selic por causa do esfriamento da atividade e da menor pressão inflacionária.
Segundo a associação, a redução de um ponto percentual na taxa levará a quedas nas taxas médias praticadas pelo mercado de 1,29% (ao mês) e 1,76% (ao ano). A queda mais acentuada se daria no CDC, crédito usado para o financiamento de veículos.
A taxa média cobrada ao mês cairia de 1,85% para 1,77%, enquanto os juros anuais seriam reduzidos de 24,60% para 23,43%.
No financiamento de um carro de R$ 25 mil em 60 meses, por exemplo, o valor da parcela cairia de R$ 693,32 para R$ 679,71. Embora pareça pequena, essa diferença seria capaz de render uma economia de R$ 816,31 ao fim do financiamento.
Se o consumidor puder, vale a pena esperar um pouco para contrair crédito. A tendência é de queda nas taxas de juros, pois há uma competição maior no sistema financeiro e uma conjuntura econômica que favorece isso.
E as taxas dos financiamentos são pré-fixadas.
Logo, quem fizer um agora não será beneficiado por uma queda futura nas taxas de juros avaliou Miguel Ribeiro de Oliveira, diretor-executivo de estudos financeiros da Anefac.
Ele alerta, porém, que o consumidor deve ficar atento ao incentivo dado aos carros pelo governo por meio da redução do IPI. O estímulo em vigor está programado para durar até o fim de agosto. Logo, comprar um carro com ele em vigor será mais vantajoso do que comprar sem ele mesmo com uma Selic mais baixa.
Mas Oliveira espera que o incentivo seja prolongado, dado o frustrante ritmo da economia brasileira até agora.
Inadimplência é barreira maior para queda dos juros
No empréstimo pessoal, a economia seria menor, mas ainda ocorreria. A Anefac estima que os juros mensais cairiam de 3,59% para 3,51%. Em um empréstimo de R$ 5 mil pago durante um ano, a economia seria de R$ 29,28. Reduções ainda menores seriam vistas nos juros do comércio, cheque especial e cartão de crédito.
Os juros mensais na compra de uma geladeira de R$ 1,5 mil, em 12 vezes, cairia de 4,72% para 4,64%, gerando uma modesta economia de R$ 9 na quitação da dívida. No cheque especial, a taxa da utilização de R$ 1 mil sofreria uma diminuição de 8,24% para 8,16%, proporcionando quase nenhuma economia nesse período (apenas R$ 0,53).
Para pessoas jurídicas, a principal redução se daria na tomada de capital de giro. Empresas que buscarem R$ 50 mil para esse fim por 90 dias, pagaria menos R$ 124,77 em juros, de R$ 3,076 para R$ 2,951.
A presidente Dilma Rousseff está em uma campanha aberta para a redução do spread (diferença entre os custos de captação dos bancos e o que cobram de juros nos empréstimos a empresas e pessoas físicas).
O governo fez a primeira ofensiva por meio dos bancos públicos (Caixa e Banco do Brasil), que reduziram suas taxas no fim de abril, obrigando os bancos privados a fazer o mesmo para não perder clientes o que o economista da Anefac chamou de uma maior competição no sistema financeiro.
Há duas semanas, o spread estava em 23,5 pontos percentuais.
A economista Mariana Hauer, do banco ABC Brasil, espera uma Selic entre 7,5% e 8% ao fim de 2012. Segundo ela, a conjuntura internacional crise da dívida europeia, estagnação americana e arrefecimento da China e a fraca atividade econômica no país devem mesmo levar o BC a cortar a taxa básica de juros.
Com isso, é normal, sim, que os juros ao consumidor também caiam afirmou Mariana.
É claro que é importante que a Selic caia, pois ela é uma referência para o mercado. Mas o nível de inadimplência exerce uma influência muito maior no spread bancário do que ela, e é isso que determina a quantidade de juros cobrados ao consumidor final disse Carlos Henrique de Almeida, economista da consultoria Serasa Experian.
Segundo dados do BC, a inadimplência da pessoa física atingiu 8% em maio, o maior percentual desde 2009. O BC considera inadimplência o percentual do saldo em atraso acima de 90 dias em relação ao total das dívidas.
Almeida prevê que essa taxa cairá para algo entre 6,5% e 7% ao fim do ano, o que, segundo ele, pode ter uma leve influência nos juros ao consumidor final.
Mas ele alerta que a perspectiva para o próximo ano é de alta da inflação e dos juros, o que tende a elevar os níveis de inadimplência e endividamento. Essa previsão é corroborada pelos analistas ouvidos pelo boletim Focus, que esperam uma Selic de 9% ao ano em 2013 e uma inflação de 5,5%.
O importante é que as pessoas utilizem as taxas mais baixas para pagar dívidas, em vez de contraí-las acrescentou o economista, citando dados do BC que mostram que as dívidas já comprometem 22,3% da renda do brasileiro.
O Globo
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