Nem o corte da Selic, nem a redução dos juros bancários, nem as isenções fiscais, nada do que foi tentado até agora pelo governo para estimular a economia trouxe o resultado esperado. Ao contrário, os últimos indicadores dão forma a uma autêntica ave de mau agouro, como a linguagem popular denomina aqueles que anunciam desgraças.
Com a Europa amargando uma grave crise e parceiros importantes, como a China, engatando a marcha lenta no comércio com o Brasil, analistas e instituições refazem os cálculos e já admitem um crescimento abaixo de 2% para 2012.
A revisão só não encontra eco no comando da Fazenda, onde o discurso continua sendo o do crescimento pujante. Mesmo com um avanço de apenas 0,2% no primeiro trimestre, o titular da pasta, Guido Mantega, ainda mantém a previsão de um salto em torno de 4% no PIB de 2012.
Para o ministro, tudo será diferente no próximo semestre — que começa em menos de uma semana, é sempre bom lembrar.
Não é o que sinaliza o cenário, a começar pela realidade lá fora. A Zona do Euro patina na tentativa de encontrar solução para o caos financeiro que há cinco anos atormenta a Grécia, já bateu na Irlanda e vai chegando de mansinho à Espanha, Portugal e Itália, numa demonstração clara de que, como um vírus que ataca a família inteira, a ameaça se irradia pelo bloco.
E não apenas lá.
Em uma economia globalizada, os efeitos já atingiram em cheio os Estados Unidos, que veem a geração de empregos estagnar, reduzindo as chances de recuperação daquele que hoje é seu maior problema. A falta de vigor do mercado de trabalho levou o FED (banco central dos EUA) a revisar para baixo a projeção de crescimento do PIB, e para cima a do desemprego.
Cautela
Com tantas notícias ruins, empresários e investidores se recolhem, na tentativa de proteger seu capital. Cautela é a palavra de ordem, o que os leva a fugir como nunca do risco. Este é o principal motivo da falta de investimentos no setor produtivo. Sem garantia de retorno, nada de ampliar ou instalar unidades fabris. Aliás, a capacidade ociosa da indústria aumentou, assim como aumentaram os estoques.
Queda, mesmo, só no índice que mede a confiança do setor, como mostraram números divulgados na semana passada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) e pela Fundação Getulio Vargas (FGV). "O cenário para a indústria é de estagnação. Há entre os empresários um sentimento de frustração, de que as coisas não estão melhorando", disse ao Correio o economista Marcelo de Ávila, da CNI.
Desemprego à vista
A semana também trouxe números pouco animadores sobre a geração de empregos formais. O Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) registrou uma redução de 51,6% na criação de vagas em maio, frente ao mesmo período do ano passado. O nível do desemprego, porém, foi de 5,8%, melhor resultado para o mês de maio em dez anos.
Seria um dado tranquilizador, não fosse a opinião de analistas, que atribuem o resultado ao fato de que os empresários ainda aguardam algum resultado das medidas de estímulo antes de demitir. Em outras palavras, se não houver uma reação rápida, o desemprego pode, sim, voltar a atormentar a vida dos brasileiros.
O PIB nacional cresceu nos primeiros meses de 2012. Muito pouco, mas cresceu. O problema é que foi, mais uma vez, escorado no consumo das famílias, que continuam indo às compras, agora estimuladas pelo barateamento do crédito. Mas o resultado desse apetite já começa a aparecer. O percentual de cheques devolvidos em maio é o mais alto para o mês desde 2009.
De acordo com a Serasa, o aumento está relacionado diretamente ao endividamento, ao comprometimento da renda e à inadimplência crescente do consumidor. Não são necessários exercícios complexos para enxergar que, cada vez mais endividadas, as famílias vão colocar o pé no freio e reduzir o consumo.
Resta saber, então, quem vai assumir o papel de força motriz do crescimento.
O ideal, o real e a utopia
O mercado já juntou as peças e percebeu que não há possibilidade de se atingir a meta do governo. O relatório Focus, divulgado na semana passada pelo Banco Central, mostrou que os analistas reduziram a previsão de crescimento de 2,53% para 2,30%.
O Credit Suisse foi ainda mais pessimista. Em relatório também divulgado na semana passada, a instituição reduziu a projeção de 2% para 1,5%, o que foi considerado uma piada por Mantega.
Apesar da opinião do chefe, técnicos da equipe econômica já admitem, nos bastidores, que é quase impossível alcançar um avanço superior a 2,5% neste ano, mesmo que haja novas reduções na Selic. Os resultados das medidas de estímulo só devem aparecer mesmo em 2013, isso se a crise global não trouxer nenhum reflexo mais severo para o país.
É compreensível que, oficialmente, o governo mantenha o discurso do alto crescimento. Afinal, se o dono do cofre jogar a toalha, o resultado pode ser ainda pior. Mas é preciso argumentos consistentes para comprovar a teoria.
Discurso, por si só, não se sustenta. O Patropi, célebre personagem dos humorísticos televisivos, já mostrava isso com seus chavões que, no fim das contas, não diziam nada.
Débora Diniz Correio Braziliense
Com a Europa amargando uma grave crise e parceiros importantes, como a China, engatando a marcha lenta no comércio com o Brasil, analistas e instituições refazem os cálculos e já admitem um crescimento abaixo de 2% para 2012.
A revisão só não encontra eco no comando da Fazenda, onde o discurso continua sendo o do crescimento pujante. Mesmo com um avanço de apenas 0,2% no primeiro trimestre, o titular da pasta, Guido Mantega, ainda mantém a previsão de um salto em torno de 4% no PIB de 2012.
Para o ministro, tudo será diferente no próximo semestre — que começa em menos de uma semana, é sempre bom lembrar.
Não é o que sinaliza o cenário, a começar pela realidade lá fora. A Zona do Euro patina na tentativa de encontrar solução para o caos financeiro que há cinco anos atormenta a Grécia, já bateu na Irlanda e vai chegando de mansinho à Espanha, Portugal e Itália, numa demonstração clara de que, como um vírus que ataca a família inteira, a ameaça se irradia pelo bloco.
E não apenas lá.
Em uma economia globalizada, os efeitos já atingiram em cheio os Estados Unidos, que veem a geração de empregos estagnar, reduzindo as chances de recuperação daquele que hoje é seu maior problema. A falta de vigor do mercado de trabalho levou o FED (banco central dos EUA) a revisar para baixo a projeção de crescimento do PIB, e para cima a do desemprego.
Cautela
Com tantas notícias ruins, empresários e investidores se recolhem, na tentativa de proteger seu capital. Cautela é a palavra de ordem, o que os leva a fugir como nunca do risco. Este é o principal motivo da falta de investimentos no setor produtivo. Sem garantia de retorno, nada de ampliar ou instalar unidades fabris. Aliás, a capacidade ociosa da indústria aumentou, assim como aumentaram os estoques.
Queda, mesmo, só no índice que mede a confiança do setor, como mostraram números divulgados na semana passada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) e pela Fundação Getulio Vargas (FGV). "O cenário para a indústria é de estagnação. Há entre os empresários um sentimento de frustração, de que as coisas não estão melhorando", disse ao Correio o economista Marcelo de Ávila, da CNI.
Desemprego à vista
A semana também trouxe números pouco animadores sobre a geração de empregos formais. O Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) registrou uma redução de 51,6% na criação de vagas em maio, frente ao mesmo período do ano passado. O nível do desemprego, porém, foi de 5,8%, melhor resultado para o mês de maio em dez anos.
Seria um dado tranquilizador, não fosse a opinião de analistas, que atribuem o resultado ao fato de que os empresários ainda aguardam algum resultado das medidas de estímulo antes de demitir. Em outras palavras, se não houver uma reação rápida, o desemprego pode, sim, voltar a atormentar a vida dos brasileiros.
O PIB nacional cresceu nos primeiros meses de 2012. Muito pouco, mas cresceu. O problema é que foi, mais uma vez, escorado no consumo das famílias, que continuam indo às compras, agora estimuladas pelo barateamento do crédito. Mas o resultado desse apetite já começa a aparecer. O percentual de cheques devolvidos em maio é o mais alto para o mês desde 2009.
De acordo com a Serasa, o aumento está relacionado diretamente ao endividamento, ao comprometimento da renda e à inadimplência crescente do consumidor. Não são necessários exercícios complexos para enxergar que, cada vez mais endividadas, as famílias vão colocar o pé no freio e reduzir o consumo.
Resta saber, então, quem vai assumir o papel de força motriz do crescimento.
O ideal, o real e a utopia
O mercado já juntou as peças e percebeu que não há possibilidade de se atingir a meta do governo. O relatório Focus, divulgado na semana passada pelo Banco Central, mostrou que os analistas reduziram a previsão de crescimento de 2,53% para 2,30%.
O Credit Suisse foi ainda mais pessimista. Em relatório também divulgado na semana passada, a instituição reduziu a projeção de 2% para 1,5%, o que foi considerado uma piada por Mantega.
Apesar da opinião do chefe, técnicos da equipe econômica já admitem, nos bastidores, que é quase impossível alcançar um avanço superior a 2,5% neste ano, mesmo que haja novas reduções na Selic. Os resultados das medidas de estímulo só devem aparecer mesmo em 2013, isso se a crise global não trouxer nenhum reflexo mais severo para o país.
É compreensível que, oficialmente, o governo mantenha o discurso do alto crescimento. Afinal, se o dono do cofre jogar a toalha, o resultado pode ser ainda pior. Mas é preciso argumentos consistentes para comprovar a teoria.
Discurso, por si só, não se sustenta. O Patropi, célebre personagem dos humorísticos televisivos, já mostrava isso com seus chavões que, no fim das contas, não diziam nada.
Débora Diniz Correio Braziliense
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