É sempre relevante quando um gigante como a Petrobras revela seus planos para o futuro. A companhia anunciou ontem que investirá mais e produzirá menos até 2016. Também diminuirá seus projetos baseados em fontes renováveis, em favor de energias sujas. Políticas equivocadas definidas por Brasília estão desvirtuando as perspectivas da maior empresa do país.
A Petrobras divulgou seu plano de negócios para 2012-2016, período em que prevê investir US$ 236,5 bilhões. O valor representa aumento de 5% em relação à previsão anterior. Em contrapartida, a estatal agora estima produzir 15% menos do que previa estar produzindo em 2015. Conclusão lógica:
empresa que investe mais para produzir menos gera menos resultados, é menos eficiente. Naturalmente, as ações da companhia despencaram.
Neste e no próximo ano, a produção da empresa se manterá estável. Com isso, a Petrobras terá completado cinco anos estagnada. Não por coincidência, trata-se do mesmo período desde que, com enorme oba-oba, o então presidente Lula e sua pupila Dilma Rousseff anunciaram a redenção do país na forma do novo marco regulatório do petróleo e do pré-sal. Está se vendo no que deu...
A Petrobras está garroteada pelo cabresto que o Planalto lhe impôs. A empresa não consegue avançar na produção e no refino porque tem de obedecer a uma política de conteúdo nacional mínimo que não encontra fornecedores à altura no país. Por esta razão, o Brasil tem tido, inclusive, que importar quantidades crescentes de combustível.
Há atrasos em todas as grandes obras da estatal, de sondas de perfuração a novas refinarias - algumas das quais, como as do Ceará e do Maranhão, caminham para ser arquivadas. Há também sobrepreços em relação ao mercado mundial: a Petrobras se vê obrigada a gastar mais para obedecer às ordens de Brasília.
Para complicar um pouco mais, a empresa tornou-se um dos esteios do governo federal para manter a inflação controlada. A despeito de uma defasagem que hoje chega a 15% em relação ao mercado internacional, a companhia é obrigada a manter congelados os preços dos combustíveis que vende. Perde dinheiro.
A política traçada pelo governo petista para o setor de petróleo no país não atravanca apenas a vida da Petrobras. Paralisa, também, suas concorrentes. Desde 2008, a Agência Nacional do Petróleo não licita novas áreas de exploração e só prevê tornar a fazê-lo no ano que vem. Com isso e com as dificuldades que a estatal vem enfrentando, as riquezas do pré-sal continuam nas profundezas do Atlântico, praticamente intocadas.
Os novos planos da companhia também vão na contramão do mundo em tempos de Rio+20. A participação dos biocombustíveis nos investimentos da Petrobras cairá de 2% para 1,6% do total, "deixando clara uma mudança de foco na empresa que, no plano anterior, previa aumentar de 5% para 12% sua participação no mercado de etanol", destaca a Folha de S.Paulo.
A Petrobras destoa, assim, da urgência reinante no mundo em direção a uma economia de baixo carbono. Mas não destoa da orientação equivocada que o próprio governo brasileiro dá ao setor de combustíveis:
no país do etanol, 81% da matriz provém de combustíveis fósseis, segundo os consultores Adriano Pires e Abel Holtz. Recorde-se que, em 2011, enquanto o consumo de gasolina cresceu 19%, o de etanol caiu 28%, reforçando o desequilíbrio.
Tal situação desmente, na prática, as palavras da presidente Dilma, que ontem louvou a produção brasileira de etanol: "O Brasil, hoje, tem uma matriz energética das mais renováveis do mundo, porque tem, na sua composição, principalmente na matriz de combustível, o etanol", disse ela. Vê-se que, se dependesse dos estímulos que partem do governo, provavelmente estaríamos sujando um pouco mais o planeta.
A Petrobras tem poder ímpar não só de movimentar a economia, mas também de influenciar a vida de milhões de pessoas e a saúde do ecossistema. Os passos de um gigante como ela têm consequências imediatas para o futuro do Brasil. Mas, já há alguns anos, a maior companhia do país tem se mostrado trôpega, desnorteada com as rasteiras que Brasília lhe passa.
Fonte: Instituto Teotônio Vilela
A Petrobras na encruzilhada
A Petrobras divulgou seu plano de negócios para 2012-2016, período em que prevê investir US$ 236,5 bilhões. O valor representa aumento de 5% em relação à previsão anterior. Em contrapartida, a estatal agora estima produzir 15% menos do que previa estar produzindo em 2015. Conclusão lógica:
empresa que investe mais para produzir menos gera menos resultados, é menos eficiente. Naturalmente, as ações da companhia despencaram.
Neste e no próximo ano, a produção da empresa se manterá estável. Com isso, a Petrobras terá completado cinco anos estagnada. Não por coincidência, trata-se do mesmo período desde que, com enorme oba-oba, o então presidente Lula e sua pupila Dilma Rousseff anunciaram a redenção do país na forma do novo marco regulatório do petróleo e do pré-sal. Está se vendo no que deu...
A Petrobras está garroteada pelo cabresto que o Planalto lhe impôs. A empresa não consegue avançar na produção e no refino porque tem de obedecer a uma política de conteúdo nacional mínimo que não encontra fornecedores à altura no país. Por esta razão, o Brasil tem tido, inclusive, que importar quantidades crescentes de combustível.
Há atrasos em todas as grandes obras da estatal, de sondas de perfuração a novas refinarias - algumas das quais, como as do Ceará e do Maranhão, caminham para ser arquivadas. Há também sobrepreços em relação ao mercado mundial: a Petrobras se vê obrigada a gastar mais para obedecer às ordens de Brasília.
Para complicar um pouco mais, a empresa tornou-se um dos esteios do governo federal para manter a inflação controlada. A despeito de uma defasagem que hoje chega a 15% em relação ao mercado internacional, a companhia é obrigada a manter congelados os preços dos combustíveis que vende. Perde dinheiro.
A política traçada pelo governo petista para o setor de petróleo no país não atravanca apenas a vida da Petrobras. Paralisa, também, suas concorrentes. Desde 2008, a Agência Nacional do Petróleo não licita novas áreas de exploração e só prevê tornar a fazê-lo no ano que vem. Com isso e com as dificuldades que a estatal vem enfrentando, as riquezas do pré-sal continuam nas profundezas do Atlântico, praticamente intocadas.
Os novos planos da companhia também vão na contramão do mundo em tempos de Rio+20. A participação dos biocombustíveis nos investimentos da Petrobras cairá de 2% para 1,6% do total, "deixando clara uma mudança de foco na empresa que, no plano anterior, previa aumentar de 5% para 12% sua participação no mercado de etanol", destaca a Folha de S.Paulo.
A Petrobras destoa, assim, da urgência reinante no mundo em direção a uma economia de baixo carbono. Mas não destoa da orientação equivocada que o próprio governo brasileiro dá ao setor de combustíveis:
no país do etanol, 81% da matriz provém de combustíveis fósseis, segundo os consultores Adriano Pires e Abel Holtz. Recorde-se que, em 2011, enquanto o consumo de gasolina cresceu 19%, o de etanol caiu 28%, reforçando o desequilíbrio.
Tal situação desmente, na prática, as palavras da presidente Dilma, que ontem louvou a produção brasileira de etanol: "O Brasil, hoje, tem uma matriz energética das mais renováveis do mundo, porque tem, na sua composição, principalmente na matriz de combustível, o etanol", disse ela. Vê-se que, se dependesse dos estímulos que partem do governo, provavelmente estaríamos sujando um pouco mais o planeta.
A Petrobras tem poder ímpar não só de movimentar a economia, mas também de influenciar a vida de milhões de pessoas e a saúde do ecossistema. Os passos de um gigante como ela têm consequências imediatas para o futuro do Brasil. Mas, já há alguns anos, a maior companhia do país tem se mostrado trôpega, desnorteada com as rasteiras que Brasília lhe passa.
Fonte: Instituto Teotônio Vilela
A Petrobras na encruzilhada
2 comentários:
Uma das coisas que mais me impressiona é que sempre, esta bosta de combustível, esta, sempre, com preços defasados.
Não tem um infeliz para dizer quanto eles gastam para produzir um litro de gasolina.
A ANP, segundo um amigo meu que trabalhou lá, não sabe de nada.
Para a ANP, o custo da gasolina é o que a Petrobras diz, pq sehgundo ele, a ANP não tem pessoas para saber nenhum custo real de combustível no Brasil. O custo é o que os produtores(usinas e Petrobras) dizem.
Posso falar de algo que sei, meu pai foi diretor de usina de açúcar por 6 anos, segundo ele, o custo do alcool é zero, alcool é resíduo.
Uma vez um contador da Petrobras me disse: a Petrobras fala que gasta para produzir um barril dez doláres. Mas, na realidade, gasta 5.
Se conheço bem gasta uns 2,5 dolares. Agora pergunto: estão com preços defasados? Defasados em relação a que?
Estas histórias de preços de custos no Brasil é uma piada de mau gosto e cheio de mentiras.
Sem citar outros custos que conheço, que são, em média, 60% mais baratos do que dizem.
A gasolina vendida nos postos brasileiros custa 40% a mais do que na Argentina e 70% mais caro que o combustível comercializado nos Estados Unidos. Para fugir da responsabilidade, a Petrobras garante que há quase uma década o litro da gasolina sai das refinarias custando R$ 1,02, mas chega aos médios R$ 2,90 em virtude dos impostos cobrados sobre o produto, com uma carga tributária que passa de 39% somente em ICMS, Cide, PIS/Pasep e Cofins, além de outros 18% de margem da distribuidora e revendedora, 9% do custo do álcool anidro adicionado à gasolina. Estudo realizado pelo Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustíveis e Lubrificantes revela que o maior problema está no tributo que incide na esfera estadual, o chamado Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), que chega a representar até R$ 0,97 do preço final do produto, ou seja, enquanto a Petrobras gasta menos de R$ 1 para produzir um litro de gasolina, os governos estaduais embolsam o mesmo valor apenas em ICMS.
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