"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

junho 15, 2012

"O PSDB leva no bolso; o DEM leva na meia; o PT leva na cueca; e o povo leva no mesmo lugar de sempre..."

Vi na internet uma brincadeira sobre a utilidade do papel higiênico que é na verdade uma crítica inteligente e bem-humorada à política brasileira.

Na folha de um rolinho está escrito:
"O PSDB leva no bolso; o DEM leva na meia; o PT leva na cueca; e o povo leva no mesmo lugar de sempre..."
Parto do chiste para uma provocação.


Com a conversão do PT à direita, talvez até à direita do DEM, a esquerda — aquela que andava de cabeça erguida — morreu no Brasil. Pelo menos em termos de partidos com forte inserção popular.

Considero PSB e PPS de centro. O PSDB, de centro-direita.
O PMDB, o velho guarda-chuva de sempre.
Continua sendo uma frente e abriga políticos de todos os matizes.


Depois da ascensão de Lula ao poder, em vez da ética na política que o país tanto esperava, veio a frustração. E o discurso de esquerda sofreu duro golpe. Foi avacalhado por mensaleiros, aloprados, assessor com dólar na cueca, camaradas que roubam até o dinheiro do lanche das criancinhas... Quando adolescente, ser de esquerda, no meu conceito, era quase um atestado de boa índole.

Descobri, pouco a pouco, que não passava de um bobo sonhador. Sim: a ética não é monopólio de ninguém. Mas, à época, eu parecia cego. Vi dom Hélder pregar a luta desarmada, e o julguei um equivocado.

Hoje, me pergunto:
será que a verdadeira postura de esquerda não era a de dom Hélder, Gandhi e Luther King? Gente que saía às ruas e enfrentava os tiranos de peito aberto. Na linha de frente. Sem defender o extermínio de quem quer que fosse. Há coragem maior do que morrer lutando por justiça de verdade? E não por justiçamento?

Continuo a defender um mundo mais justo, mais fraterno, sem discriminações raciais nem religiosas, sem favelas, sem ninguém passando fome nem morando nas ruas.

No Brasil, não pode haver retrocesso. A distribuição de renda deve ser cada vez mais aprofundada. Mas não pode servir de álibi a quadrilhas que a condicionam ao "direito" de saquear os cofres públicos.

Faz falta ao país uma nova esquerda.
Comprometida com a democracia.
A justiça social. E com a ética.

O combate sem trégua à corrupção devolveria a dignidade à política.

Há líderes que poderiam encabeçar esse movimento.
Uns raros que dignificam o Congresso.

Mas parecem mais céticos e desanimados do que eu, apesar de não terem desistido da política.

Plácido Fernandes Vieira Correio Braziliense
A esquerda morreu?

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