Abalado pela crise que aflige a Europa e por um crescimento menor da China, o Brasil não decolou em 2012. Mesmo com as medidas de estímulo ao consumo adotadas pelo governo, a expansão segue em ritmo aquém do esperado e as projeções para o Produto Interno Bruto (PIB) derretem.
Baseada nesse quadro negativo, a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) revisou ontem as expectativas para o país: de uma lista de 19 nações latino-americanas, o Brasil fica à frente apenas do Paraguai, que está em recessão, e de El Salvador, que deve registrar uma taxa de 2%.
A previsão da entidade é de que o Brasil cresça 2,7%, avanço igual ao de 2011 e considerado otimista por parte do mercado financeiro — a projeção anterior era 3,5%.
A economia brasileira, segundo especialistas, não tem reagido aos incentivos como a presidente Dilma Rousseff deseja porque "a fórmula se esgotou". Eles explicam que não dá mais para insistir unicamente no estímulo ao consumo por meio de crédito e benefícios tributários, como fez o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
As famílias, ainda em 2008 e 2009, quando foram levadas a consumir para tirar o país da crise, se endividaram pesadamente e acabaram com qualquer folga no orçamento para mais carros e geladeiras neste ano. Várias delas ainda pagam prestações desse período.
Com o menor ritmo da economia em 2012, devido aos efeitos danosos da crise na Europa, dados da Cepal e projeções desenhadas por especialistas do mercado financeiro mostram que a renda e o emprego devem perder força nos próximos meses e não contribuirão com a expansão do consumo como no passado. "É preciso investir", disse Eduardo Giannetti, professor de economia do Insper.
"Se o Brasil quer crescer, terá que aprender a investir mais. Vai ter que desviar recursos de consumo para criar capital que aumente a produtividade e permita o crescimento mais à frente", argumentou, durante seminário organizado pelo Itaú Unibanco sobre bem-estar social.
O Itaú Unibanco, a exemplo da Cepal, também revisou sua projeção para o PIB — reduziu de 3,1% para 2%. "Os estímulos de política econômica já implementados devem levar a uma aceleração da atividade ao longo do ano, mas, provavelmente, menos intensa do que esperávamos", explicou Ilan Goldjfan, economista-chefe da instituição.
"Crescimento menor e inflação sob controle abrem espaço para estímulos adicionais. Acreditamos que o Banco Central reduzirá a taxa Selic para 7,50% ao ano", observou. Hoje o Banco Central divulga sua projeção para o PIB de abril, o Índice de Atividade Econômica do BC (IBC-Br).
Para os analistas, se o resultado ficar em 0,25%, significará que o país está rodando a 3% ao ano, ainda aquém do desejado pelo governo.
O secretário executivo adjunto da Cepal, Antonio Prado, disse que a queda na previsão do PIB para 2,7% decorre do fraco desempenho da indústria, especialmente a de bens de capital. "A crise mundial está afetando todos os países da região, alguns mais, outros menos. No caso do Brasil, reduzimos nossas estimativas devido ao crescimento do PIB no primeiro trimestre, que foi muito baixo (alta de 0,2%)", afirmou.
Ele destacou ainda o fato de o Brasil estar com crescimento abaixo da média da América Latina. "Para que o país cresça 5% no ano, mas de forma sustentável, é preciso que os investimentos sejam ampliados para 24% ou 25% do PIB", explicou.
» Exportações na berlinda
A Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) prevê que a desaceleração do crescimento mundial em 2012 fará com que o comércio internacional na região avance a taxas inferiores às de 2011. Pelas projeções da entidade, as exportações crescerão 6,3% este ano, enquanto as importações devem registrar expansão de 10,2%.
Nesse cenário, o superavit comercial latino-americano passará de 1,3% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2011 para 0,7% em 2012 e, caso a crise na Europa piore, esse número pode cair ainda mais.
Pibinho da decepção (Em % do PIB)
Economia brasileira não decola, impactada pela crise mundial. Avanço será um dos menores entre nações latinas
Panamá 8,0
Haiti 6,0
Peru 5,7
Bolívia 5,2
Nicarágua 5,0
Costa Rica 5,0
Venezuela 5,0
Equador 4,5
República Dominicana 4,5
Chile 4,9
México 4,0
Argentina 3,5
Guatemala 3,5
Uruguai 3,5
Honduras 3,2
Cuba 3,0
Brasil 2,7
El Salvador 2,0
Paraguai -1,5
Fonte: Cepal.
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