A inadimplência em níveis recordes nas carteiras de financiamento de veículos deve impor limitações ao desejo do governo de fazer a roda da economia girar com estímulos para aquisição de automóveis e comerciais leves.
A percepção é de que a oxigenação dos portfólios vai se dar mais pela renegociação de dívidas do que pelo escoamento de crédito novo.
Mesmo com banqueiros vindo a público dizer que o alívio de compulsório casado com incentivo fiscal proporcionam condições mais favoráveis à tomada de crédito, a percepção é de que, na prática, os critérios mais rigorosos na concessão de financiamento novo tendem a prevalecer.
"Os bancos estão calejados e carregam em seus balanços os estragos das facilidades de 2009 e 2010", diz o analista de um banco estrangeiro. "Os prazos podem até aumentar, porém mais pela repactuação de dívidas do que pela disposição das instituições de relaxar os critérios de seleção."
Conforme lembra, antes das medidas de estímulo anunciadas em 21 de maio, o diretor de um grande banco de varejo, bastante ativo no segmento de veículos, dizia não haver ambiente para mudar as práticas mais restritivas na oferta, adotadas desde o início do ano passado. "Ele foi enfático em dizer que a carteira não ia crescer este ano e não creio que tenha mudado de ideia após as medidas."
Em abril, a inadimplência das carteiras de veículos bateu em 5,9%, a mais alta da série histórica do BC. Num momento de depreciação no preços dos usados, esses índices invariavelmente acabam virando perda para as instituições que, mesmo quando retomam o bem, não conseguem reaver o valor integralmente financiado.
O analista do banco estrangeiro acrescenta que, como há no radar a possibilidade de incentivos fiscais para as renegociações de dívidas, essa prática também deve ficar, por ora, em banho-maria.
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A expectativa inicial dos especialistas era de que a inadimplência começasse a dar sinais de acomodação em fevereiro e, em março, caísse. Wermeson França, economista da LCA Consultores, não esperava que a taxa batesse recorde pela terceira vez consecutiva em abril, mas também não se disse surpreso.
Diante da alta persistente do calote, ele acredita que os incentivos para a concessão de crédito tendem a ter efeito limitado. "Os bancos têm dinheiro para emprestar, o problema não é liquidez e sim o volume de calotes", diz.
França lembra ainda que as medidas de governo tendem a depreciar o valor dos veículos usados, o que também limitaria o apetite dos bancos para dar mais crédito.
"Não vejo outra saída a não ser continuar sendo rigorosos."
Adriana Cotias e Aline Lima Valor Econômico
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