O agravamento da crise global e a recente alta do dólar no Brasil começam a fazer efeito nas contas do País com o exterior.
Dados preliminares de maio mostram queda na entrada de investimento produtivo, saída de estrangeiros da bolsa e a redução da oferta de crédito para as empresas no exterior.
O Banco Central afirma que são movimentos pontuais e não há motivos para preocupação. Analistas, porém, dizem que é preciso ter cuidado.
Enquanto cresce a expectativa de que a Grécia pode deixar o euro e o dólar opera acima de R$ 2, empresas, bancos e investidores sinalizam mudança de algumas estratégias para o Brasil.
O primeiro efeito aparece na queda do Investimento Estrangeiro Direto (IED), aquele voltado ao setor produtivo, como a construção de novas fábricas.
Projeção do BC aponta para entrada de US$ 3 bilhões em maio, redução de 36% ante abril e valor 24% menor que em maio do ano passado. Confirmado, será o menor valor desde janeiro de 2011.
Longe das fábricas, outra consequência aparece na Bolsa de Valores. Até 22 de maio, estrangeiros já haviam vendido US$ 1,75 bilhão em ações brasileiras, mais do que compraram. A saída é a maior desde novembro de 2008, no auge da crise iniciada naquele ano, quando US$ 1,76 bilhão cruzou a fronteira de volta aos países de origem.
As remessas de lucros e dividendos também refletem o cenário atual. Depois da escalada no ano passado, quando o dólar mais baixo era favorável ao envio de dinheiro para as matrizes no exterior, o fluxo líquido já caiu 44% nos quatro primeiros meses do ano.
Flutuações
Apesar dos números, o chefe adjunto do departamento econômico do BC, Fernando Rocha, disse que não há preocupação. "Como toda variável econômica, há flutuações no mês a mês", respondeu ao ser questionado sobre a queda do investimento. Explicação semelhante foi dada para a saída da bolsa.
"São oscilações mês a mês, não há indicação de uma fuga."
O mercado, porém, tem uma análise mais crítica. "Estrangeiros parecem mais reticentes com o País. O menor crescimento da economia, a redução dos juros e a falta de clareza com a política cambial têm mudado a percepção", disse o analista da Tendências Consultoria, Silvio Campos Neto.
O economista-chefe do Credit Suisse Brasil, Nilson Teixeira, citou como outro efeito a queda do crédito para as empresas. Até o dia 22, as companhias conseguiram financiamento no exterior suficiente para cobrir 93% das dívidas no período.
Ou seja, o crédito não foi suficiente para pagar todas as contas.
"A queda é atribuída principalmente ao aumento do IOF nos empréstimos com menos de cinco anos, em meio ao aumento das incertezas globais", disse Teixeira, em relatório.
Fernando Nakagawa e Adriana Fernandes, de O Estado de S. Paulo
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