O governo gastou anos dando toquinho de lado e agora precisa partir para o ataque, apelando até para gol de mão.
Eventos como o Mundial de Futebol são oportunidades de ouro para que um país dê saltos à frente no seu nível de desenvolvimento.
O enorme afluxo de dinheiro, a atenção e os interesses que o torneio atrai em todo o mundo permitem que se gerem benefícios duradouros para a sociedade.
Infelizmente, a perspectiva no Brasil não é esta.
Visto de hoje, dificilmente a Copa de 2014 deixará um legado para a população na forma de melhoria expressiva das condições de infraestrutura e qualidade de vida, principalmente em termos de mobilidade urbana - algo cada vez mais premente para quem circula nas nossas caóticas metrópoles.
O Brasil terá de fazer em mil dias o que não fez nos 1.417 que se passaram desde a data em que foi escolhido pela Fifa para sediar a Copa do Mundo de 2014. O país foi oficialmente confirmado como anfitrião do Mundial em 30 de outubro de 2007. É difícil conceber que nestes quase quatro anos tenhamos feito tão pouco.
Balanço oficial divulgado anteontem pelo governo Dilma Rousseff mostra que 64% dos empreendimentos voltados para a Copa ainda não saíram do papel.
De 81 obras, incluindo construção e reforma de estádios, ampliação de aeroportos, intervenções urbanas, melhorias viárias, adequações em portos, 52 simplesmente não começaram.
A situação é pior justamente onde mais interessa aos cidadãos:
nas intervenções voltadas a melhorar as condições de mobilidade urbana. De um total de 49 obras desta natureza, só nove foram iniciadas até hoje, o que dá menos de 20%.
Das 40 restantes, três estão em fase de projeto, 27 por licitar e três encontram-se em licitação.
Os investimentos previstos para mobilidade urbana somam R$ 12,1 bilhões. Das 12 cidades-sedes da Copa, em sete nenhuma intervenção desta natureza - o que inclui linhas de trens, monotrilhos, metrô, corredores de ônibus e melhorias viárias - foi iniciada.
Em portos e aeroportos, a penúria é igual ou pior. Todas as sete obras de infraestrutura portuária, orçadas em R$ 898 milhões, continuam no papel. Dos 13 aeroportos que terão melhorias - já que Viracopos, em Campinas, também será contemplado - somente oito tiveram obras iniciadas; neles, prevê-se investir R$ 6,4 bilhões.
O governo Dilma prefere ver calmaria onde impera tempestade.
Tenta chamar a atenção para o fato de que as arenas estão, em sua maior parte, em obras e com cronograma razoavelmente em dia.
"O mais importante é o estádio", acha o ministro dos Esportes.
Só pode ser brincadeira.
Desdenha, também, do fato de o custo dos estádios ter subido assustadoramente, além do que um gasto que deveria ser eminentemente privado está, em boa medida, sendo bancado por dinheiro público.
Vendo que o cronômetro do jogo já vai avançado, o governo vai alterando as regras do jogo. Acaba de eliminar o prazo para que obras da Copa fossem pelo menos licitadas, que venceria em dezembro.
Mas concentra sua maior aposta para fazer os empreendimentos deslancharem na adoção do Regime Diferenciado de Contratações (RDC). Trata-se de uma espécie de gol de mão de desesperado.
Como se sabe, o RDC afrouxa as regras para contratação de obras públicas, abre um flanco na zaga para aumentos de preços e dificulta a vigilância e a fiscalização do juiz, por sua parca transparência.
Em razão disso, está sob fogo cruzado tanto dos partidos de oposição (PSDB, PPS e DEM) quanto da Procuradoria-Geral da República, que o considera inconstitucional.
Com o RDC, os orçamentos da Copa, que já não eram pequenos, correm risco de ir para a estratosfera. As estimativas hoje disponíveis são suficientemente divergentes para justificar temores e exigir mais, e não menos, rigor dos sistemas públicos de fiscalização e controle - tudo o que o governo do PT não quer.
Os atrasos e as delongas da gestão petista já estão custando bastante caro à sociedade. O que se cobra é que, nesta altura do campeonato, os improvisos nos preparativos para a Copa do Mundo tenham chegado ao seu limite.
Que a bola vai rolar a partir de 12 de junho de 2014, ninguém duvida.
Mas os que os brasileiros esperam é que sobre algum benefício para contar história depois que a festa do futebol acabar.
Fonte: Instituto Teotônio Vilela
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