A perda relativa da participação da manufatura na geração de renda e empregos na economia brasileira, evidenciada em relatório do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, é um sintoma inequívoco da desindustrialização em curso no país.
Em meados dos anos 1980, o setor representava 25% do PIB, ante os atuais 16%. A queda resulta, em parte, do baixo dinamismo da economia nacional desde o fim dos anos 1970, pelo menos até metade da década de 1990.
Foi um período com espasmos de crescimento em que experimentamos toda sorte de heterodoxias (Cruzado, Plano Bresser, Plano Feijão com Arroz de Maílson da Nóbrega, Plano Collor, tabelamentos, confiscos...).
A partir do Plano Real, o cenário estabilizou-se, a inflação foi controlada, o futuro ficou mais previsível e o nível de atividade começou a se expandir. Apesar disso, tivemos de coexistir (até hoje, aliás) com as maiores taxas de juros do mundo, câmbio apreciado, aumento de carga tributária e infraestrutura deficiente e cara.
Exemplo da resistência, capacidade de superação e contribuição do setor manufatureiro, seus empresários e trabalhadores à economia nacional encontra-se na indústria de têxteis e confecção.
Apesar de todos os obstáculos, ela continuou a investir, tendo superado o patamar de US$ 1 bilhão/ano desde a entrada em circulação do real.
Essa média envolve somente ativos fixos medidos pelas compras de máquinas e equipamentos, mais liberações de empréstimos do BNDES. Somente em 2010, foram mais de US$ 2 bilhões, aos quais devemos acrescer cerca de 30% relacionados a recursos aplicados em instalações, inovação e treinamento.
Ainda nesses 17 anos do real, o ramo que mais contribuiu para o controle da inflação foi o do vestuário.
Medida pelo IPCA, a evolução acumulada de seus preços foi de 150%, contra mais de 250% da economia em geral. Só na energia elétrica, esse importante insumo, as empresas arcaram com majoração superior a 500%. Em paralelo, tivemos de conviver com a apreciação de nosso dinheiro na maior parte do período pós-real.
Ao mesmo tempo, nossos concorrentes asiáticos, com destaque para a China, manipularam suas moedas, depreciando-as, como estratégia para ganhar mercado externo (e continuam fazendo isso hoje).
Dessa forma, aumentaram ainda mais sua competitividade, já bastante turbinada pelos incentivos financeiros e tributários concedidos, além de práticas ambientais, trabalhistas e previdenciárias totalmente distintas do que se observa no contexto das nações aderentes ao capitalismo democrático.
Não é tolerável, portanto, esse tipo de concorrência desleal. Como se não bastasse, há vários estados brasileiros concedendo benefícios do ICMS para a entrada de importados em seus portos.
Não podemos agir com ingenuidade e franquear nosso mercado a terceiros, num momento em que todas as nações buscam no comércio exterior a criação de empregos, num cenário de profundo desequilíbrio mundial.
Nos primeiros cinco meses de 2011, a produção têxtil caiu 10%, a do vestuário ficou estável, o varejo cresceu em torno de 7% e as importações de roupas aumentaram 40%.
Que sinais mais precisaremos para constatar que caminhamos para o desmantelamento da cadeia produtiva? A indústria sofre por conta dos desequilíbrios internos e externos, como o combate à inflação a golpes de juros crescentes.
O ramo têxtil e de confecção não teme a concorrência e a disputa pelos mercados e consumidores. O que propõe é condição isonômica para concorrer. Em 2005, era superavitário em suas transações com o exterior.
Em 2011, decorridos seis anos e com mais de US$ 10 bilhões em investimentos, será deficitário em cerca de US$ 5 bilhões, significando a não geração de 200 mil postos de trabalho.
O setor, como toda a manufatura, nada tem contra o comércio internacional. Porém, condena a concorrência desleal e ilegal. Em 2006, o Brasil importava roupa por US$ 6 o quilo.
Hoje, são US$ 16 o quilo, de acordo com o padrão mundial, e o comércio só cresceu! Na luta da indústria têxtil e de confecção por esse avanço, algo decisivo foi provado: não há ineficiência industrial.
Novamente, nosso setor está mobilizado em prol de sua competitividade e pela construção de uma sociedade evoluída e harmônica.
Acreditamos que não existirá um Brasil próspero e justo se não tivermos manufatura pujante e inovadora, juntamente com agricultura, comércio e serviços fortes e modernos.
Fernando Pimentel
Diretor-superintendente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (ABIT)
Em meados dos anos 1980, o setor representava 25% do PIB, ante os atuais 16%. A queda resulta, em parte, do baixo dinamismo da economia nacional desde o fim dos anos 1970, pelo menos até metade da década de 1990.
Foi um período com espasmos de crescimento em que experimentamos toda sorte de heterodoxias (Cruzado, Plano Bresser, Plano Feijão com Arroz de Maílson da Nóbrega, Plano Collor, tabelamentos, confiscos...).
A partir do Plano Real, o cenário estabilizou-se, a inflação foi controlada, o futuro ficou mais previsível e o nível de atividade começou a se expandir. Apesar disso, tivemos de coexistir (até hoje, aliás) com as maiores taxas de juros do mundo, câmbio apreciado, aumento de carga tributária e infraestrutura deficiente e cara.
Exemplo da resistência, capacidade de superação e contribuição do setor manufatureiro, seus empresários e trabalhadores à economia nacional encontra-se na indústria de têxteis e confecção.
Apesar de todos os obstáculos, ela continuou a investir, tendo superado o patamar de US$ 1 bilhão/ano desde a entrada em circulação do real.
Essa média envolve somente ativos fixos medidos pelas compras de máquinas e equipamentos, mais liberações de empréstimos do BNDES. Somente em 2010, foram mais de US$ 2 bilhões, aos quais devemos acrescer cerca de 30% relacionados a recursos aplicados em instalações, inovação e treinamento.
Ainda nesses 17 anos do real, o ramo que mais contribuiu para o controle da inflação foi o do vestuário.
Medida pelo IPCA, a evolução acumulada de seus preços foi de 150%, contra mais de 250% da economia em geral. Só na energia elétrica, esse importante insumo, as empresas arcaram com majoração superior a 500%. Em paralelo, tivemos de conviver com a apreciação de nosso dinheiro na maior parte do período pós-real.
Ao mesmo tempo, nossos concorrentes asiáticos, com destaque para a China, manipularam suas moedas, depreciando-as, como estratégia para ganhar mercado externo (e continuam fazendo isso hoje).
Dessa forma, aumentaram ainda mais sua competitividade, já bastante turbinada pelos incentivos financeiros e tributários concedidos, além de práticas ambientais, trabalhistas e previdenciárias totalmente distintas do que se observa no contexto das nações aderentes ao capitalismo democrático.
Não é tolerável, portanto, esse tipo de concorrência desleal. Como se não bastasse, há vários estados brasileiros concedendo benefícios do ICMS para a entrada de importados em seus portos.
Não podemos agir com ingenuidade e franquear nosso mercado a terceiros, num momento em que todas as nações buscam no comércio exterior a criação de empregos, num cenário de profundo desequilíbrio mundial.
Nos primeiros cinco meses de 2011, a produção têxtil caiu 10%, a do vestuário ficou estável, o varejo cresceu em torno de 7% e as importações de roupas aumentaram 40%.
Que sinais mais precisaremos para constatar que caminhamos para o desmantelamento da cadeia produtiva? A indústria sofre por conta dos desequilíbrios internos e externos, como o combate à inflação a golpes de juros crescentes.
O ramo têxtil e de confecção não teme a concorrência e a disputa pelos mercados e consumidores. O que propõe é condição isonômica para concorrer. Em 2005, era superavitário em suas transações com o exterior.
Em 2011, decorridos seis anos e com mais de US$ 10 bilhões em investimentos, será deficitário em cerca de US$ 5 bilhões, significando a não geração de 200 mil postos de trabalho.
O setor, como toda a manufatura, nada tem contra o comércio internacional. Porém, condena a concorrência desleal e ilegal. Em 2006, o Brasil importava roupa por US$ 6 o quilo.
Hoje, são US$ 16 o quilo, de acordo com o padrão mundial, e o comércio só cresceu! Na luta da indústria têxtil e de confecção por esse avanço, algo decisivo foi provado: não há ineficiência industrial.
Novamente, nosso setor está mobilizado em prol de sua competitividade e pela construção de uma sociedade evoluída e harmônica.
Acreditamos que não existirá um Brasil próspero e justo se não tivermos manufatura pujante e inovadora, juntamente com agricultura, comércio e serviços fortes e modernos.
Fernando Pimentel
Diretor-superintendente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (ABIT)
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