"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

julho 06, 2011

FRENÉTICA E EXTRAORDINARIAMENTE PETROBRAS VALE SÓ QUANTO PESA.

O valor de mercado da Petrobras está, pela primeira vez desde 1999, abaixo do patrimônio líquido da empresa.

O indicador é uma maneira de medir o que o mercado coloca de expectativa em uma ação. Quanto maior a diferença, mais se espera da empresa no futuro.

Ontem, o preço sobre o valor patrimonial da ação preferencial da Petrobras fechou em 0,98 vez, ou seja, o papel vale menos na bolsa do que nos livros.
Para a ação ordinária, a relação era de 1,08 vez.

O valor de mercado da Petrobras está, pela primeira vez desde 1999, abaixo do patrimônio líquido da empresa.

O preço da ação, formado diariamente nas negociações em bolsa, é a base para o cálculo do valor de mercado.
Já o valor patrimonial, o que sobra para os acionistas subtraindo-se as dívidas dos ativos, é calculado pela empresa e divulgado trimestralmente nos balanços.

Existem várias maneiras de se medir o "prêmio" que investidores pagam por uma empresa. O preço sobre valor patrimonial dá uma ideia do "intangível" de uma companhia, o ágio que o mercado está disposto a pagar por ela além do preço contábil, notoriamente conservador - mesmo com os recentes avanços da chamada contabilidade do "valor justo".

Um valor de mercado constantemente abaixo do valor dos livros sugere, no mínimo, que não há ganho para os investidores até onde o mercado pode ver.

Entre as empresas do Índice Bovespa, a principal referência do mercado de ações, o maior P/VPA ontem era da Cielo, 23,91 vezes.
O menor, da Eletrobras, a holding estatal do setor elétrico: 0,36 vez para a ordinária e 0,45 vez para a preferencial.

No caso da Petrobras, uma das maiores petrolíferas do mundo por valor de mercado, as ações, preferenciais ou ordinárias, eram negociadas desde 1999 com um ágio - substancial, em alguns momentos -, segundo dados da consultoria Economática.

Essa situação parece contraditória, dado o portfólio de descobertas, notadamente as do pré-sal - mas não só ali -, que a coloca em um patamar único entre seus pares.

Com um plano de investimentos em marcha de US$ 224 bilhões, um dos maiores do mundo, a Petrobras tem presença dominante em um dos mercados que mais crescem no globo, o brasileiro, e é uma das poucas que pretendem dobrar a produção na próxima década.
(...)
Para Emerson Leite, analista de petróleo do Credit Suisse, não há surpresa.
"Como o retorno sobre o capital [lucro líquido sobre o patrimônio, ou retorno patrimonial] está próximo do custo de capital, não surpreende que o valor de mercado da Petrobras esteja próximo do valor patrimonial", afirma.

"Para essa dinâmica mudar, o retorno para o acionista tem que ser gradualmente maior que o custo de capital. À medida que isso acontecer, se acontecer, a ação deve reagir."

Comparada com seus principais pares nas Américas (a base de dados da Economática não tem europeias), a Petrobras tem hoje a pior relação valor de mercado/patrimônio.
Na maior empresa do setor, a Exxon Mobil, a relação estava ontem acima de 2,5 vezes.


Numa lista de 56 ações compilada pelo Valor, os papéis da estatal brasileira só ganham de quatro:
entre eles, os da Petrobras Argentina e os da americana Dynegy, em negociação com credores para evitar a recuperação judicial.

A melhor relação preço/patrimônio nesse grupo é da americana Continental Resources, acima de 6 vezes.

A estatal, que chegou a estar entre as cinco empresas de maior valor de mercado do mundo, marcava posição ontem, com US$ 209,38 bilhões, no décimo primeiro lugar, segundo levantamento da Bloomberg.

A Exxon segue inabalada na liderança, valendo US$ 420,51 bilhões, seguida não muito de perto pela Apple e pela Petrochina.
Outra rival da Petrobras, a Royal Dutch Shell, estava em sétimo lugar.

Nelson Niero e Cláudia Schüffner | De São Paulo e do Rio Valor Econômico

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