"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

junho 13, 2011

SEM RESOLUÇÃO ADEUS HIERARQUIA : POBRE BRASIL.

Está faltando alegria na vida da presidente Dilma.
Está faltando sorriso.
Não se pode exigir alegria, claro, de quem passou por uma crise como a das últimas três semanas.


Mas a questão não é de hoje.
Desde o início do mandato temos uma presidente reclusa e calada.
A princípio foi um alívio.
O antecessor expunha-se e falava além da conta.


Com o tempo, a reclusão e o silêncio se acentuaram.
Em parte, sem dúvida, a questão é de temperamento. Em outra parte, pode expressar o natural trem de vida de alguém que, descasada há muito tempo, se habituou à solidão, e talvez mesmo encontre prazer nela.
Ninguém tem nada com isso.


O caso se politiza, e passa a ter interesse público, se a esses fatores somar-se um certo desgosto por ocupar o posto que ocupa. O cenho fechado, a expressão preocupada, em suas raras aparições, fazem suspeitar que Dilma não esteja feliz na Presidência.

Pode ser falta de costume da nossa parte. Os dois últimos ocupantes do cargo mostravam-se felizes, até escandalosamente felizes, na peje de presidente. A exuberância do presidente Lula na fruição da condição em que estava constituído está fresca na memória.

O presidente Fernando Henrique Cardoso também gostava, e como gostava, da condição presidencial, embora o expressasse de modo mais sóbrio.
Os dois tinham em comum o fato de terem cobiçado o cargo por décadas, e o terem atingido pelos próprios méritos, reunidos seus perfis e suas bagagens a cerras circunstâncias favoráveis.


Dilma, como se sabe, trilhou caminho diverso.
Só começou a imaginar-se presidente pouco mais de dois anos antes de a imaginação tomar-se realidade.
E só se imaginou como tal depois de ter sido imaginada por outrem. Eis um fator que talvez constranja, e não permita o pleno desfrute da posição em que se encontra.


Há outro, e mais inquietante, problema.
Dilma pode não se sentir plenamente na pele de presidente porque outros disputam a mesma pele. Um dos que o fazem já se sabe quem é. O antecessor.


Na crise do ministro Palocci, ele operou tanto às claras quanto às escondidas, como se ainda lhe coubesse fazê-lo, ou como se faltasse à sucessora capacidade para tal. Esse estorvo já se sabia desde sempre que esperava Dilma na primeira esquina.

O outro candidato a aconchegar-se à pele presidencial é mais inesperado.
Abrem-se as cortinas, e entra em cena Sua Excelência Reverendíssima o vice-presidente Michel Temer.

Para surpresa geral, o PMDB, notório pela desunião, conheceu o milagre da união, tão logo raiou a era Dilma.

Hoje essa união se expressa e toma corpo na figura do vice.

Michel Temer apresenta-se cada vez mais des...Não, "desenvolto" não seria a palavra. Não combina com sua expressão corporal. Temer é homem de gestos pausados e passos medidos.

As mãos ora se esfregam uma à outra, ora se cruzam, ora marcam encontro, as -pontas dos dedos de uma nas -pontas dos dedos da outra.
O ritmo é estudado.
Cada pequeno movimento se reveste de eclesiástica solenidade - daí o tratamento de "Sua Excelência Reverendíssima" que fez por merecer no parágrafo anterior.


Se desenvolto não é a palavra, seria...com perdão da verdadeira ocupante(?) do cargo "presidencial".
Presidencialmente, Temer reúne no Palácio do Jaburu a cone de homens de cabelos pintados ou traanplantados em que consiste a fina flor do PMDB.


Presidencialmente, vai ao encontro da presidente Dilma como quem vai a uma conferência de cúpula, potência contra potência.
Ao contrário de mansos aliados, como foram os vices José Alencar, para Lula, e Marco Maciel, para FHC,
Sua Excelência Reverendíssima lidera uma facção rival.


Semelhante situação decorre de um desentendimento grave, que queiram os céus não venha a se revelar fatal, quanto à natureza da coligação entre PT e PMDB. O PT entende que ao PMDB devem caber alguns ministérios em troca de votar com o governo no Congresso.

Já o PMDB se pretende sócio do poder, ao mesmo título que o PT.
Nesse atrito, Dilma é criticada pelas virtudes - como a de resistir à ganância por cargos e verbas - e engambelada por eufemismos como "articulação política", apelido do balcão de negócios em que se desferirão as facadas.
Haja estômago para digerir tal gororoba.


Para o da presidente, visivelmente, está difícil.
Nunca é bom ter alguém infeliz, não importa em que cargo. Pior se for na Presidência. Disfarce, presidente. Soma.

As condições são adversas, mas, se acharem que a senhora está satisfeita, muito à vontade e dona de si, avançarão com mais cuidado.

Roberto Pompeu de Toledo
Sorria. A senhora está sendo filmada

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