"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

novembro 17, 2010

CAIXA PERDE R$300MILHÕES.

Com as ações do PanAmericano derretendo desde que estourou o escândalo de fraude nos seus dados contábeis, a Caixa Econômica Federal (CEF) — dona de 49% do capital votante da instituição controlada pelo Grupo Silvio Santos — perdeu mais de 40% dos R$ 740 milhões que aplicou no negócio em dezembro do ano passado.

O prejuízo estimado chegou a R$ 300 milhões até ontem e, por medo de ver seus investimentos transformados em pó caso o PanAmericano quebre, a Caixa está trabalhando duramente na recuperação do banco.

Para evitar mais perdas, Maria Fernanda Ramos Coelho, a presidente da CEF, comandará, a partir deste mês, o Conselho de Administração da instituição.

Em dezembro do ano passado, a Caixa arrematou 36,56% das ações do banco de Silvio Santos — o equivalente a 49% do controle da instituição. Na época, segundo analistas, o PanAmericano estava avaliado em aproximadamente R$ 2 bilhões e o banco público pagou, na média, R$ 8,50 por ação.

Quase um ano depois do negócio ser realizado, a cotação das ações do PanAmericano chegou a R$ 4,95 no pregão de ontem, acumulando um derretimento de 41,7% desde então. “A Caixa não sabia onde estava entrando. E foi induzia a erro pelos avaliadores do PanAmericano, a auditoria KPMG e o Banco Fator”, disse um analista de mercado.

A expectativa da Caixa é de, no máximo em quatro meses, depois de a poeira baixar, conseguir um bom valor pelo PanAmericano — ontem, o mercado dava como certa a venda da instituição para o banco mineiro BMG, que atua em um segmento semelhante à instituição de Silvio Santos.

Para dar credibilidade ao PanAmericano, a CEF indicou cinco de seus funcionários — atualmente lotados nas superintendências do banco — para cuidar dos departamentos de crédito, risco, financeiro, cartão de crédito e rede da instituição abalada por fraudes. As áreas são consideradas importantes estrategicamente.

Prestação de contas

O apresentador de tevê Silvio Santos foi o que mais perdeu dinheiro com a maquiagem contábil promovida pelos seus executivos no PanAmericano. Além dos R$ 2,5 bilhões que teve de emprestar do Fundo Garantidor de Crédito (FGC) para cobrir o rombo do banco, apenas com a desvalorização das ações na bolsa de valores perdeu mais R$ 310 milhões.

Ele ainda corre o risco de ficar sem o empreendimento que lhe dá mais orgulho e o deixou famoso: o Sistema Brasileiro de Televisão (SBT). A emissora, assim como outros ativos do empresário, foram dados como garantia ao FGC.

(...)

Ex-diretores teriam derrubado cotações

Sabendo da intervenção que o Banco Central estava prestes a fazer no PanAmericano, eles saíram vendendo os papéis que possuíam e ainda teriam dado informação privilegiada a alguns investidores. A denúncia é de operadores do mercado financeiro.

Para não causar confusão na bolsa de valores, o BC optou por divulgar os problemas no PanAmericano em 9 de novembro, após o fechamento do mercado. Porém, quase um mês antes, as ações do banco já estavam em queda em função de vendas expressivas no pregão da BM&FBovespa.

Desde 14 de outubro até o dia do anúncio das fraudes, o mercado como um todo ainda não sabia dos problemas, mas as ações já haviam derretido 23%”, explicou um dos operadores ouvidos pelo Correio.

Isso mostra que já havia pessoas negociando com uso de informação privilegiada, sabendo que o banco estava ruim. Mas também os ex-diretores estavam operando para se livrarem dos papéis que detinham, pois ainda havia espaço para embolsar lucros”, acrescentou outro profissional.

Adiamento

Com tanta irregularidade envolvendo o PanAmericano e as críticas quanto a uma possível demora do Banco Central para agir, o presidente da autoridade monetária, Henrique Meirelles, e a presidente da Caixa, Maria Fernanda Ramos Coelho, trabalharam pesado nos bastidores para adiar o depoimento que ambos dariam hoje na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado.Eles foram convocados para abrir a caixa preta do PanAmericano.

Segundo informações do Senado, a audiência foi adiada para a quarta-feira da próxima semana, 24 de novembro, a pedido dos depoentes. A sabatina com Meirelles e Maria Fernanda deve ser longa, já que a Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) também havia convocado o presidente do BC, no mesmo dia 24, para fazer um balanço trimestral das ações de política monetária. Agora, as duas comissões ouvirão Meirelles em conjunto.

Justiça

O caso PanAmericano deve ficar mais definido, porém, após a primeira quinzena de dezembro, quando acaba o prazo de conclusão do inquérito na Polícia Federal. A contar de ontem, a PF tem 30 dias para enviar o que apurou aos procuradores da República especializados em crimes financeiros, Rodrigo Fraga Leandro de Figueiredo e Anamara Osório Silva.

No último dia 11, o Ministério Público Federal (MPF) abriu Procedimento Investigatório Criminal para apurar as supostas irregularidades contábeis denunciadas pelo BC, que evidenciaram um rombo gigantesco na instituição.

A denúncia criminal só será feita à Justiça após o MPF receber a apuração da PF. Somente após a chegada dos documentos, os procuradores decidirão quem responsabilizarão criminalmente. Daí, o caso passará para as mãos de um magistrado federal, que decidirá as punições a serem aplicadas.

Até lá, segundo analistas, o PanAmericano estará mais fortalecido. Os fluxos de depósitos e investimentos na instituição já começam a voltar ao normal após uma onda de saques quando estourou o escândalo.

Victor Martins/Correio Braziliense

Bancos Lucros (Em R$ bilhões)
Itaú Unibanco 3,030
Banco do Brasil 2,625
Bradesco 2,527
Santander 1,934
Caixa 0,748

Fonte: Mercado

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