De novo, os consumidores pagarão a conta
Diante das enormes pressões parlamentares para expandir os gastos orçamentários em 2011 e do comprometimento de despesas patrocinadas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, para eleger Dilma Rousseff, o mercado acendeu o sinal de alerta: não acredita que o futuro governo fará o ajuste fiscal necessário para cumprir a meta de superavit primário (economia para o pagamento de juros da dívida pública) de 3,3% do Produto Interno Bruto (PIB).
Tanto que reviu para cima as suas projeções de inflação e elevou a estimativa para a taxa básica de juros (Selic).Segundo a pesquisa Focus, realizada semanalmente pelo BC, o mercado acredita, agora, que a inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) fechará 2010 em 5,48% ante os 5,42% projetados há sete dias.
Para o ano que vem, já com o Brasil sob o comando de Dilma, a expectativa é de o custo de vida bata em 5,05%, superando, de longe, o centro da meta perseguida pelo BC, de 4,5%.
Sendo assim, os quase 100 analistas que participam do levantamento passaram a prever juros de 12% ao ano contra os 11,75% indicados uma semana atrás.
Na opinião de Rossano Oltramari, analista-chefe da Corretora XP Investimento, além do desregramento fiscal, o mercado se assustou com o último resultado do IPCA, divulgado no início do mês pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Enquanto a maior parte dos economistas esperava uma alta de até 0,65% na inflação, a taxa alcançou 0,75% — mostrando um cenário diferente do que o BC previa, bem mais benigno.
“Os alimentos vieram muito forte e devem continuar pressionando o indicador no próximo mês. Por isso o mercado decidiu rever suas projeções”, explica Oltramari. José Márcio Camargo, professor da PUC-RJ e economista da Opus Gestão de Recursos, vai além: “Não acho que o governo Dilma fará um ajuste fiscal drástico. Provavelmente, usará o argumento de que a economia está crescendo para tentar segurar os gastos correntes e reverter isso para investimentos”.Além do fator alimentação, os analistas estão levando em conta o preço dos serviços, que continuam em ascendência, reflexo do maior poder de compra dos brasileiros.
Os gastos desenfreados do governo têm responsabilidade direta nesse quadro, pois sustenta a demanda doméstica, pondo a política monetária em situação difícil.
De acordo com os especialistas, se um ajuste fiscal não for realizado, a alta dos juros no ano que vem será necessária e, a depender dos resultados do IPCA, a elevação da Selic pode vir com intensidade.
Victor Martins Correio Braziliense
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