"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

julho 24, 2010

ELES SE ACHAM DONOS E QUE NÃO DEVEM EXPLICAÇÕES.

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O ministro da Fazenda, Guido Mantega, mais uma vez partiu para a agressividade para sustentar seus pontos de vista num debate público - e, mais uma vez, mostrou mais vocação para o destempero do que para a argumentação.


Ao defender a intervenção do Tesouro nos financiamentos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), tentou desqualificar os críticos dessa política, acusando-os de responsáveis pela hiperinflação e pela crise cambial.


"Eles quebrariam o País de novo", disse o ministro numa entrevista ao Estado.

Mais que inútil, o esforço foi contraproducente. Ele não conseguiu justificar a transferência de R$ 180 bilhões do Tesouro para o banco nem os subsídios - por ele estimados entre R$ 5,5 bilhões e R$ 6 bilhões - concedidos com dinheiro do contribuinte a empresários escolhidos pelo governo.

Também não respondeu à restrição técnica apontada pelos críticos: segundo eles, a relação promíscua do Tesouro com o BNDES é quase uma reprodução da conta movimento entre o Banco Central e o Banco do Brasil, criada no período militar e extinta na segunda metade dos anos 80.

A inflação foi a consequência mais notória dessa relação incestuosa e ele deveria conhecer tal fato.

Segundo o ministro, o dinheiro transferido ao BNDES, numa fase de escassez de crédito, serviu à política antirrecessiva.

Fato número um:
o primeiro aporte, de R$ 100 bilhões, ocorreu em 2009, mas a maior parte desse dinheiro, R$ 61 bilhões, foi transferida entre o fim de julho e o fim de agosto, quando a recuperação já havia começado.

O total foi desembolsado até março deste ano.

Fato número dois:
o segundo aporte, de R$ 80 bilhões, saiu em 2010, quando a economia crescia aceleradamente e a recessão estava superada. A explicação do ministro confunde fatos e datas da história recentíssima do País.

Outro detalhe omitido em sua exposição:
quase um terço dos R$ 100 bilhões - R$ 32,8 bilhões - foi destinado a projetos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e a maior parte dessa fatia foi para a Petrobrás, não para empresas privadas em busca de crédito para investir.
São dados do próprio BNDES.


Em seu destempero, o ministro omitiu ou distorceu outros fatos. Nenhum de seus antecessores foi responsável, sozinho, pela hiperinflação.
(...)
O fracasso do Plano Cruzado - iniciativa apoiada até com lágrimas por grandes figuras do petismo - deveu-se principalmente à tentativa de eliminar a inflação por meio de controles de preços e de truques, sem atenção à disciplina monetária e fiscal.

Erros desse tipo levaram o País à insolvência, mais de uma vez. Mas a crise de 2002 foi uma reação do mercado à tradicional pregação do calote pelo PT, favorável ao famigerado plebiscito da dívida pública.

O economista Guido Mantega, vinculado ao partido, defendia a "renegociação", quando gente escaldada considerava esse termo sinônimo de calote.

Os acertos econômicos nos dois mandatos do presidente Lula foram possibilitados por instrumentos criados em governos anteriores. A política monetária foi reabilitada nos anos 90.
(...)
O ministro Mantega fez coisas boas por haver usado instrumentos e princípios de política forjados por seus antecessores.
Ele mesmo nada criou.

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