A inflação continua ameaçando o poder de compra dos trabalhadores, mesmo com menor pressão dos preços dos alimentos.
No Ministério da Fazenda, o repique inflacionário do início do ano é tratado como assunto vencido.
Mas os números contrastam com a despreocupação exibida pelo ministro Guido Mantega e a maior parte de seus colegas do Executivo.
Em abril, a folha de salários da indústria foi 0,4% menor que a de março, descontada a inflação, segundo o IBGE. Isso ocorreu apesar do aumento de 0,4% no contingente ocupado e de 0,1% no total de horas pagas.
O quadro é mais perigoso do que parecem mostrar esses números. No mês passado encareceram 60,94% dos itens do IPCA.
Essa medida, conhecida como indicador de difusão, mostra a amplitude dos aumentos.
A porcentagem apurada em maio foi a mesma de abril e um pouco menor que a dos meses anteriores, mas continuou muito alta, desmentindo a tese - sustentada no Ministério da Fazenda - de aumentos de preços confinados ao mercado de alimentos.
Uma análise dos números mostra um cenário nada tranquilizador.
Especialistas costumam avaliar a tendência geral dos preços por meio de um exercício de depuração.
As variações encontradas ficaram entre 0,56% e 0,62%, todas maiores que as de abril. Se o ministro da Fazenda examinasse esses dados com alguma atenção, talvez se mostrasse menos tranquilo.
O INPC e o IPCA são de responsabilidade do IBGE.
As pesquisas da Fundação Getúlio Vargas (FGV) também justificam muita cautela diante das pressões inflacionárias.
Na primeira prévia de junho, o Índice Geral de Preços - Mercado (IGP-M) aumentou 2,21%.
Os preços ao consumidor diminuíram 0,26%, por causa da deflação dos alimentos, mas os preços por atacado subiram 3,14%, prenunciando novas pressões sobre o varejo. A alta, dessa vez, foi causada pela variação dos preços industriais (4,16%) e das matérias-primas brutas (11,26%).
O aumento do minério de ferro (75,25%) pesou na formação do índice e não se repetirá a curto prazo, mas deverá influenciar na formação de muitos preços.
Os números do atacado confirmam a amplitude das pressões e desmentem a tese da inflação restrita aos alimentos. Há um evidente efeito da demanda sobre os preços e boa parte desse fenômeno é explicável pela expansão do gasto público.
Para cumprir a promessa de conter a inflação, o presidente deveria frear as despesas federais, mas isso ele dificilmente fará, especialmente em ano de eleições.
O Estado de S. Paulo
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