"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

junho 14, 2010

O ÉBRIO E A INFLAÇÃO.

A inflação, até agora, só tem sido levada a sério e enfrentada pelo Banco Central (BC).

A inflação continua ameaçando o poder de compra dos trabalhadores, mesmo com menor pressão dos preços dos alimentos.

No Ministério da Fazenda, o repique inflacionário do início do ano é tratado como assunto vencido.

Mas os números contrastam com a despreocupação exibida pelo ministro Guido Mantega e a maior parte de seus colegas do Executivo.

Em abril, a folha de salários da indústria foi 0,4% menor que a de março, descontada a inflação, segundo o IBGE. Isso ocorreu apesar do aumento de 0,4% no contingente ocupado e de 0,1% no total de horas pagas.

No mês seguinte, os indicadores de inflação mais conhecidos apontaram certo arrefecimento dos preços, mas os dados continuaram preocupantes.

O quadro é mais perigoso do que parecem mostrar esses números. No mês passado encareceram 60,94% dos itens do IPCA.
Essa medida, conhecida como indicador de difusão, mostra a amplitude dos aumentos.
A porcentagem apurada em maio foi a mesma de abril e um pouco menor que a dos meses anteriores, mas continuou muito alta, desmentindo a tese - sustentada no Ministério da Fazenda - de aumentos de preços confinados ao mercado de alimentos.


Uma análise dos números mostra um cenário nada tranquilizador.
Especialistas costumam avaliar a tendência geral dos preços por meio de um exercício de depuração.


As variações encontradas ficaram entre 0,56% e 0,62%, todas maiores que as de abril. Se o ministro da Fazenda examinasse esses dados com alguma atenção, talvez se mostrasse menos tranquilo.

O INPC e o IPCA são de responsabilidade do IBGE.

As pesquisas da Fundação Getúlio Vargas (FGV) também justificam muita cautela diante das pressões inflacionárias.
Na primeira prévia de junho, o Índice Geral de Preços - Mercado (IGP-M) aumentou 2,21%.

Os preços ao consumidor diminuíram 0,26%, por causa da deflação dos alimentos, mas os preços por atacado subiram 3,14%, prenunciando novas pressões sobre o varejo. A alta, dessa vez, foi causada pela variação dos preços industriais (4,16%) e das matérias-primas brutas (11,26%).

O aumento do minério de ferro (75,25%) pesou na formação do índice e não se repetirá a curto prazo, mas deverá influenciar na formação de muitos preços.

Os números do atacado confirmam a amplitude das pressões e desmentem a tese da inflação restrita aos alimentos. Há um evidente efeito da demanda sobre os preços e boa parte desse fenômeno é explicável pela expansão do gasto público.

Para cumprir a promessa de conter a inflação, o presidente deveria frear as despesas federais, mas isso ele dificilmente fará, especialmente em ano de eleições.

O Estado de S. Paulo

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