Tão estratégico quanto árido, o tema das contas públicas perpassará de alguma maneira o debate eleitoral.
Mas, como pontos delicados referentes aos gastos públicos previdência, assistencialismo costumam inspirar, em campanhas, apenas frases de efeito, quando não promessas demagógicas, não se espere qualquer abordagem mais séria, profunda e realista do assunto pelos candidatos.
Haja o que houver na campanha, porém, a realidade se imporá na agenda do sucessor de Lula.
Até porque, no segundo mandato de Lula, ganhou força em Palácio um modelo próprio de capitalismo de Estado, em que se misturam gastança desmesurada para atender a anseios de corporações sindicais encasteladas na máquina estatal e o resgate de uma visão de política de crescimento fortemente lastreada no Tesouro.
Devido a esses fatores, é indiscutível o peso da herança fiscal de Lula, como alertou reportagem do GLOBO: pode ser que a dívida interna bruta chegue, quando Lula passar a faixa presidencial, a 64,4% do PIB, o mais elevado patamar em dez anos.
A expansão do indicador é expressiva, pois, em 2008, ele estava em 56,4% do PIB.
Alega o governo ser este o preço pelo fato de o país ter conseguido recuperar o crescimento econômico logo após o forte baque no final de 2008, na eclosão da crise mundial.
O argumento é correto na forma, equivocado na essência.
Alega o governo que os empréstimos do Tesouro ao BNDES daí esse dinheiro não aparecer nas estatísticas da dívida líquida, pois teoricamente um dia ele voltará ao caixa público, à medida que os credores paguem os financiamentos recebidos não representam perigo, por esta mesma razão.
Trata-se de uma falácia, pois, além da possibilidade de inadimplências, há um subsídio escondido na operação: a diferença entre os juros que o Estado paga para se endividar (hoje, 9,5% ao ano) e a taxa, bem menor (6%), cobrada nesses financiamentos.
O endividamento público para impulsionar a qualquer custo a expansão do parque produtivo via BNDES foi usado à larga no período Geisel em que se inspiram os atuais desenvolvimentistas , e deu no que deu.
Naquele tempo, também havia empresário escolhido para ter acesso a certos gabinetes brasilienses.
Não é exagero comparar estas operações à famigerada conta movimento, fechada no governo Sarney, pela qual o Banco do Brasil funcionava como virtual Casa da Moeda, com acesso direto ao Tesouro.
Era uma das fornalhas da caldeira da inflação, e ainda ajudou a levar ao estrondoso calote na dívida interna, na gestão Collor.
A História é sábia.
Fonte : Agência Globo
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