"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

maio 10, 2010

DILMA LULA DA SILVA

Dida Sampaio/AE

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Brasil S.A - Antônio Machado
Autor(es): Por Ricardo Allan
Correio Braziliense


No programa Casseta e Planeta, a pré-candidata petista à Presidência da República, Dilma Rousseff, é a estrela do quadro que simula um reality show.

Nele, os principais pretendentes ao Palácio do Planalto trocam farpas. A Dilma do Casseta fala com a voz de Lula, tem seus trejeitos e até lhe falta um dedo na mão.

Não há imagem que sintetize mais sua aventura pela seara eleitoral. Como uma charge política, vai direto ao ponto. Equivale a colocar a ex-ministra no colo do seu mentor e fazer dela um mero boneco de ventríloquo.

Isso não estaria longe do que ocorre desde que a então chefe da Casa Civil aceitou a missão de disputar a preferência do eleitorado. Ela só fala as palavras dele. Só tem as ideias dele. Só se comporta como ele.

Ela é ele de saia e sem barba.

Na semana passada, Dilma Lula da Silva teve uma rara oportunidade de mostrar conteúdo próprio. Não a aproveitou. Em participação especial no Reuters Latin American Investment Summit, na quarta-feira, desfilou uma série de platitudes sobre economia. Não teve um único momento de ousadia.

O que fez foi prometer mundos contraditórios. Garantiu que, eleita, continuaria com a política de cortar impostos sobre os investimentos produtivos, mas manteria a meta de superavit primário em 3,3% do Produto Interno Bruto (PIB).

Ela descartou fazer um novo ajuste fiscal.
“Para quê?
Ele está feito.
Eu não faria ajuste.
Eu vou fazer modificações”, disse.

Que alterações?
Em que pontos?
Silêncio...

Apertada pelos repórteres da agência Reuters, ela aceitou trocar o ajuste nas contas por uma reforma administrativa que incentive a meritocracia e o profissionalismo.

Não disse como a faria.


Emplastro

O fortalecimento da presença do Estado na economia é uma ideia fixa que se pendurou no trapézio mental de Dilma Lula da Silva, tal qual o emplastro na cabeça de Brás Cubas.

Com isso, a candidata a pilotar a economia e as relações internacionais brasileiras mostra que não está entendendo nada do que se passa na Grécia, o primeiro dos Piigs a cair — o acrônimo, que lembra pejorativamente a palavra “porco” em inglês, reúne Portugal, Itália, Irlanda, Grécia e Espanha, cinco países da Zona do Euro com altíssimo endividamento público e deficit fiscal.

Para fugir do debate, Dilma e seus assessores, como o ideólogo Marco Aurélio Garcia, acusam FHC e o candidato tucano, José Serra, de defender o Estado mínimo liberal. Se o testemunho já é falso em relação à Presidência do sociólogo, soa ridículo quando contraposto ao ex-governador de São Paulo.

Musculoso

Nunca é demais repetir:
o Estado brasileiro não tem que ser gigantesco nem mínimo. Precisa ser musculoso para ter uma presença forte onde ele é necessário, especialmente na saúde, educação e segurança.

O leitor deve chamar o Estado descrito acima da forma que quiser. O fato é que, para desempenhar sua função direito, o atual terá que passar por uma dieta.

Precisa ficar mais leve e, principalmente, invadir menos o bolso dos contribuintes em busca de recursos. No Brasil, o Estado, que já era gordo, ficou mais pesado no governo Lula. Contratou-se como nunca, apaniguados e concursados.

Os gastos com pessoal e encargos previdenciários tiveram aumento exponencial, embora a equipe econômica torture os números para que eles digam o contrário. Estatais foram criadas e até ressuscitadas (Telebrás).

Na administração Dilma Lula da Silva, se o eleitor decidir que ela sairá do mundo dos sonhos (alguns dirão pesadelos) para o real, o Estado brasileiro deve chegar à obesidade mórbida.

Ricardo Allan é subeditor de economia.

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