"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

março 07, 2010

VÍTIMA FARSESCA - PT

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Editorial da Folha de São Paulo
Vítima Farsesca


Com tese de que a "mídia" o persegue, PT mantém figurino autoritário e se faz de injustiçado para encobrir falência moral

O TRUQUE é velho, e sua repetição só indica o hábito petista de afetar ares de pureza em meio ao pragmatismo mais inescrupuloso.

A promover tal "guerra" estariam "amplos setores do empresariado, particularmente a mídia". Mídia, no jargão corrente, significa todo jornal ou empresa de comunicação que não defenda figuras notórias do partido


Como, por exemplo, o ex-ministro José Dirceu, beneficiário de uma contribuição de R$ 620 mil pela assessoria prestada a um grupo com interesse na reativação da Telebrás.

Ou como os mensaleiros denunciados por quem era então aliado do governo, o deputado Roberto Jefferson; ou ainda os "aloprados" -termo que o presidente Lula foi o primeiro, aliás, a empregar- da campanha eleitoral de 2006.

Como, também, aquele assessor de um deputado petista, que foi preso ao tentar embarcar num avião com cerca de U$ 100 mil dólares na cueca.

Aliás, se noticiar esse sistema de transportar dinheiro sonante fosse sinal de "guerra de extermínio", seria agora o DEM, e não o PT, a principal vítima de uma suposta conspiração. Mas nem mesmo os sequazes do governador Arruda arriscaram-se a ir tão longe no cinismo.

É que a capacidade petista para a mentira tem origens diferentes, e mais antigas, do que a simples charamela lacrimosa dos espertalhões de voo curto.

Pois o PT, no clássico figurino stalinista, sempre pode dar uma interpretação "de classe" às críticas que venha a merecer.

Como o partido se julga o representante místico dos "trabalhadores", o financiamento escuso que receba de empreiteiras, as alterações legais casuísticas que promova em favor de uma empresa de telecomunicação, não representarão escândalo jamais.

Ao contrário:
aliar-se financeiramente a "setores do empresariado" que vivem à sombra das benesses do governo, e aliar-se politicamente à escória do Legislativo brasileiro, torna-se um sinal de esperteza política na linha dos fins justificam os meios.

Autoabsolvido pelo venerável espírito hegeliano-marxista da História, o petismo pode fazer tudo o que condenava em seus adversários, e apresentar-se ainda assim como detentor das virtudes mais cristalinas.

Quem apontar a farsa será tachado de inimigo dos trabalhadores -e, na tese de uma imaginária "guerra de extermínio", o PT mostra apenas a sua própria tentação totalitária.

Nessa lógica, que não admite críticas, faz-se de perseguido aquele que se apronta para perseguir;
faz-se de vítima quem pretende ser algoz; faz-se de democrata o censor, de honesto o corrupto, de inocente o bandido.

O PT perdeu a moral que tantas vezes ostentava quando na oposição.
Perdeu a moral, mas não perde o autoritarismo, a mendacidade e a arrogância.

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