"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

janeiro 20, 2010

SOBRE OS SUBMARINOS FRANCESES

Clique na imagem


A opção pelo Submarino Classe Scorpène
 
O processo de escolha do Submarino Classe Scorpène foi longo, exaustivo e criterioso, e envolveu reuniões, visitas a países possuidores de submarinos nucleares e de submarinos dessa Classe, além de análises de diversos relatórios e intensas negociações.

Assim, para se chegar à conclusão sobre o melhor projeto de um submarino convencional que atendesse a Marinha, executou-se uma extensiva pesquisa nos diversos modelos de submarinos disponíveis, junto aos países que os detém, para se conhecer as qualidades e limitações de cada um deles.

Como qualquer projeto dessa complexidade, é natural que existam vantagens e desvantagens em cada uma das opções examinadas, avaliações que foram consideradas nos citados relatórios e que serviram de base para a escolha.
 
Algumas características do projeto do Submarino Scorpène merecem especial destaque. Diferentemente do usual, apesar de tratar-se de um submarino convencional, seu projeto não constitui evolução de uma classe convencional anterior; pelo contrário, seu casco hidrodinâmico é derivado do submarino nuclear “Rubis/Amethyste”, mas mais compacto. 
Essa classe de submarinos, denominada classe Rubis , tem seis unidades em operação na Marinha Francesa. Além disso, emprega tecnologias usadas nos submarinos nucleares franceses, como o sistema de combate SUBTICS.
 
Em decorrência, dentre as vantagens que apresenta, seu projeto destaca-se por facilitar uma rápida transição para o nuclear, haja vista sua forma de casco clássica daquele tipo de submarinos, com hidrodinâmica apropriada para elevados desempenhos em velocidade e manobra.
 
Pode-se observar a diferença entre um casco tipicamente de nuclear - como o do Scorpène (figura ao lado, acima) – comparado com o de um convencional clássico, um IKL-209 (figura ao lado, abaixo).

Além das peculiaridades de projeto, o Scorpène tem a vantagem de empregar os mesmos sistemas (sensores, sistema de combate, armamento, sistema de controle da plataforma etc) existentes nos submarinos nucleares franceses. Ajustes de software compatibilizam as diferentes necessidades de desempenho. Do ponto de vista logístico e de atualização tecnológica constitui diferencial respeitável.

Assim, considerando a necessidade brasileira de abreviar processos, - na verdade, queimar etapas, sem jamais comprometer a segurança –, a escolha do projeto do Scorpène, para servir de base ao desenvolvimento do projeto do nosso submarino de propulsão nuclear, resulta de aprofundados estudos e amadurecido processo de tomada de decisão. No entender da Marinha, essa escolha constitui a opção de menor risco para o êxito da empreitada, de resto, um acalentado sonho da Força Naval há, já, trinta anos.

Os submarinos serão construídos no Brasil. Nesse caso, o modelo do submarino Classe Scorpène será adaptado por nossos Engenheiros Navais. O índice de nacionalização será bastante elevado, havendo em cada um mais de 36.000 itens, produzidos por mais de 30 empresas brasileiras.

O acordo com a França, país que possui grande experiência no assunto e tecnologia bastante moderna, visa abreviar as etapas da parte não nuclear do submarino de propulsão nuclear, com a transferência de tecnologias de projeto e construção. Existe também um grande interesse da Marinha em conseguir que empresas francesas transfiram a indústrias nacionais a capacidade de fabricação de importantes equipamentos, que possuem requisitos de desempenho bastante rigorosos, exigidos para a operação em condições extremamente severas, como é o caso de submarinos.

Esse convênio está em fase final de discussão, mas, ressalta-se que, nos moldes pretendidos pela Marinha, ele prevê a transferência de tecnologia para a construção de submarinos convencionais e para a parte não nuclear do submarino com propulsão nuclear. 
Como exemplos, podemos mencionar a estrutura do casco resistente, as condições de desempenho hidrodinâmico, os periscópios, sistemas de combate e de comunicações, o teste dos hélices em laboratórios especializados, entre outras áreas.

Considerando a garantia dada pelo Governo Francês da transferência da tecnologia e as experiências positivas observadas sobre o Submarino da Classe Scorpène, a Marinha não teve dúvida em optar por essa obtenção.

CENTRO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL DA MARINHA

OPINIÕES :
A verdade sobre os custos do programa nuclear

O que provocou nos últimos dias mais «sururu» ao nível de alguma midia brasileira e opinião pública, foi a revelação de forma mais ou menos «crua» do valor do programa acordado com os franceses de 6.7 bilhões de Euros.

O valor é alto, e inevitavelmente a dimensão do investimento assusta muita gente e pode ser utilizada como argumento politico em período quando se aproxima um período eleitoral.
A critica aos investimentos militares é normalmente terreno fértil para as guerras entre partidos e entre candidatos, porque a dimensão dos investimentos militares assusta qualquer um e a critica a esses gastos pode render votos com alguma facilidade.

Mas pior que os 6.7 bilhões de Euros ou 18.4 bilhões de Reais, é a possibilidade de este valor cobrir apenas uma parte do investimento total relacionado com o programa nuclear brasileiro. A ideia de que a industria brasileira consegue sempre «baratear» os custos, não corresponde à realidade e pode até acontecer o inverso.
O auxilio dos franceses terá sempre limites e deverá estar condicionado por prazos e por objetivos que devem ser atingidos dentro de um determinado espaço temporal.
O valor cobre quatro submarinos Scorpene e apoio no desenvolvimento de um submarino nuclear de ataque. Se cada navio Scorpene custar 400 milhões de Euros, isso implica que 5.1 bilhões serão destinados ao submarino nuclear. Uma unidade.
Uma unidade e nada é praticamente a mesma coisa. Se não for desenvolvida uma classe de no mínimo três unidades.

A importância de informar

A informação para a opinião pública sobre os gastos do programa é da maior importância, pois o submarino vai ficar muito caro, mas não é aconselhável «cortar» verbas num programa onde a segurança assume uma importância vital.
O programa do submarino nuclear brasileiro poderá não sobreviver, se qualquer problema de desenvolvimento ocorrer a meio do caminho numa altura em que uma opinião pública adversa, esteja olhando para esse programa como um gasto inútil.

O programa nuclear brasileiro é acima de tudo uma afirmação política e não um programa militar. Só possuem submarinos de propulsão nuclear os Estados Unidos, a Rússia, a França e a Grã Bretanha e a China. A própria Índia decidiu adquirir os seus primeiros submarinos de ataque movidos a energia nuclear comprando dos russos.

Países com grandes recursos tecnológicos e financeiros como o Japão e a Alemanha optaram por não seguir por esse caminho.

A ideia de que o Brasil precisa de um submarino rápido que possa patrulhar a «Amazónia azul» é pouco consistente, pois a presença nessas águas precisa de navios de patrulha oceânica para «mostrar bandeira» e patrulhar as águas.

O Brasil sempre assumiu um posicionamento de não intervenção em questões internacionais, pelo que o seu posicionamento defensivo dificilmente justifica a aquisição de tal tipo de arma por razões militares, ainda mais porque para patrulhar mesmo em áreas oceânicas, os novos submarinos oceânicos com AIP são igualmente eficientes e muito mais baratos.

Resta aos políticos explicar e justificar a mais cara aquisição militar alguma vez feita pelo Brasil.

[1] – A potência nominal será de aproximadamente 50MW.
[2] – Em comparação o sistema AIP alemão atinge no máximo 80 ºC, é arrefecido por um sistema interno e aproveita 70% da energia, porque as células de combustível alimentam diretamente o motor eléctrico.

Luis Carlos / P.Mendonça

Este texto é da autoria de Luis Carlos Gomes e foi publicado em 14.07.2009.

Outra : 

os submarinos franceses possuem uma manutenção mais cara e complexa que os alemães; oficiais chilenos informaram que todos os sistemas possuem pressões e capacidades nominais maiores que os congêneres alemães, o que dificulta a sua manutenção. Ex. os disjuntores da propulsão nos submarinos alemães de 2 e 3 KVA, são de 10 KVA no Scorpene, potencializando as dificuldades e custos de manutenção.

Nenhum comentário: