"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

dezembro 03, 2009

ENQUANTO ISSO... EM PORTUGAL.


Paul Robin Krugman

Eva  Gaspar
egaspar@negocios.pt
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O Prémio Nobel da Economia, Paul Krugman,
  deixou hoje uma advertência velada aos investidores mundiais sobre o risco de o Brasil se estar a transformar num novo palco de uma bolha especulativa, ao afirmar que tenciona desfazer-se de algumas aplicações feitas no país.

Em declarações citadas pela agência Bloomberg, Krugman diz estar a planear vender alguns dos seus investimentos “por causa do que está a acontecer”. 

“Não é que eu antecipe uma crise, mas os investidores parecem estar a gostar demasiado” de apostar no Brasil, explica.

O Ibovespa, principal índice da bolsa brasileira, acumula neste ano ganhos superiores a 60%, impulsionados principalmente por investimentos estrangeiros. Paralelamente, o real valorizou cerca de 35% contra o dólar, sofrendo, segundo a Bloomberg, a maior apreciação relativa entre as 16 moedas mais utilizadas no mundo.

As reticências de Krugman surgem depois de, há duas semanas, o País ter sido capa da “The Economist”.
Com o título sugestivo “Brasil finalmente levanta voo”, a prestigiada revista britânica sustentava que o país começa agora a dar corpo à “promessa” que sempre foi de riqueza e de relevância política no xadrez mundial.

A atenção mediática seguiu-se a uma visita de Lula da Silva a Londres, na qual o Presidente brasileiro garantiu que o Brasil engrenou numa dinâmica de crescimento que levará o país a converter-se na quinta maior potência do mundo no espaço de uma década.

Na sua visita a Londres, Lula foi acompanhado do seu ministro das Finanças, Guido Mantega, e de outros membros do Governo – designadamente de Dilma Rousseff, ministra-chefe da sua Casa Civil e provável candidata à Presidência no final de 2010.

Na ocasião, Mantega insistiu que a valorização exponencial dos títulos cotados na Bolsa brasileira é o reflexo de uma “exuberância racional” dos investidores e que a subida de 187% no valor em dólares das acções negociadas na Bolsa de São Paulo (Bovespa) nos últimos 12 meses – que disse ser a maior entre todas as Bolsas de Valores do mundo - é "uma exuberância, mas não é uma exuberância irracional, é racional".

Mantega referia-se à frase proferida em 1996 pelo então presidente da Fed, quando Alan Greenspan advertiu para a excessiva valorização das acções de empresas tecnológicas antes de bolha das “dot.com” ter explodido em 1999.

"Justamente por não querermos que essa exuberância se torne irracional é que tomámos algumas medidas", afirmou, dando como exemplo a reintrodução, a uma taxa mais elevada de 2%, do Imposto sobre as Operações Financeiras, destinada a travar a entrada excessiva de dólares e também a valorização do real face à divisa norte-americana.

"Não queremos bolhas, não queremos exageros", disse o ministro, retomando desta feita a advertência recentemente lançada por Nouriel Roubini, que receia que a desvalorização do dólar e os juros baixos nos Estados Unidos estejam a criar uma "bolha" de valorização de activos nos países emergentes.

Segundo Roubini, os investidores estão a contrair empréstimos em dólares a juros baixos nos Estados Unidos e a aplicá-los em activos em países emergentes, como o Brasil, a China e a Índia, ganhando duplamente com uma rentabilidade maior e com a valorização do câmbio.
O perigo é de um retorno em massa de capitais, logo que a moeda americana trave as quedas ou os juros da Fed comecem a subir.

Idênticos alertas foram já feitos pelo Banco Mundial e o anúncio de Paul Krugman, Prémio Nobel da Economia, de que vai reduzir a exposição da sua carteira de investimentos ao Brasil, dá-lhes agora maior relevância.