"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

dezembro 04, 2013

BRASIL REAL SEM O MARQUETINGUE DOS VELHACOS : O PIB do Brasil encolhe e há risco de recessão

A economia brasileira ficou menor.
Apesar de todos os estímulos dados pelo governo, o Produto Interno Bruto (PIB) do terceiro trimestre registrou queda de 0,5% ante os três meses imediatamente anteriores, o maior tombo desde janeiro a março de 2009, quando a atividade encolheu 1,6% e o Brasil mergulhou na recessão, empurrado pelo estouro da bolha imobiliária dos Estados Unidos. O resultado, que provocou comoção no Palácio do Planalto e elevou o tom das críticas da oposição, superou a média das projeções do mercado, de queda de 0,3%. 


O recuo refletiu, sobretudo, a desconfiança do empresariado em relação à política econômica da presidente Dilma Rousseff, que tem sido leniente com a inflação, elege setores específicos para receber benefícios, intervém na condução dos juros pelo Banco Central, recorre a truques fiscais para mostrar uma saúde que as contas públicas não têm e congela as tarifas públicas. Não à toa, os investimentos produtivos cederam 2,2%, a grande surpresa negativa divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com a agropecuária, que tombou 3,5%. O saldo só não foi pior graças à força do consumo das famílias, com incremento de 1%, e à gastança do governo, que teve alta de 1,2%.
 
“Infelizmente, o risco de haver uma recessão no país não é desprezível. A maioria dos indicadores antecedentes de atividade e as condições financeiras sinalizam contração na atividade nos últimos três meses do ano”, disse Vagner Alves, economista da Franklin Templeton.

Mas não é só.

 “Também estamos vendo uma economia muito fraca no primeiro trimestre de 2014”, acrescentou. Com isso, ele reduziu, de 2,4% para 2,2%, a projeção de crescimento para o PIB neste ano e acredita que o resultado de 2014, quando a presidente Dilma tentará a reeleição, será inferior a 2%. Pelos cálculos do banco inglês Barclays, o avanço no próximo ano será de 1,9%, na melhor das hipóteses.

Dificuldades
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, mantém o otimismo. Para ele, a economia brasileira está em trajetória de expansão gradual, que deve se manter nos próximos trimestres. “A recuperação talvez não esteja na velocidade que gostaríamos”, reconheceu. “Mas ainda é possível que o PIB avance 2,5% neste ano”, emendou. No entender dele, “houve uma concentração de crescimento no segundo trimestre (quando o PIB teve alta de 1,8%)”, por isso, “o país teve dificuldade de crescer agora”. “A base de comparação fica mais difícil após um bom resultado”, justificou. Segundo ele, isso pode explicar o fato de o Brasil ter sido o país com o pior desempenho, em todo o mundo, entre julho e setembro.

Mantega reconheceu que a altas dos juros promovida pelo Banco Central teve impacto negativo sobre a atividade econômica. Em abril passado, a taxa básica (Selic) estava em 7,25%, a menor da história, mesmo com a inflação em disparada. Agora, chegou a 10%, a fim de conter o custo de vida por meio do encarecimento do crédito e da restrição ao consumo. A expectativa dos analistas é de que, com o PIB minguando, a presidente Dilma obrigue o BC a encerrar o arrocho em janeiro, no máximo, com mais uma alta de 0,25 ponto percentual, para 10,25%.

Entre integrantes da equipe econômica, a avaliação, quase consensual, é de que o próximo ano deverá ser ainda mais difícil para o Brasil, diante da redução dos estímulos dados à economia dos Estados Unidos, que resultará em fuga de recursos de países emergentes e, por tabela, na alta do dólar. A desconfiança em relação ao governo, que já é grande, tende a se agigantar, pois não se espera corte de gastos públicos em um período eleitoral.
 

Na lanterna
Entre julho e setembro deste ano, de 13 países listados pelo IBGE, o Brasil teve o pior resultado. Ficou atrás até da Espanha e de Portugal, economias cambaleantes, que avançaram, em relação ao segundo trimestre, 0,1% e 0,2%, respectivamente. No grupo dos Brics, que agrega os principais emergentes, o Brasil, com salto de 2,2% ante o terceiro trimestre de 2012, ficou bem distante da China, que cresceu 7,8%, e da Índia, com 4,8%. Mas superou a África do Sul, com aumento de 1,8% e a Rússia, com 1,2%. 

Para o economista-sênior do Espírito Santo Investment Bank, Flávio Serrano, qualquer que seja o parâmetro de comparação, os dados do PIB brasileiro são decepcionantes. “Os números mostram que não conseguimos crescer, embora existam diversas medidas para estimular o consumo. Os resultados práticos das ações do governo são deficit recorde nas contas externas e mais inflação, consequências de um desequilíbrio macroeconômico de pouca produção para muito consumo”, assinalou.

 Segundo ele, a indústria, que deveria estar em plena atividade para atender o consumo das famílias, ficou estagnada, com avanço de 0,1%. O mesmo ocorreu com o setor de serviços. Segundo Delfim Netto, ex-ministro da Fazenda e um dos conselheiros da presidente Dilma, o dólar barato por muito tempo acabou com a indústria de manufaturados. 

Com a queda do PIB, a oposição criticou o governo. 
O governador de Pernambuco, Eduardo Campos, pré-candidato à Presidência da República pelo PSB, disse que o Brasil atravessa uma crise de expectativas que começa a afetar o desempenho da atividade econômica.

Segundo o Instituto Teotônio Vilela, ligado ao PSDB, “o PT mergulhou o país num mar de desconfiança, que implode diariamente os alicerces que nos fizeram chegar até aqui. A experiência com Dilma Rousseff é desastrosa”.

Vicente Nunes
Correio Braziliense

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