"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

outubro 11, 2013

Entre promessas e beijos


O governador de Pernambuco, Eduardo Campos, e a ex-senadora Marina Silva decidiram explorar politicamente a polêmica gerada nos últimos dias sobre quem será o cabeça de chapa nas eleições presidenciais do ano que vem. Os dois almoçaram ontem em São Paulo, no primeiro encontro deles após o anúncio da aliança, no último sábado, em Brasília. E decidiram esticar ao máximo a definição sobre quem será o candidato ao Planalto. 

"Temos a necessidade de começar a mudança política. E vamos começar cometendo os mesmos erros das práticas políticas que estamos condenando? Começar a discussão pela chapa, nomes, arranjo eleitoral para ir para o político de novo? Não, nós temos clareza de que essa é a hora de debater conteúdo, o futuro. Em 2014, vamos tomar a decisão sobre a chapa", afirmou Campos. 

Marina concordou com as palavras do presidente do PSB e afirmou que a parceria entre ambos inverte a lógica da política tradicional. "Tradicionalmente, faz-se uma aliança eleitoral, ganha-se o governo e depois inventa-se um programa. Nós estamos fazendo uma união programática, vamos adensar a aliança, dar substância ao conteúdo e, aí, sim, a aliança programática poderá se tornar uma aliança fática", disse Marina.

A estratégia foi desenhada durante a reunião de duas horas ontem entre Eduardo e Marina. Os dois avaliaram a repercussão da polêmica sobre a cabeça de chapa, que abriu uma discussão entre a militância dos dois partidos e ministros do governo Dilma Rousseff, além de fomentar debates em redes sociais e nas páginas de jornal. A análise é de que, nesse momento, o melhor a se fazer é deixar a dúvida no ar para confundir os adversários. 

Não sem antes alfinetar os demais postulantes ao Palácio do Planalto.

"Quem tem estrutura use a estrutura. Quem tem muito tempo de televisão use muito tempo de televisão. Nós temos histórias e ideias novas que haverão de encantar os corações, as mentes de muita gente que não está presa nisso", afirmou Eduardo. O governador pernambucano disse que a Rede e o PSB têm "paciência de sobra" para acompanhar as provocações. "Se acham que vão ficar nos provocando, que fiquem", disse. 

"Aqui não tem jogo, tem gente que tem coragem de fazer, gente que veio de uma história política que venceu muitas adversidades. Nós já enfrentamos coisas muito mais complicadas do que teremos que enfrentar até a hora certa em 2014." Marina estará em Recife na semana que vem e os integrantes da Rede e do PSB promoverão um seminário no próximo dia 29 para começar a rascunhar o programa de governo conjunto dos dois partidos.

Cautela

Um adversário de Eduardo, certa vez, afirmou que ele, a exemplo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, é um exímio jogador de xadrez. Mas, ao contrário de Lula, que movimenta as peças no tabuleiro sob os olhos do oponente, Eduardo esconde os bispos e peões, tornando imprevisíveis os passos seguintes. É nisso que o presidente do PSB aposta nesse instante. Trabalhar em silêncio para evitar, uma exposição antecipada da própria candidatura. 

Vários fatores reforçam a cautela de Marina e Eduardo. O primeiro delese evitar a desmobilização da militância. Os socialistas sabem da insatisfação de boa parte dos marineiros com a aliança entre os dois presidenciáveis, pois um grupo preferia que ela ficasse de fora da disputa ao Planalto em 2014: para reverberar o argumento de que havia sido vítima de umar injustiça do Tribunal Superior Eleitoral. 

Já os socialistas queixaram-se com as declarações dúbias de Marina sobre quem seria o cabeça de chapa e apressaram-se em anunciar que não; há dúvidas de que o escolhido será Eduardo Campos.

"Se o candidato não for og Eduardo, o PSB implode. Mas não precisamos definir isso agora", confirmou um integrante da direção partidária. Outro fator que toma prudente o adiamento da definição é a ainda dispare situação de ambos nas pesquisas de intenção de voto. No último levantamento feito pelo Datafolha, Eduardo aparece com 8% dai intenções de voto e Marina, com 26%.

 "Isso tende a se dissipar no futuro.Até porque não fará mais sentia do medir a intenção de votos de alguém que não será mais candidata, prosseguiu o dirigente socialista. 

A aliança, contudo, comprou mais uma briga, além da polêmica entre pessebistas e marineiros. O DEM, que ensaiava um flerte com Eduardos saiu em defesa do deputado Ronaldo Caiado (GO), pré-candidato do partido ao governo de Goiás, que foi alijado da parceria com o PSB goiano após Marina criticar a possibilidade de aliança com um ruralista. Interlocutores do PSB disseram que o tema é página virada e que só valeria a pena comprar uma briga se o DEM nacional concordasse em se aliar aos socialistas.

A expectativa é de que os democratas apoiem o senador Aécio Neves (MG), do PSDB.

O presidente nacional do DEMÇ. senador José Agripino (RN), soltou nota defendendo Caiado. "O DENC entende ter no deputado Ronaldo Caiado, líder da bancada na Câmara dos Deputados, um honrado intérprete de suas ideias voltadas para a produção e a consequente geração , de empregos no campo. Repudia qualquer manifestação de demérito; ao seu líder, competente e bem intencionado, cuja ação objetiva, só e somente só, o interesse nacional."

Propaganda na tevê 

A propaganda partidária do PSB, que foi ar ontem à noite, destacou a aliança entre Eduardo Campos e Marina Silva. Eles defenderam fazer uma "nova política, com novas Lideranças". Na parte final do vídeo, aparecem trechos dos discursos de Eduardo e Marina, em forma de jogral, proferidos no último sábado, quando a ex-senadora firmou o acordo político com os socialistas.

PAULO DE TARSO LYRA/Correio Braziliense

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