"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

março 21, 2013

brasil DOS FARSANTES E FALSÁRIA 1,99 : Brasileiros cada vez mais endividados


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Incentivo à compra e inflação alta deixam o orçamento familiar no vermelho. Em março, 61,2% dos consumidores disseram ter algum tipo de dívida. Há um ano, esse índice era de 57,8%.

Os pobres são os que mais devem

As dívidas ocupam espaço cada vez maior no orçamento das famílias brasileiras e quitá-las está mais difícil, pois a inflação corrói os ganhos salariais conquistados no passado. Indicadores divulgados ontem confirmam essa tendência e acendem um sinal de alerta para o principal motor da economia do país:
o consumo.

É o quarto mês seguido que o índice de endividamento das famílias ficou acima de 60%, conforme dados da Confederação Nacional do Comércio (CNC).

Em março, 61,2%, das 18 mil famílias ouvidas em todas as capitais do país, informaram ter algum tipo de dívida — número menor que os 61,5% de fevereiro, mas bem acima dos 57,8% computados há 12 meses.

Desse total, 19,5% possuem alguma conta atrasada, abaixo dos 22,1% de fevereiro. Enquanto isso, a inadimplência no comércio está em alta. Subiu 6,65%, em fevereiro, na comparação com o mesmo período de 2012, segundo a Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas (CNDL).

O início do ano é um período em que as dívidas são tradicionalmente maiores, mas as políticas de estímulo ao consumo do governo contribuíram para o comprometimento da renda familiar.

“Se olharmos para a trajetória do endividamento, houve uma pequena queda entre fevereiro e março, mas ainda não foi suficiente para voltar ao nível de 2012”, explicou a economista Marianne Hanson, responsável pelo estudo mensal da CNC.

A pesquisa revela que as famílias pobres são as que mais devem, entretanto, as ricas contraíram mais débitos no período, principalmente comprando carro. O cartão de crédito é o líder das dívidas das famílias brasileiras (76,3%), seguido por carnês (20,2%) e por financiamento de automóveis (14%), que superou o item crédito pessoal pela primeira vez (ver quadro ao lado).
 

Hanson reconheceu que a inflação próxima ao teto da meta (6,5%) — mais que o triplo do considerado razoável pelas economias desenvolvidas, como os Estados Unidos, cuja meta é de 2% — é um dos motivos para esse aumento da inadimplência em março.

O presidente da CNDL, Roque Pellizzaro Junior, também admitiu que o aumento dos preços ajudou a elevar a inadimplência em fevereiro, e, por isso, o resultado era esperado. “As famílias brasileiras foram estimuladas a consumir. Só que o orçamento foi corroído pela inflação”, explicou.

Foi o que aconteceu com a cabeleireira Ludmilla Guimarães, 35 anos.
Ela resolveu reformar o seu salão de beleza em outubro passado, mas não se organizou financeiramente para as compras. A fatura do cartão de crédito, de R$ 5,6 mil, precisou ser parcelada em seis vezes.

“Foi pior. Minha dívida passou para quase R$ 7 mil por causa dos juros”, contou.

Modelo esgotado

Na avaliação do consultor Roberto Luis Troster, o endividamento das famílias permanecerá elevado porque o brasileiro continua sendo estimulado a comprar. A taxa de emprego elevada dá segurança para consumir, assim como o aumento da renda. “Isso é bom para a economia.

Mas o modelo econômico escolhido pela presidente Dilma (Rousseff), baseado apenas no consumo, vem dando sinais de esgotamento”, alertou.

Para ele, o indicador das famílias com contas atrasadas (19,5%) é “preocupante, apesar do recuo frente ao mês anterior, porque está acima da média internacional, que gira em torno de 3%”, disse.

“Não à toa, o crédito continua diminuindo no mercado. Para os empréstimos pequenos, de até R$ 5 mil, à pessoa física ou jurídica, a oferta já caiu pela metade”, revelou.

Troster acredita que, neste ano, o consumo terá uma influência no desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) menor do que a de 2012, quando a economia brasileira avançou apenas 0,9%. A mesma opinião é compartilhada por Marianne, da CNC, pois ela prevê uma desaceleração na expansão do setor.

“O ritmo de crescimento do comércio vem diminuindo desde 2011. Nossa previsão para 2013 é de uma alta de 6% a 6,5%, abaixo dos 8,4% de 2012”, explicou.

Para Otto Nogami, professor de economia do Insper, “o cenário ainda é nebuloso em relação à recuperação da economia. Há muitas incertezas e o governo tem mais falado do que agido”, disse ele em referência aos pacotes de investimentos que ainda não decolaram.

“Entramos numa espiral recessiva. O aumento do endividamento eleva a inadimplência, que acaba repercutindo na queda do consumo. Isso gera menos produção, menos uso de matéria-prima, menos emprego, menos renda, e, de novo, aumento do endividamento e assim por diante”, explicou.

Nogami prevê um avanço de 2,8% no PIB deste ano, abaixo dos 3% previstos pela CNC.

“O governo já deveria saber que as soluções não podem ser apenas pontuais. Elas precisam estar em um processo mais amplo, de médio e de longo prazos, que permita a recuperação da economia e promova um processo de crescimento sustentável”, disse o professor do Insper.


ROSANA HESSEL » ANA CAROLINA DINARDO Correio Braziliense 

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