Uma discussão interessante ganhou corpo entre nossos irmãos portugueses. Flagrada em uma blitz da lei seca no início de janeiro, a deputada socialista Glória Araújo encontra-se no furacão de uma polêmica que envolve ética, política e responsabilidade civil.
Às 3h20, no centro de Lisboa, os policiais da Operação Stop pararam o veículo conduzido pela parlamentar, que naquela madrugada retornava da festa de aniversário de 37 anos.
Ao que consta, Glória Araújo não se recusou a soprar o bafômetro, medida largamente utilizada por muitos motoristas brasileiros, sob a alegação de que não se deve produzir prova contra si próprio. O teste no etilômetro acusou 2,41 gramas de álcool no sangue, medida que configura crime segundo o Código da Estrada português.
Esta semana, Glória Araújo comentou o episódio ao jornal i. E lançou sua defesa. Admite que cometeu um erro, mas entende que um flagrante de crime de trânsito não é suficiente para perda de mandato parlamentar.
“A análise que faço do que se passou e do erro que cometi não me leva a concluir que isso me obrigue a renunciar ao meu mandato ou a tomar qualquer outro tipo de atitude para além daquela que já tomei.(...) Serei julgada e a sentença que me for atribuída, cumpri-la-ei como qualquer outro cidadão”, disse Glória Araújo. Não é assim que pensam os leitores do Público.
Em enquete proposta pelo site do jornal, até ontem à tarde, 65% dos internautas afirmavam que a deputada deve renunciar, por dois motivos:
a) Cometeu um crime;
e b) Quem votou no Partido Socialista poderá não se sentir representado pela senhora deputada.
Na outra ponta, 35% dos participantes não viam razão em haver uma punição na esfera política para Glória Araújo.
É de se perguntar se os políticos brasileiros — e os deputados e senadores em particular —, enfrentariam esse gênero de debate por conta de um delito que não tem relação direta com a atividade parlamentar.
Na Câmara dos Deputados que acabou de eleger Henrique Eduardo Alves, segue forte a pressão para a casa legislativa confrontar a sentença condenatória do Supremo Tribunal Federal contra três parlamentares envolvidos no mensalão.
E o novo presidente do Senado acredita que a ética é tão somente um instrumento para se buscar um bem maior, chamado interesse nacional.
Eis aí mais uma das peculiaridades do nosso país.
Carlos Alexandre
Correio Braziliense
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