Pela primeira vez na história brasileira, uma empresa voltada ao varejo desbancou a Petrobras e tornou-se a maior companhia do país em valor de mercado. O feito é de uma cervejaria.
A fabricante Ambev - dona de marcas como Brahma, Antarctica, Skol, entre outras - valia R$ 248,7 bilhões na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) no fechamento de quarta-feira, o suficiente para desbancar por R$ 1,5 bilhão a gigante estatal Petrobras (R$ 247,2 bilhões) de seu trono. Ontem, a Petrobras recuperou o primeiro lugar com ligeira vantagem - R$ 100 milhões -, de acordo com dados da consultoria Economatica.
Mas, segundo analistas, a Ambev deve aparecer mais vezes no topo do ranking de empresas de capital aberto do país, simbolizando a força do consumo interno aliado a uma gestão de qualidade.
- Mesmo com a economia crescendo num ritmo menor este ano, o pleno emprego no país e a manutenção da renda beneficiaram empresas ligadas ao varejo, como a Ambev, nos últimos anos. Isso explica uma parte de vermos a companhia escalar tão rapidamente até o topo - diz Alexandre Póvoa, sócio-diretor da Valorando Consultoria. - Nada impede que isso possa se repetir. São movimentos do mercado.
Com cerca de 70% de participação no mercado nacional, as ações da Ambev foram uma das que mais se beneficiaram do crescimento do mercado interno. O país tornou-se neste ano o terceiro maior produtor de cerveja do mundo, segundo dados da CervBrasil, com 13 bilhões de litros produzidos. As ações preferenciais (PN, sem voto) acumularam assim um ganho de 29,33% no ano.
Os papéis ordinários (ON, com voto) valorizaram-se ainda mais, 41,09%. Nesse período, o valor da empresa avançou para R$ 248,7 bilhões até quarta-feira, salto de R$ 61,2 bilhões.
Segundo Einar Rivero, da Economatica, a Petrobras foi desbancada do trono de maior empresa do Brasil poucas vezes na História. Um delas foi para a Vale, em setembro de 2010, por apenas um dia. A mineradora foi maior do que a petroleira também entre 1995 e 1996. Nesse período, a Eletrobras foi algumas vezes a maior companhia do país.
MERCADO VÊ DIFERENCIAL NA GESTÃO
Segundo analistas, o surgimento da Ambev no topo do ranking também está ligado aos problemas enfrentados pela Petrobras, uma das maiores petroleiras do mundo. Os papéis preferenciais da estatal brasileira recuam 11,20% no ano. Os ordinários perderam 14,55%. O valor de mercado da estatal tombou assim R$ 44,3 bilhões no período, para os atuais R$ 247,2 bilhões. O motivo para as perdas tornou-se uma unanimidade entre especialistas.
- O governo impede que a Petrobras reajuste o preço da gasolina e do óleo diesel vendido nas refinarias, o que tem afetado os resultados da empresa. A companhia tem sido usada como política para controle da inflação. E se tem algo que o mercado detesta, é intervenção - afirmou um operador, que pediu para não ter seu nome identificado.
Essa defasagem foi um dos fatores que levaram a Petrobras a registrar no segundo trimestre deste ano seu primeiro prejuízo em 13 anos. A estatal teve perda de R$ 1,3 bilhão, o que não acontecia desde 1999. Segundo analistas, a empresa tem problemas para cumprir metas de produção, que foram, inclusive, reduzidas na gestão de Maria das Graças Foster na estatal.
Segundo Paulo Esteves, analista-chefe da Gradual Investimentos, a acensão da Ambev também está relacionada a méritos da própria companhia.
- A Ambev é considerada um exemplo de meritocracia - diz Esteves, se referindo ao modelo de gestão que prima pelo cumprimento de metas e remunera seus funcionários com base na entrega de resultados. - Em comparação à Petrobras, são empresas com clara diferença de gestão. Não que seja culpa da Petrobras. O tamanho da burocracia estatal dificulta ser ágil.
Um dos donos da Ambev, Jorge Paulo Lemann, ex-dono do lendário Banco Garantia, está por trás do modelo de meritocracia da companhia. Quando a belga Interbrew comprou a Ambev e formou a holding Inbev, em 2004, foi um dos maiores negócios da história do ramo de cervejas. A gigante belga buscava, além de acesso ao mercado brasileiro, o modelo de gestão eficiente.
Segundo dados da Bloomberg News, a fortuna de Jorge Paulo Lemann cresceu em US$ 6,2 bilhões neste ano, para US$ 18,5 bilhões. Isso o coloca como 38 homem mais rico do mundo. Entre os brasileiros, ele aparece atrás apenas de Eike Batista, 33º da lista, com uma fortuna estimada de US$ 19,3 bilhões.
A Ambev não quis se pronunciar. Divulgou apenas um comunicado na qual afirma que "tem por objetivo gerar valor tanto aos seus acionistas quanto à sociedade, garantindo a sustentabilidade do negócio a longo prazo".
Bruno Villas Bôas O Globo
- Mesmo com a economia crescendo num ritmo menor este ano, o pleno emprego no país e a manutenção da renda beneficiaram empresas ligadas ao varejo, como a Ambev, nos últimos anos. Isso explica uma parte de vermos a companhia escalar tão rapidamente até o topo - diz Alexandre Póvoa, sócio-diretor da Valorando Consultoria. - Nada impede que isso possa se repetir. São movimentos do mercado.
Com cerca de 70% de participação no mercado nacional, as ações da Ambev foram uma das que mais se beneficiaram do crescimento do mercado interno. O país tornou-se neste ano o terceiro maior produtor de cerveja do mundo, segundo dados da CervBrasil, com 13 bilhões de litros produzidos. As ações preferenciais (PN, sem voto) acumularam assim um ganho de 29,33% no ano.
Os papéis ordinários (ON, com voto) valorizaram-se ainda mais, 41,09%. Nesse período, o valor da empresa avançou para R$ 248,7 bilhões até quarta-feira, salto de R$ 61,2 bilhões.
Segundo Einar Rivero, da Economatica, a Petrobras foi desbancada do trono de maior empresa do Brasil poucas vezes na História. Um delas foi para a Vale, em setembro de 2010, por apenas um dia. A mineradora foi maior do que a petroleira também entre 1995 e 1996. Nesse período, a Eletrobras foi algumas vezes a maior companhia do país.
MERCADO VÊ DIFERENCIAL NA GESTÃO
Segundo analistas, o surgimento da Ambev no topo do ranking também está ligado aos problemas enfrentados pela Petrobras, uma das maiores petroleiras do mundo. Os papéis preferenciais da estatal brasileira recuam 11,20% no ano. Os ordinários perderam 14,55%. O valor de mercado da estatal tombou assim R$ 44,3 bilhões no período, para os atuais R$ 247,2 bilhões. O motivo para as perdas tornou-se uma unanimidade entre especialistas.
- O governo impede que a Petrobras reajuste o preço da gasolina e do óleo diesel vendido nas refinarias, o que tem afetado os resultados da empresa. A companhia tem sido usada como política para controle da inflação. E se tem algo que o mercado detesta, é intervenção - afirmou um operador, que pediu para não ter seu nome identificado.
Essa defasagem foi um dos fatores que levaram a Petrobras a registrar no segundo trimestre deste ano seu primeiro prejuízo em 13 anos. A estatal teve perda de R$ 1,3 bilhão, o que não acontecia desde 1999. Segundo analistas, a empresa tem problemas para cumprir metas de produção, que foram, inclusive, reduzidas na gestão de Maria das Graças Foster na estatal.
Segundo Paulo Esteves, analista-chefe da Gradual Investimentos, a acensão da Ambev também está relacionada a méritos da própria companhia.
- A Ambev é considerada um exemplo de meritocracia - diz Esteves, se referindo ao modelo de gestão que prima pelo cumprimento de metas e remunera seus funcionários com base na entrega de resultados. - Em comparação à Petrobras, são empresas com clara diferença de gestão. Não que seja culpa da Petrobras. O tamanho da burocracia estatal dificulta ser ágil.
Um dos donos da Ambev, Jorge Paulo Lemann, ex-dono do lendário Banco Garantia, está por trás do modelo de meritocracia da companhia. Quando a belga Interbrew comprou a Ambev e formou a holding Inbev, em 2004, foi um dos maiores negócios da história do ramo de cervejas. A gigante belga buscava, além de acesso ao mercado brasileiro, o modelo de gestão eficiente.
Segundo dados da Bloomberg News, a fortuna de Jorge Paulo Lemann cresceu em US$ 6,2 bilhões neste ano, para US$ 18,5 bilhões. Isso o coloca como 38 homem mais rico do mundo. Entre os brasileiros, ele aparece atrás apenas de Eike Batista, 33º da lista, com uma fortuna estimada de US$ 19,3 bilhões.
A Ambev não quis se pronunciar. Divulgou apenas um comunicado na qual afirma que "tem por objetivo gerar valor tanto aos seus acionistas quanto à sociedade, garantindo a sustentabilidade do negócio a longo prazo".
Bruno Villas Bôas O Globo
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