"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

agosto 28, 2012

PR quer desarmar a "bomba" Pagot

Ex-diretor do Dnit depõe hoje à CPI do Cachoeira.
Enquanto há parlamentares à espera de revelações de impacto, seu antigo partido assegura que ele não tem trunfo guardado


Considerado o "personagem-bomba" da CPI do Cachoeira, o ex-diretor-geral do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) Luiz Antônio Pagot prestará depoimento ao colegiado hoje. As expectativas são contraditórias em relação ao conteúdo das possíveis revelações.

Enquanto integrantes do PR, partido do qual ele fazia parte, apostam que a oitiva não trará elementos novos à investigação, outros parlamentares afirmam que Pagot voltará a carga na direção do Palácio do Planalto.


Ele deixou a chefia do Dnit em julho passado, sob suspeita de participação em um esquema de pagamento de propina a correligionários. A cada declaração à imprensa, Pagot reforça a imagem de ameaça concreta ao governo federal, por ter comandado o Dnit durante as gestões do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da presidente Dilma Rousseff.

Ainda assim, no PR, a avaliação é de que a bomba foi desarmada e que o depoente não vai expor o que não pode provar. "Pagot está tranquilo e sabe das suas responsabilidades, lembra o que fez e o que não fez. Mais do que isso, sabe que terá de assumir a responsabilidade sobre o que disser", afirmou o senador Blairo Maggi (PR-MT).


Desde a instauração da CPI, em abril, Pagot tem reiterado em entrevistas a intenção de colaborar com o colegiado, inclusive dando detalhes sobre o financiamento da campanha da presidente Dilma, processo do qual ele participou.

"Ele me mandou um recado hoje (ontem). Está receoso em vir, mas, se for perguntado, não vai esconder nada. Disse ter informações sobre empresas que doaram dinheiro para a campanha (ao Senado) da Ideli (Salvatti, ministra das Relações Institucionais) e a respeito do chefe de gabinete da presidente (Giles Azevedo)", contou um senador da base aliada.


Líder do PR na Câmara, o deputado Lincoln Portela (MG) questiona a especulação a respeito do potencial ofensivo do ex-correligionário. Embora afirme não ter mantido contato com o ex-diretor do Dnit nas últimas semanas, argumenta que ele não tem a munição que alguns estimam.

"Mesmo sobre financiamento de campanha, o que ele tem a dizer?
Se ajudou a arrecadar para a campanha da presidente em caixa um, não tem nada de errado. Se foi em caixa dois, como vai provar? Vai se sustentar na própria palavra?", questionou Portela.


Ansiedade
O senador Blairo Maggi admite, no entanto, que o teor do depoimento de Pagot está causando apreensão entre integrantes da base aliada no Congresso. "Isso é como mulher de malandro que toda hora faz uma besteira. Mesmo quando o cara não sabe por que está batendo, ela sabe por que está apanhando", comparou Maggi.

Depois da oitiva de Pagot, está previsto o depoimento de Adir Assad, suspeito de ser proprietário de empresas usadas como laranjas pela Delta Construções. A defesa do empresário, porém, conseguiu um habeas corpus na Justiça para garantir-lhe o direito de permanecer em silêncio durante a sessão.

Amanhã, o dono da Delta, Fernando Cavendish, deverá comparecer à CPI.
Ele também chegará amparado por uma liminar para não responder as perguntas, e ainda tenta na Justiça uma decisão para nem sequer ir ao Congresso.

"Pagot está tranquilo e sabe das suas responsabilidades, lembra o que fez e o que não fez. Mais do que isso, sabe que terá de assumir a responsabilidade sobre o que disser"
Blairo Maggi, senador do PR-MT

GABRIEL MASCARENHAS Correio Braziliense

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