Eis o que disse a presidente Dilma:
"Uma grande nação deve ser medida por aquilo que faz para as suas crianças e adolescentes. Não pelo seu PIB".
Ela falou isso na quinta-feira, durante a 9.ª Conferência Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente, justamente no dia em que o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) reforçou a percepção de que o sistema produtivo brasileiro está estagnado.
Quem toma a frase isoladamente tem dificuldade para divergir. Mais importante do que o PIB, e todo o materialismo que possa carregar, é a Felicidade Nacional Bruta.
O problema está no jogo de palavras que tenta justificar o fiasco.
A presidente Dilma passou todos esses meses apostando em que o crescimento da atividade econômica deste ano apresentaria desempenho de 4% a 5% ao ano, invejável numa paisagem internacional desolada. Não é o que está acontecendo. E o pibinho vai se impondo nas estatísticas.
A presidente Dilma vem agora à plateia para fazer o jogo do contente. O importante, despista ela, não é o tamanho do PIB, mas a pujança dos indicadores sociais, disse. No entanto, o Brasil está longe de ser campeão nesse quesito.
Basta um giro pelo centro das principais metrópoles brasileiras para ter uma ideia do abandono em que se encontram crianças e jovens, ainda mais nitidamente no segmento que a presidente Dilma pretendeu focar.
O desempenho da educação no Brasil é lastimável.
O País ocupa hoje o 88.º posto entre os 127 países que compõem o ranking da Unesco, atrás de Equador, Bolívia e Venezuela. Na última avaliação de estudantes feita pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico, a participação do Brasil foi um desastre.
Entre 65 concorrentes, não passou do 53.º lugar tanto em compreensão de leitura como em ciências e do 57.º, em matemática.
Alguns imaginam que basta abrir torneiras de dinheiro na educação para que tudo se resolva. O Congresso acaba de aprovar investimento de 10% do PIB para a educação até 2020. Mas todos sabemos que, nesse campo, o problema mais relevante não é a insuficiência de verbas públicas, mas a baixa qualidade do gerenciamento das disponíveis.
O aumento de recursos nas instituições que estão aí seria o mesmo que armazenar vinho bom em tonéis deteriorados. O próprio ministro Guido Mantega avisou que, se for adiante, essa decisão "vai quebrar o Estado brasileiro".
A economia brasileira não enfrenta só consequências da crise global. Está diante do esgotamento do atual modelo de avanço econômico, excessivamente centrado na expansão da demanda, enquanto o lado da oferta foi deixado para trás.
Nas últimas semanas aumentaram as recomendações de que o governo desista de fazer um superávit primário (sobra de arrecadação para pagamento da dívida) de 3,1% do PIB, originalmente calculado em R$ 140 bilhões. Propõem que mais recursos sejam direcionados ao investimento. Mas essa também tem tudo para ser uma má ideia.
Primeiramente, porque não é por falta de recursos que os investimentos públicos estão empacados. Isso ocorre por grave deficiência gerencial, o governo não consegue gastar nem as verbas já liberadas. Em segundo lugar, se for para usar parte desse superávit, é alto o risco de que os recursos sejam, outra vez, usados para despesas correntes.
Por reações como a manifestada pela presidente, vai sendo reforçada a percepção de que o governo está sem rumo.
Celso Ming O Estado de S. Paulo
"Uma grande nação deve ser medida por aquilo que faz para as suas crianças e adolescentes. Não pelo seu PIB".
Ela falou isso na quinta-feira, durante a 9.ª Conferência Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente, justamente no dia em que o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) reforçou a percepção de que o sistema produtivo brasileiro está estagnado.
Quem toma a frase isoladamente tem dificuldade para divergir. Mais importante do que o PIB, e todo o materialismo que possa carregar, é a Felicidade Nacional Bruta.
O problema está no jogo de palavras que tenta justificar o fiasco.
A presidente Dilma passou todos esses meses apostando em que o crescimento da atividade econômica deste ano apresentaria desempenho de 4% a 5% ao ano, invejável numa paisagem internacional desolada. Não é o que está acontecendo. E o pibinho vai se impondo nas estatísticas.
A presidente Dilma vem agora à plateia para fazer o jogo do contente. O importante, despista ela, não é o tamanho do PIB, mas a pujança dos indicadores sociais, disse. No entanto, o Brasil está longe de ser campeão nesse quesito.
Basta um giro pelo centro das principais metrópoles brasileiras para ter uma ideia do abandono em que se encontram crianças e jovens, ainda mais nitidamente no segmento que a presidente Dilma pretendeu focar.
O desempenho da educação no Brasil é lastimável.
O País ocupa hoje o 88.º posto entre os 127 países que compõem o ranking da Unesco, atrás de Equador, Bolívia e Venezuela. Na última avaliação de estudantes feita pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico, a participação do Brasil foi um desastre.
Entre 65 concorrentes, não passou do 53.º lugar tanto em compreensão de leitura como em ciências e do 57.º, em matemática.
Alguns imaginam que basta abrir torneiras de dinheiro na educação para que tudo se resolva. O Congresso acaba de aprovar investimento de 10% do PIB para a educação até 2020. Mas todos sabemos que, nesse campo, o problema mais relevante não é a insuficiência de verbas públicas, mas a baixa qualidade do gerenciamento das disponíveis.
O aumento de recursos nas instituições que estão aí seria o mesmo que armazenar vinho bom em tonéis deteriorados. O próprio ministro Guido Mantega avisou que, se for adiante, essa decisão "vai quebrar o Estado brasileiro".
A economia brasileira não enfrenta só consequências da crise global. Está diante do esgotamento do atual modelo de avanço econômico, excessivamente centrado na expansão da demanda, enquanto o lado da oferta foi deixado para trás.
Nas últimas semanas aumentaram as recomendações de que o governo desista de fazer um superávit primário (sobra de arrecadação para pagamento da dívida) de 3,1% do PIB, originalmente calculado em R$ 140 bilhões. Propõem que mais recursos sejam direcionados ao investimento. Mas essa também tem tudo para ser uma má ideia.
Primeiramente, porque não é por falta de recursos que os investimentos públicos estão empacados. Isso ocorre por grave deficiência gerencial, o governo não consegue gastar nem as verbas já liberadas. Em segundo lugar, se for para usar parte desse superávit, é alto o risco de que os recursos sejam, outra vez, usados para despesas correntes.
Por reações como a manifestada pela presidente, vai sendo reforçada a percepção de que o governo está sem rumo.
Celso Ming O Estado de S. Paulo
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