"A euforia sucumbiu à realidade", sentenciou o artigo do Wall Street Journal, na semana passada, sobre a crise de confiança que assombra as petroleiras brasileiras. Não há tanto exagero na afirmação.
Um levantamento da consultoria Economática com dados de 59 companhias de capital aberto da indústria do petróleo na América Latina e nos Estados Unidos mostra que as verde-amarelas OGX, HRT e Queiroz Galvão Exploração e Produção (QGEP) estão entre as que mais perderam valor nos últimos 12 meses - uma punição do mercado às promessas não cumpridas.
"É como se a bolha que começou a se encher em 2007 com a propaganda em torno do pré-sal e da Petrobrás estivesse murchando agora", diz o diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura, Adriano Pires. A crise de imagem, segundo ele, é muito mais um reflexo do que se prometeu lá atrás do que dos resultados em si, já que tradicionalmente essa é uma indústria de risco altíssimo.
"Portanto, é natural que haja frustrações no período exploratório", afirma Pires. De acordo com estimativa do Conselho Mundial do Petróleo, para cada três poços explorados no mundo, dois são secos.
A dimensão das dificuldades que seriam encontradas, no entanto, não ganharam tanto destaque por aqui e o reflexo disso o setor está colhendo agora. O petroleiro mais popular do País, Eike Batista, perdeu mais de R$ 13,2 bilhões em dois dias na Bolsa depois de revisar para baixo a produção de seu primeiro campo de petróleo.
No fim do mês passado, a empresa divulgou uma vazão de 5 mil barris de óleo por dia em cada poço do campo Tubarão Azul - quando a previsão inicial, tornada pública no início do ano, era de que a produção chegaria a 20 mil barris.
"Se os dados atuais sofreram esse nível de ajuste, que confiança o investidor terá em relação às informações futuras", diz o analista do banco de investimento Geração Futuro, Lucas Brendler.
Em 2012, os papéis da OGX caíram 56,6%. O desempenho só não é pior do que o da empresa norte americana Dynegy, que há dez dias entrou com um pedido de concordata no Tribunal de Falências dos Estados Unidos e vem acumulando perdas na bolsa de quase 80% no ano.
Quem vem sofrendo há mais tempo no Brasil é a petroleira criada pelo ex-geólogo da Petrobrás, Marcio Mello. A empresa foi criada em 2010 com um projeto ousado de exploração de petróleo na região amazônica da Bacia do Rio Solimões. Antes da abertura de capital da empresa, Mello prometeu aos investidores que encontraria óleo abaixo da camada de gás existente na região, perfurando os poços numa profundidade maior.
Mas sua previsão não se confirmou e até agora ele não achou nada além de gás. Na semana passada, a empresa concluiu a perfuração de mais um poço que se mostrou sem capacidade de produção. "Há uma série de perguntas sem respostas", afirma um analista. "Como a HRT vai tornar viável a comercialização do gás numa região cheia de entraves logísticos é uma delas."
Em nota, a empresa afirma que "o desempenho de sua campanha vem apresentando resultados em conformidade com o padrão da indústria".
Perfil baixo. Mais "low profile" do que suas concorrentes, a QGEP, da Queiroz Galvão, não foi poupada pelos investidores. A empresa, que abriu capital em 2011, já perdeu 49% de seu valor desde o início do ano. No mês passado, a companhia anunciou que não encontrou petróleo em um de seus blocos na Bacia de Santos. "Tínhamos muita expectativa em relação a esse poço mas faz parte do risco do negócio", diz Paula Vasconcelos da Costa, diretora de relações com investidores da QGEP.
A empresa ainda sofre com a manutenção feita ao longo de 2011 no Campo de Manati, onde ela já produz gás natural em parceria com a Petrobrás. Como alguns poços tiveram de ficar fechados, a produção teve uma queda e a geração de caixa também.
O clima de incertezas não paira só sobre as petroleiras privadas.
A própria Petrobrás não tem cumprido suas metas.
"O governo e os empresários prometeram fazer e acontecer, mas o petróleo brasileiro não é tão fantástico como se vendeu lá atrás", diz Adriano Pires.
"É uma indústria de riscos e incertezas e isso não pode ser ignorado."
NAIANA OSCAR O Estado de S. Paulo
Um levantamento da consultoria Economática com dados de 59 companhias de capital aberto da indústria do petróleo na América Latina e nos Estados Unidos mostra que as verde-amarelas OGX, HRT e Queiroz Galvão Exploração e Produção (QGEP) estão entre as que mais perderam valor nos últimos 12 meses - uma punição do mercado às promessas não cumpridas.
"É como se a bolha que começou a se encher em 2007 com a propaganda em torno do pré-sal e da Petrobrás estivesse murchando agora", diz o diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura, Adriano Pires. A crise de imagem, segundo ele, é muito mais um reflexo do que se prometeu lá atrás do que dos resultados em si, já que tradicionalmente essa é uma indústria de risco altíssimo.
"Portanto, é natural que haja frustrações no período exploratório", afirma Pires. De acordo com estimativa do Conselho Mundial do Petróleo, para cada três poços explorados no mundo, dois são secos.
A dimensão das dificuldades que seriam encontradas, no entanto, não ganharam tanto destaque por aqui e o reflexo disso o setor está colhendo agora. O petroleiro mais popular do País, Eike Batista, perdeu mais de R$ 13,2 bilhões em dois dias na Bolsa depois de revisar para baixo a produção de seu primeiro campo de petróleo.
No fim do mês passado, a empresa divulgou uma vazão de 5 mil barris de óleo por dia em cada poço do campo Tubarão Azul - quando a previsão inicial, tornada pública no início do ano, era de que a produção chegaria a 20 mil barris.
"Se os dados atuais sofreram esse nível de ajuste, que confiança o investidor terá em relação às informações futuras", diz o analista do banco de investimento Geração Futuro, Lucas Brendler.
Em 2012, os papéis da OGX caíram 56,6%. O desempenho só não é pior do que o da empresa norte americana Dynegy, que há dez dias entrou com um pedido de concordata no Tribunal de Falências dos Estados Unidos e vem acumulando perdas na bolsa de quase 80% no ano.
Quem vem sofrendo há mais tempo no Brasil é a petroleira criada pelo ex-geólogo da Petrobrás, Marcio Mello. A empresa foi criada em 2010 com um projeto ousado de exploração de petróleo na região amazônica da Bacia do Rio Solimões. Antes da abertura de capital da empresa, Mello prometeu aos investidores que encontraria óleo abaixo da camada de gás existente na região, perfurando os poços numa profundidade maior.
Mas sua previsão não se confirmou e até agora ele não achou nada além de gás. Na semana passada, a empresa concluiu a perfuração de mais um poço que se mostrou sem capacidade de produção. "Há uma série de perguntas sem respostas", afirma um analista. "Como a HRT vai tornar viável a comercialização do gás numa região cheia de entraves logísticos é uma delas."
Em nota, a empresa afirma que "o desempenho de sua campanha vem apresentando resultados em conformidade com o padrão da indústria".
Perfil baixo. Mais "low profile" do que suas concorrentes, a QGEP, da Queiroz Galvão, não foi poupada pelos investidores. A empresa, que abriu capital em 2011, já perdeu 49% de seu valor desde o início do ano. No mês passado, a companhia anunciou que não encontrou petróleo em um de seus blocos na Bacia de Santos. "Tínhamos muita expectativa em relação a esse poço mas faz parte do risco do negócio", diz Paula Vasconcelos da Costa, diretora de relações com investidores da QGEP.
A empresa ainda sofre com a manutenção feita ao longo de 2011 no Campo de Manati, onde ela já produz gás natural em parceria com a Petrobrás. Como alguns poços tiveram de ficar fechados, a produção teve uma queda e a geração de caixa também.
O clima de incertezas não paira só sobre as petroleiras privadas.
A própria Petrobrás não tem cumprido suas metas.
"O governo e os empresários prometeram fazer e acontecer, mas o petróleo brasileiro não é tão fantástico como se vendeu lá atrás", diz Adriano Pires.
"É uma indústria de riscos e incertezas e isso não pode ser ignorado."
NAIANA OSCAR O Estado de S. Paulo
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