"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

maio 11, 2012

QUEDA DE JUROS : O PORCO E O TOUCINHO E O "MARQUETINGUE" DA PALADINA DA ENGANAÇÃO

Começam a surgir indícios de que a queda de juros propalada pelo governo tem fôlego mais curto do que o prometido. Há muita pirotecnia nas ações anunciadas, mas até agora elas só se mostraram boas para poucos.

Com as evidentes limitações da economia brasileira, a inflação também ameaça.


Desde o 1° de maio, quando lançou sua ofensiva contra a "lógica perversa" dos juros, Dilma Rousseff indicou que as instituições privadas deveriam fazer o dever de casa e seguir os bancos oficiais, baixando agressivamente as taxas.

Deveria ter olhado antes para o próprio umbigo e percebido que não tinha lições a dar.


O discurso oficial não resiste ao cotejo da realidade. Levantamento divulgado anteontem pelo Banco Central mostra que Banco do Brasil e Caixa não estão entre os que cobram menos para emprestar a seus clientes.

Em alguns casos, pelo contrário, estão entre os mais usurários - mesmo com os cortes recentes.


Numa das linhas divulgadas pelo BC, a de conta garantida, o BB aparece como dono da nona taxa mais alta num ranking com 38 instituições, informou a agência Reuters. Na concessão de linhas de crédito pessoal, Caixa e BB apresentaram apenas a 13ª e a 32ª melhores taxas, respectivamente, de um total de 91 instituições consultadas.

Ou seja, em banco de ferreiro, o juro é de pau.


Ontem, em nova rodada de foguetório, o Banco do Brasil anunciou a redução de suas taxas de administração. É ótimo que isso aconteça e teria sido melhor ainda se o governo tivesse cortado os encargos antes de ter tungado a poupança dos brasileiros.

Mas se é para cortar, a conversa tem que ser para valer, ser boa pra todos.


O que o BB fez, porém, foi mero malabarismo. Os oito fundos cujas taxas foram reduzidas cobravam até 3,5% para administrar o investimento de seus clientes. Isto é quase metade do rendimento projetado.

Agora, os encargos caíram para entre 1,5% e 2,6% - portanto, ainda altíssimos.


Para não apanhar das cadernetas de poupança, os fundos de renda fixa que o governo diz estar oferecendo baratinho para a clientela só poderiam cobrar taxa de administração de, no máximo, 0,64%, calcula o professor Marcelo Moura.

O BB não apenas cobra muito mais, como também obriga seus correntistas a aderir a um programa pelo qual espetam até R$ 54 de mensalidade na carteira do cliente.


Outro aspecto da estratégia voluntarista do governo é o efeito das ações sobre a contabilidade dos bancos oficiais e, em última instância, sobre o bolso dos contribuintes.

Ontem, a Caixa anunciou que, em função de sua agressiva concessão de empréstimos, precisará de aporte "urgente" da União:
estima-se algo como R$ 10 bilhões, segundo a
Folha de S.Paulo.

Não é apenas o marketing em torno da redução dos juros que se mostra distante da realidade cotidiana. Limitações de ordem econômica geral começam a indicar que a inflação não será amansada apenas no gogó, restringindo o espaço e as possibilidades de cortes mais incisivos na taxa básica de juros.

Em abril, os preços subiram num ritmo três vezes maior do que no mês anterior. O IPCA passou de comportado 0,21% para um ousado 0,64%. A alta não foi só do cigarro, como disse ontem Guido Mantega, mas disseminada por 2/3 dos preços.

Neste mês de maio, os índices virão pressionados também por aumentos de tarifas de energia elétrica, água e esgoto.


Para piorar, o índice que mede exclusivamente o comportamento dos preços dos serviços disparou: de janeiro a março, tinha subido 2,86% e em abril escalou a 3,62%, mostrou ontem O Estado de S.Paulo.

Nesta dinâmica, a subida do dólar - com alta de 7% nos últimos 30 dias - não ajuda.

A redução dos juros é muito bem-vinda.
Mas é preciso muito mais do que ações cosméticas, voltadas a produzir mais fagulha do que luz.

O governo deveria ocupar-se de medidas que gerassem efeitos benéficos duradouros sobre o ambiente econômico.
Da forma atabalhoada como age, pode acabar atiçando mesmo é fogo.


Fonte: Instituto Teotônio Vilela
Bom para poucos

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