A economia brasileira chegará ao fim de 2012 com um crescimento maior que o do ano passado e uma inflação bem menor, segundo o presidente do Banco Central (BC), Alexandre Tombini.
Pode não ser o melhor dos mundos, mas é certamente invejável o cenário por ele descrito, na terça-feira, em depoimento perante a Comissão de Assuntos Econômicos do Senado.
Seu otimismo em relação ao Brasil pode ser justificável em vários pontos.
Depois de sua exposição, no entanto, sobraram dúvidas sobre várias questões importantes, a começar pela política de combate à inflação.
"Perseguimos os 4,5%, vamos continuar progredindo e vamos convergir para o centro da meta. Esse é o nosso trabalho para os próximos meses", disse Tombini.
Mas não ficou bastante claro se ele pretende alcançar esse objetivo neste ano ou se a tarefa deverá ser completada em 2013. Num gráfico de inflação apresentado durante o depoimento, uma curva representa a "convergência" para a meta em 2012.
Essa curva é a mesma do cenário de referência divulgado em dezembro pelo BC. A curva termina pouco acima do centro da meta, em 4,7%. A diferença é pequena, mas o próprio cenário de referência indica uma nova redução na primeira metade de 2013 e um repique para cima da meta no segundo semestre.
Segundo Tombini, tem sido possível combinar corte de juros e inflação em queda porque a economia brasileira tem crescido abaixo de seu potencial desde o terceiro trimestre do ano passado.
Com essa explicação, ele tenta contornar a questão levantada por analistas do mercado financeiro e de consultorias:
se o BC está disposto a aceitar uma inflação pouco acima da meta para garantir um pouco mais de crescimento econômico.
Mas a dúvida permanece.
Além do mais, o otimismo de Tombini parece muito discutível em relação a dois pontos.
Para justificar o corte de juros iniciado no fim de agosto, dirigentes do BC têm usado três argumentos principais:
a economia brasileira perdeu impulso,
a inflação será menos pressionada pelos preços internacionais das matérias-primas e o governo executará uma política orçamentária austera.
O primeiro argumento é convincente.
O segundo poderá revelar-se verdadeiro, mas isso dependerá, em boa parte, do arrefecimento da demanda chinesa, da estagnação da economia europeia e, naturalmente, da produção agrícola efetiva de vários países importantes.
A terceira alegação é a mais duvidosa.
O bom resultado das contas públicas em 2011 dependeu mais do aumento da receita que do controle de gastos.
Apostar numa política de contenção em 2012, ano de eleições municipais e de despesas pressionadas pelas obras da Copa, é uma demonstração de coragem.
A nova combinação de políticas, com a monetária mais frouxa e a fiscal mais apertada, é apenas uma promessa, mas o presidente do BC já a toma como um fato.
Igualmente exagerado é o otimismo em relação às contas externas.
Os economistas do BC projetam para este ano um déficit de US$ 65 bilhões na conta corrente do balanço de pagamentos, pouco acima de 2% do Produto Interno Bruto (PIB).
Nas projeções do mercado o buraco chega a US$ 70 bilhões.
Mas o ponto mais importante não é essa diferença. Segundo Tombini, o comércio exterior brasileiro tem evoluído e os bons preços das commodities têm contribuído para isso.
É esse o detalhe crucial.
Se esses preços tivessem sido menos favoráveis nos últimos anos, o superávit comercial teria sido bem menor, talvez nulo, e o déficit na conta corrente teria sido bem maior.
A indústria tem perdido competitividade e o saldo comercial tem sido sustentado pela melhora da relação entre preços de exportação e de importação.
Além disso, as importações voltarão a ser pressionadas, se o crescimento, como anuncia o governo, continuar sendo puxado pelo mercado interno.
Se os preços das commodities se estabilizarem ou diminuírem, uma das justificativas para a redução de juros será confirmada. Em contrapartida, o saldo externo será prejudicado.
Os técnicos do BC deveriam dar maior atenção a esse ponto.
É fácil financiar o déficit em conta corrente antes de aparecer algum sinal de alerta, mas só até aí.
O Estado de S. Paulo
Pode não ser o melhor dos mundos, mas é certamente invejável o cenário por ele descrito, na terça-feira, em depoimento perante a Comissão de Assuntos Econômicos do Senado.
Seu otimismo em relação ao Brasil pode ser justificável em vários pontos.
Depois de sua exposição, no entanto, sobraram dúvidas sobre várias questões importantes, a começar pela política de combate à inflação.
"Perseguimos os 4,5%, vamos continuar progredindo e vamos convergir para o centro da meta. Esse é o nosso trabalho para os próximos meses", disse Tombini.
Mas não ficou bastante claro se ele pretende alcançar esse objetivo neste ano ou se a tarefa deverá ser completada em 2013. Num gráfico de inflação apresentado durante o depoimento, uma curva representa a "convergência" para a meta em 2012.
Essa curva é a mesma do cenário de referência divulgado em dezembro pelo BC. A curva termina pouco acima do centro da meta, em 4,7%. A diferença é pequena, mas o próprio cenário de referência indica uma nova redução na primeira metade de 2013 e um repique para cima da meta no segundo semestre.
Segundo Tombini, tem sido possível combinar corte de juros e inflação em queda porque a economia brasileira tem crescido abaixo de seu potencial desde o terceiro trimestre do ano passado.
Com essa explicação, ele tenta contornar a questão levantada por analistas do mercado financeiro e de consultorias:
se o BC está disposto a aceitar uma inflação pouco acima da meta para garantir um pouco mais de crescimento econômico.
Mas a dúvida permanece.
Além do mais, o otimismo de Tombini parece muito discutível em relação a dois pontos.
Para justificar o corte de juros iniciado no fim de agosto, dirigentes do BC têm usado três argumentos principais:
a economia brasileira perdeu impulso,
a inflação será menos pressionada pelos preços internacionais das matérias-primas e o governo executará uma política orçamentária austera.
O primeiro argumento é convincente.
O segundo poderá revelar-se verdadeiro, mas isso dependerá, em boa parte, do arrefecimento da demanda chinesa, da estagnação da economia europeia e, naturalmente, da produção agrícola efetiva de vários países importantes.
A terceira alegação é a mais duvidosa.
O bom resultado das contas públicas em 2011 dependeu mais do aumento da receita que do controle de gastos.
Apostar numa política de contenção em 2012, ano de eleições municipais e de despesas pressionadas pelas obras da Copa, é uma demonstração de coragem.
A nova combinação de políticas, com a monetária mais frouxa e a fiscal mais apertada, é apenas uma promessa, mas o presidente do BC já a toma como um fato.
Igualmente exagerado é o otimismo em relação às contas externas.
Os economistas do BC projetam para este ano um déficit de US$ 65 bilhões na conta corrente do balanço de pagamentos, pouco acima de 2% do Produto Interno Bruto (PIB).
Nas projeções do mercado o buraco chega a US$ 70 bilhões.
Mas o ponto mais importante não é essa diferença. Segundo Tombini, o comércio exterior brasileiro tem evoluído e os bons preços das commodities têm contribuído para isso.
É esse o detalhe crucial.
Se esses preços tivessem sido menos favoráveis nos últimos anos, o superávit comercial teria sido bem menor, talvez nulo, e o déficit na conta corrente teria sido bem maior.
A indústria tem perdido competitividade e o saldo comercial tem sido sustentado pela melhora da relação entre preços de exportação e de importação.
Além disso, as importações voltarão a ser pressionadas, se o crescimento, como anuncia o governo, continuar sendo puxado pelo mercado interno.
Se os preços das commodities se estabilizarem ou diminuírem, uma das justificativas para a redução de juros será confirmada. Em contrapartida, o saldo externo será prejudicado.
Os técnicos do BC deveriam dar maior atenção a esse ponto.
É fácil financiar o déficit em conta corrente antes de aparecer algum sinal de alerta, mas só até aí.
O Estado de S. Paulo
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