"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

fevereiro 10, 2012

Inadimplência sobe puxada por cartões no "brasil maravilha".


Atraso no pagamento de dívidas aumenta 2,91% em janeiro, aponta levantamento da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas, motivado por calote no dinheiro de plástico

As facilidades oferecidas pelos cartões de crédito, que incluem parcelamentos de 12 a 24 meses, estão levando os consumidores a perder o controle das compras, engrossando os índices de inadimplência.

O atraso no pagamento das dívidas em geral pelo brasileiro aumentou 2,91% no primeiro mês de 2012, em comparação com o mesmo mês do ano passado, conforme levantamento da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL).

A elevação foi impulsionada pelo calote nas faturas do cartão de crédito, afirmou o presidente da instituição, Roque Pellizzaro.


Dados do Banco Central apontam que a inadimplência no segmento já atinge 26,74% das operações, três vezes maior que a média do mercado de crédito brasileiro, que está em 7,3%.

O total devido pelos brasileiros nos cartões de crédito cresceu em ritmo de epidemia na última década. As concessões de crédito rotativo (conhecido como pagamento mínimo) chegaram ao maior nível da história em dezembro de 2011, R$ 22,2 bilhões — avanço de 825% em dez anos.


Um dos motivos são os juros astronômicos cobrados de quem não paga toda a fatura no dia do vencimento, na casa dos 10% e 11% ao mês, 214% a 250% ao ano.

Quando isso acontece, fica mais difícil a cada mês regularizar os débitos, que sobem em ritmo acelerado, só por conta desses encargos.

Mesmo para quem opta pelo parcelamento oferecido pela administradora, os juros ficam na casa dos 5% e 6% ao mês ou entre 80% e 100% ao ano, o que pesa no orçamento.

A taxa Selic está em 10,5% ao ano.


"O consumidor que entra no cadastro do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) nessas condições dificilmente consegue sair devido aos juros elevados", observou Roque Pellizzaro.

"O problema é a falta de educação financeira de muitos consumidores, que leva à inadimplência justamente na linha que possui os juros mais altos", observou o educador financeiro Reinaldo Domingos.


Redução
Dados da consultoria de crédito e risco Serasa Experian também mostram inadimplência do cartão de crédito em ritmo de alta — houve crescimento de 3,5% em janeiro, frente a dezembro passado.

O valor médio dessas dívidas não pagas, em decorrência dos juros e do alto endividamento do brasileiro, também se expandiu, passou de R$ 396,77 em janeiro de 2011 para R$ 657,92 em igual mês deste ano — um incremento de 65,8%.


Diante do atoleiro em que o brasileiro se enfiou com o cartão de crédito, a presidente Dilma Rousseff passou a cobrar do presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, medidas para reduzir os juros do cartão de crédito.

A presidente está preocupada com o endividamento das famílias que ingressaram recentemente no sistema bancário, a nova classe C.

Para o governo, a maior parte dela, que já representa mais da metade da população do país, ainda está aprendendo a usar produtos financeiros mais sofisticados, como o cartão, e tem caído nas armadilhas das facilidades oferecidas.


"O problema não é o cartão em si, mas como ele é usado. O brasileiro transforma o pagamento mínimo da fatura em hábito mensal quando ele deveria ser usado em casos de extrema emergência. A mesma coisa ocorre com o cheque especial, que se transformou em parte da renda do consumidor", alertou Carlos Henrique de Almeida, assessor econômico da Serasa Experian.

Para ele, já começam a surgir os primeiros sinais de uma reversão no quadro de dívidas não pagas. Mas o pior período para a inadimplência ainda está por vir, segundo especialistas.

Março, dizem, será um mês difícil devido o pagamento de impostos como IPVA e IPTU, o que habitualmente deixa as famílias com orçamento mais apertado, gerando mais dívidas e inadimplência.


Atoleiro (Em R$ bilhões)
Concessão mensal do crédito rotativo do cartão cresce 825% em 10 anos

Meses - Liberação de recursos

Dez/02 - 2,4
Dez/03 - 2,9
Dez/04 - 3,8
Dez/05 - 7,1
Dez/06 - 7,5
Dez/07 - 8,7
Dez/08 -12,4
Dez/09 -15,0
Dez/10 -17,9
Dez/11 -22,2

VICTOR MARTINS Correio Braziliense

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