"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

novembro 16, 2011

Nas asas do King Air


A situação de Carlos Lupi no Ministério do Trabalho tornou-se insustentável. O ministro falastrão tropeçou em mentiras em série, em bravatas excessivas e na constatação de que, sob seu comando, a pasta tornou-se mais um balcão de fornidos negócios escusos de todos os tipos.

A permanência dele no cargo viaja nas asas de um King Air em queda livre.


A trajetória de falcatruas e mutretas de Lupi no Trabalho repete o mesmo padrão que marcou as denúncias de corrupção nos ministérios da Agricultura, do Turismo, dos Transportes e do Esporte.

É, pois, sintoma de um fenômeno mais amplo e mais agudo:
o uso, pelo petismo, de recursos públicos para fins particulares e partidários. Em suma, surrupio de dinheiro do contribuinte.


O ministro e o Planalto certamente contavam com a hipótese de que um feriadão de quatro dias colaboraria para esfriar o noticiário e amainar a torrente de denúncias contra Lupi.

Não foi nada disso o que aconteceu nos últimos dias.
Choveram novas revelações desabonadoras sobre o pedetista.


"A sobrevida dada a Lupi até a reforma ministerial em janeiro já não existe. Avaliação feita ontem por integrantes do núcleo do governo foi a de que Lupi deve uma explicação pública convincente.

E, se isso não ocorrer, o Planalto espera que o PDT conduza o processo de substituição de Lupi o mais rápido possível", resume
O Globo.

Lupi foi pego na mentira quando a revista Veja revelou que ele usou um jatinho King Air de um empresário cuja ONG foi fartamente aquinhoada pelo Ministério do Trabalho nos últimos anos.

Na semana passada, quando esteve no Congresso, ele fora questionado sobre seus laços com Adair Meira. Negou-os, mas a realidade o desmentiu agora.


Ontem, vieram a público fotos e vídeos em que Lupi aparece embarcando na aeronave prefixo PT-ONJ ao lado do empresário-amigo, que devolvia na forma de favores o tratamento e as verbas generosas (R$ 13,9 milhões para "qualificação profissional" nos últimos quatro anos) que sua ONG, a Pró-Cerrado, recebera da equipe do Ministério do Trabalho.

A revelação da mentira apenas coroa uma lista de malfeitos que vieram à tona nos últimos dias. Ontem, a Folha de S.Paulo revelara que sindicatos-fantasmas foram criados a rodo com o aval da assinatura de Carlos Lupi.

Trata-se de entidades que "representam" setores de indústrias que não existem e que só se destinam a abocanhar um naco do imposto sindical.


Superintendências regionais do Ministério do Trabalho também se transformaram em sinecuras distribuídas entre partidários do PDT de Lupi, mostrou O Globo no domingo.

E ex-funcionários da pasta, com conhecimento do próprio ministro, negociam a liberação de registros sindicais dentro do ministério, revelou
O Estado de S.Paulo na segunda-feira:
"Quem paga o pedágio do lobby tem a promessa de ser atendido rapidamente. Desde 2007, quando Lupi assumiu o Trabalho, 1.120 entidades conseguiram registros".


Há um padrão que se reproduz em todos estes episódios.
O petismo instrumentaliza entidades à margem do Estado para servirem de apoio a seu exercício de poder.

Elas funcionam como dutos que irrigam contas de aliados, pagam apoio político e financiam campanhas eleitorais.

O dinheiro que as financia sai do bolso do contribuinte.

Uma das fontes mais vistosas destas maracutaias é o imposto sindical.

Criado por Lula em 2008, é cobrado de todos os trabalhadores com carteira assinada e do setor patronal.

A cobrança ocorre uma vez por ano e, no caso dos trabalhadores, corresponde a um dia de salário, descontado diretamente em folha.

No caso dos patrões, o valor é uma parcela do capital social da empresa.


O bolo do imposto sindical dobrou em quatro anos, ao mesmo tempo em que proliferaram novos sindicatos no país - foram mais 782 desde 2008. No ano passado, a arrecadação do imposto totalizou R$ 1,51 bilhão, e pode chegar a R$ 2 bilhões até dezembro.

Do total arrecadado, os sindicatos têm direito a 60%;
as federações, a 15%;
as confederações, a 5%;
as centrais sindicais, a 10%;
e o governo, a 10%.

Tudo isso sem qualquer controle externo:
a fiscalização do Tribunal de Contas da União sobre tais repasses foi aprovada em lei, mas foi vetada por Lula.


O ex-presidente sabia o que estava fazendo:
a rede de interesses irrigada com recursos do Estado, tendo no imposto sindical apenas um de seus exemplos mais polpudos, foi estruturada para dar apoio ao projeto de perpetuação de poder do PT.

A sobrevida, até aqui, do ministro do Trabalho no cargo tem tudo a ver com a preservação deste jogo.


Carlos Lupi é mais um elo desta cadeia - e dos mais resistentes, por ter um partido, o PDT, quase inteiramente sob seu comando férreo.

Mas caminha para ser o próximo a se romper, assim como os cinco ministros do governo Dilma Rousseff envolvidos em suspeitas de corrupção que já caíram desde junho.

Certamente ele não será o último tripulante deste voo cego.


Fonte: Instituto Teotônio Vilela

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